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‘Habilidade de desenhar a vida é fundamental’, diz Sandra Chemin, fundadora da Futureyou

Sandra Chemin, 48 anos, é uma navegadora do futuro, como ela mesma gosta de se definir. Não só porque vive a maior parte do ano na Nova Zelândia, país a 15 horas a frente do Brasil. Mas, principalmente, pelo trabalho que realiza ajudando pessoas e empresas a se adaptar às novas tendências por meio da plataforma de consultoria que criou, a Futureyou. Antes de alcançar a visão privilegiada do que está por vir, precisou se reinventar muitas vezes, em uma jornada de 18 anos que inclui abandonar uma carreira de sucesso e navegar com a família por 30 países. Sandra conversou com o Metro Jornal sobre as transformações no trabalho e as formas de nos adaptarmos a ele.

Como você vê as estruturas de trabalho hoje? Como é o trabalhador do futuro?
A gente vive mudança significativa do trabalho por muitos motivos. Primeiro porque hoje em dia cada vez mais pessoas buscam significados. Se eles não existem, principalmente para as gerações futuras, não há engajamento. Só 13% das pessoas se dizem engajadas em seus trabalhos atualmente. As outras 87% têm diferentes níveis de desengajamento. A terceira coisa forte é uma mudança tecnológica exponencial, que traz a automação. Pensando no que já existe, milhões de pessoas vão ficar sem trabalho no mundo. Porteiro eletrônico, carros sem motoristas, isso tudo é tecnologia já do presente. Se olharmos para onde tudo isso está indo, em pouco tempo vamos chegar onde as máquinas começarão a aprender. E aí elas estarão no emprego do advogado, dos médicos. Se olhar só o hoje, as pessoas estão desengajadas. Elas querem significados. E a tecnologia está trocando trabalhadores. Então o que significa ser humano hoje? Para mim, esse processo é forte, algo que vejo há muitos anos. O mais importante não são as novas profissões e as que vão desaparecer, porque isso vai mudar o tempo todo. Hoje, é fundamental a habilidade de desenhar nossa vida. A gente usou muita inovação nos negócios e agora está na hora de usar para inovar na nossa vida.

O que é essa habilidade de desenhar a vida?
Trabalho com inovação a vida toda. Fundei a primeira agência digital do país. Sempre trabalhei com negócios pioneiros e inovadores. Tive transformação pessoal grande. Vendi minha empresa e chegou o momento que fiquei grávida e meu marido teve diagnóstico de câncer. Ele teria apenas mais dois anos de vida. Quatro meses depois, descobrimos que o diagnóstico estava errado. Mas nossa transformação interna já tinha acontecido. Fomos atrás do sonho dele de velejar, isso há 18 anos. Fundei uma escola desenhada para não ter donos, comandada pela comunidade, que tem 14 anos utilizando o método Waldorf. Moro na Nova Zelândia. Passei por uma transformação muito grande. Comecei a contar como aprendi a desenhar minha vida. Primeiro é preciso escolher o estilo de vida que se deseja para depois ver o trabalho que se encaixaria. Muitas pessoas vieram me procurar pedindo ajuda para mudar também ao ouvir minha história.

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Que dicas você daria para quem quer passar por esse processo?
Acho que a primeira coisa é olhar para fora. A primeira lição que aprendi foi essa. É preciso olhar as diversas outras formas de viver que existem no mundo. Muitas pessoas não vêm isso porque olhamos o mundo a partir da nossa visão. Primeiro passo é ampliar o olhar para outras coisas, sair da sua zona de conforto. Depois, olhe para dentro e tente entender o que te leva a realizar suas escolhas. O que o trabalho significa para você. Aos poucos, você desenha o que quer. Experimente. Mas o primeiro passo é querer. Querer ampliar e despertar. Depois procure algo que seja importante desenvolver. Esta é uma habilidade que vai mudar constantemente.

As empresas estão preparadas para esse novo trabalhador?
Acho que nem o mercado está preparado nem a educação. Trabalho preparando as empresas para esse futuro, desenvolvendo as habilidades que elas precisam para esse futuro. É preciso uma evolução exponencial das relações humanas. O impacto no futuro vai ser alto. Digo que as empresas não estão preparadas e os jovens também não estão sendo preparados. A educação privilegia conteúdo num mundo onde as máquinas fazem tudo, então o que é ensinar? Os jovens precisam aprender ética, criatividade.

Como pensar nesses conceitos todos de trabalho num momento de crise e desemprego severos?
Acho que a gente tem que se reinventar. Vai ter menos emprego. Mas temos que ter habilidade de criar o nosso trabalho. Criar a oportunidade de emprego. Muda a forma como se organiza isso tudo. É preciso ir atrás da oportunidade. O emprego vai cada vez menos existir.

Criar o trabalho é necessariamente empreender?
Não só montar sua empresa, mas montar sua vida. Em pouco tempo, mais da metade das pessoas será freelancer. Com menos emprego, vamos empreender cada vez mais. Temos que nos preparar para isso. Pense em que habilidade você precisa desenvolver na sua empresa, quais são as formas de aprender, mesmo continuando no seu emprego. Este é um processo urgente. Não precisa esperar perder ou se desinteressar pelo emprego. O aprendizado não é só na faculdade, é na vida inteira. Seja curioso, vá atrás, aprenda coisas novas. Meu conselho é que esta é a hora de se reinventar. Não é hora de ficar parado, mas de criar a oportunidade.

É possível se reinventar no trabalho estando em qualquer classe social?
Na favela, eles estão muito mais acostumados a viver buscando oportunidades. Estão até mais preparados. Venho de uma família de imigrantes que tiveram que aprender as oportunidades de trabalho. Mas as classes mais baixas precisam ter acesso a isso tudo que está acontecendo. O processo não é exclusivo para quem tem recursos. Mas precisamos ensinar a escolher.

Como superar o medo na hora da mudança?
Se quer dar um passo grande, o medo aparece. É melhor dar passos pequenos. Dê um primeiro que não mude sua vida inteira. Depois de dar um passo, quem sabe não dá dois?

Perfil

  1. Sandra Chemin, 48 anos, é formada em marketing pela USP. Atualmente, é fundadora e consultora da Futureyou.
  2. Atua também como membro da Edmund Hillary Fellowship, onde ajuda a atrair empresários e investidores para criar projetos de impacto global da Nova Zelândia
  3. Faz parte da Espiral, uma rede de empreendedores voltada para novas formas de trabalho
  4. Faz o design de jornadas de aprendizagem no Brasil e na Nova Zelândia pelo South Collective
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