Nos EUA, a inocência no Halloween morreu – quanta ironia. Atualmente tudo se resume a próteses horríveis que poderiam ter sido retiradas do figurino de filmes como os da série de terror “Jogos Mortais”, tamanho o seu realismo – ou macacões de borracha e figurinos de enfermeiras zumbis que antes só poderiam ser vistos em na seção de esquisitices e fetiches de lojas adultas.
No entanto, embora os adultos gostem de condenar a juventude de hoje em dia como pessoas que praticam bullying na internet e depravados, eles não são realmente responsáveis pela transformação da data em pornografia.
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“Não é impulsionado por crianças de quatro anos”, ri ironicamente Lesley Bannatyne, especialista em Halloween e escritor. “Nós [adultos] temos saturado a festa com sangue, decotes e saias curtas.” O ponto de virada foram os anos setenta. Não contente com a introdução na sociedade de valores questionáveis, e a popularização do poliéster, a era também trouxe seu estilo subversivo para o Dia das Bruxas.
“Depois das revoluções sociais, os adultos olharam nostálgicos para o Halloween e transformaram a festa em mais do que um feriado de horror, particularmente depois de 1978 com o filme “Halloween”, de John Carpenter”, explica o escritor de “Halloween Nation. Behind the Scenes of America’s Fright Night” (Nação Halloween. Nos bastidores da Noite do Susto da América“, em livre tradução do inglês).
Os arrepios foram adaptados e se tornaram mais palatáveis para o gosto dos adultos. Como as crianças, as gerações mais velhas têm necessidade de desenvolver sua imaginação assustando os outros e “o sangue é resultado da nossa imaginação – a morte é mais interessante quando é violenta”, diz Joseph Nagy, professor de Humanidades na Universidade da Califórnia e especialista em superstições e folclore.
Mudanças
A divisão do Halloween entre jovens e adultos é agora superada nas varandas das casas onde os pais mudaram de papéis e passaram de apoiadores marginalizados vestidos com roupas comuns para os protagonistas em trajes ensanguentados ao lado de sua prole na hora de propor “gostosuras ou travessuras”.
“Halloween é a comunidade de espírito”, insiste Bannatyne, um pouco como os corais de Natal, porém, mais harmonizados. “As crianças costumavam passar nas casas sozinhas, mas nos últimos 10 anos, passaram a ser acompanhados pelos pais”, explica o autor que está se preparando para um numeroso encontro macabro neste 31 de outubro.
Os adultos estão tão envolvidos agora, quanto as crianças. Nagy explica que “os mais velhos têm a oportunidade de decorar a casa e assustar os outros”. Ele vê como uma noite de “diversão dentro das regras”, dizendo que a ideia de “Gostosuras ou Travessuras” é a domesticação dos dias modernos da zombaria – em vez de fazer “travessuras” com as pessoas, os jovens pedem guloseimas”.
Violência real?
“Sempre vi o Halloween como algo pretencioso, satírico e bem-humorado. Há uma grande diferença entre este feriado e violência na vida real“, diz Bannatyne, que acredita que os elementos sinistros derivam de mitos urbanos, como as lâminas de barbear escondidas nas maçãs ou o psicopata à espera de crianças.
No entanto, o aspecto mais controverso de tudo é a ostentação dos figurinos, que estão mais ousados. Desde a era vitoriana, as fantasias têm denominado grupos de marginalizados, como vagabundos e ciganos, que mais tarde chegaram ao mundo das celebridades – Charlie Chaplin é um exemplo precoce.
Irene Blair, professor associado de psicologia e neurociência em Boulder, esclareceu a questão em artigo no jornal americano The Denver Post, afirmando: “Acho que a linha tênue está nos estereótipos e o que eles fazem com as pessoas – como você usa o estereótipo».
Assim, até mesmo uma bruxa poderia ofender wiccanos (uma forma de paganismo moderno). “O Halloween é um potente cocktail para os adultos”, adverte Bannatyne, que só poderia deixá-lo ofensivamente bêbado e vestido – o que é um pesadelo.