Estilo de Vida

Queridinhos do fast food, canudinhos podem estar com dias contados

Se cada brasileiro utilizar um canudinho de plástico por dia, ao final de um ano teremos consumido mais de 75 bilhões de unidades desse tubinho aparentemente inofensivo tão comumente entregue em padarias, lanchonetes, bares e restaurantes. Nos Estados Unidos, o consumo diário desse produto chega a 500 milhões. Estudos revelam que anualmente 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos têm como destino os oceanos e que até 2050, 99% das aves e animais marinhos já terão consumido esses dejetos. Os dados são da ONU Meio Ambiente.

“Por serem pequenos e leves, os canudinhos chegam facilmente até os mares, onde levam décadas para se degradarem, e são consumidos por animais marinhos como tartarugas e peixes”, afirma Virginia Antonioli, coordenadora de Conteúdo do Instituto Akatu, organização dedicada ao desenvolvimento de estratégias para mudanças de hábitos de consumo. 

Cálculos do instituto alertam para o tamanho do problema. Se colocarmos todos os tubinhos consumidos – apenas no Brasil – na vertical, um seguido do outro, a extensão seria suficiente para ir e voltar da Terra à Lua 20 vezes. 

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Em 2015, um vídeo da bióloga marinha Christine Figgener puxando um canudinho plástico de mais de 10 cm da narina de uma tartaruga-marinha viralizou na internet e embrulhou o estômago de milhões. A indignação estimulou iniciativas no sentido de banir a praga dos tubinhos. No Brasil, uma campanha da ONU Meio Ambiente lançada em junho de 2017 em parceria com o governo prevê abrir uma consulta pública neste semestre com foco na redução do uso de plásticos descartáveis. O resultado deve servir de base para o Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar.

“Esse documento pode resultar em uma regulamentação genérica, que trate do uso do plástico de modo geral, ou contemplar questões mais pontuais, como a dos canudinhos”, diz Fernanda Daltro, coordenadora da Campanha Mares Limpos no Brasil da ONU Meio Ambiente. “Vai depender da participação da sociedade nesse debate.”

Para a coordenadora da ONU, é preciso que a sociedade se faça um questionamento. “Os canudinhos descartáveis são utilizados  em larga escala, poluem os oceanos, matam animais e são desnecessários. Por que precisamos continuar a consumir isso?”

Iniciativas estão chamando a atenção para o problema, mas ainda não é o bastante, afirma Mariana Corá, do programa Mata Atlântica e Marinho, do WWF-Brasil. “Falta uma participação mais ativa de diversos setores da sociedade, como a indústria.”

Outra praga que anda junto com os canudinhos são as embalagens de plástico ou papel. Mas, diferentemente do que muitos pensam, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), não há uma regulamentação que obrigue que esses produtos sejam embalados um a um. Órgãos de vigilância sanitária dos estados e municípios podem decidir. Em São Paulo, segundo a prefeitura, uma portaria orienta que sejam armazenados de forma organizada, mas não cita embalagens individuais.

Movimento anticanudinho pelo mundo

O movimento anticanudinho está ganhando força em diferentes partes do mundo. No Reino Unido um plano do governo já previa o fim dos canudinhos até 2042, mas  uma consulta pública será aberta para que a população possa decidir também sobre a proibição da venda de cotonetes e outros acessórios plásticos como colheres de café, talheres e embalagens.

O governo escocês decidiu acelerar o processo e acabar com os canudinhos até 2019, anunciando ainda a proibição da produção e venda de cotonetes de plástico, itens mais descartados nas praias.

Nos EUA, a organização Lonely Whale Foundation (Fundação Baleia Solitária) optou pelo bom humor na luta contra os tubinhos indesejáveis. A campanha Strawless Ocean (Oceanos sem Canudos) bombou na rede com a hashtag #StopSucking. Para quem não entendeu a piada, em inglês, o verbo suck tem duplo significado, se refere a chupar e encher o saco. Na Califórnia, um projeto de lei pretende punir funcionários de restaurantes que ofereçam canudos aos clientes com multas ou a até prisão, de acordo com o canal de noticias de gastronomia da Vice, o Munchies.

No Brasil, a WWF, que trabalha com o tema desde 2015, lançou no fim de 2017 a campanha “Neste verão, dispense o canudinho”. Outra iniciativa vem da Tetra Pak. A empresa anunciou que irá desenvolver canudos de papel para suas embalagens até o final deste ano. 

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