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Quem tem Deus nunca está só

diego-casagrande-colunistaLá estava eu pescando na praia naquele fim de tarde. Entrava o outono. Próximo, havia um senhor de seus sessenta e poucos anos. Aparentava bem mais. Portava uma fina vara de pesca. Barba branca, boné surrado, olhar cansado, vislumbrava o horizonte, impassível. Lá pelas tantas começamos uma conversa compartilhando o chimarrão. Falamos do pouco movimento, da maré, dos peixes, da brisa. Morava ali há muitos anos, sozinho, em uma casa quase à beira mar. Pescar por horas e horas era seu maior prazer, contou-me. Aos poucos, fui descortinando o que havia por trás daquele pescador: uma história de perdas, de sofrimento, mas também de resignação. Aquele homem havia perdido seu único filho em um trágico acidente. Em seguida, uma grave doença levara sua esposa de uma vida toda. Enfim, um tsunami havia se abatido sobre sua existência. Perguntei a ele se não seria melhor estar na cidade, cercado de amigos, com outros recursos para espantar a solidão e com mais atividades para entreter a cabeça. Ele abriu um sorriso, fitou a areia, marejou os olhos e disse: “Quem tem Deus na cabeça e no coração nunca está só.” Um breve silêncio tomou conta. “Passei pelo inferno na terra. Não desejo isso a ninguém. Hoje as coisas estão melhores. Minhas forças foram testadas. Minha fé também. Faço minhas orações, peço a Deus que dê forças a mim e a tantos outros. Nos piores momentos, em que fiquei sem chão, ele sempre esteve lá. E é por isso que estou aqui.”.

E continuou, fitando o mar. “Como te disse, nunca estive e nunca estarei só. Um dia, creio que me encontrarei com meus amados. E talvez também descubra por que estas coisas todas aconteceram comigo. Um dia saberei a razão destes desígnios. De tudo isso, o que sei é que tenho muita saudade. Mas não estou só. Esta é minha única certeza.”

Que força interior! Que grande sabedoria deste homem. Que exemplo de fé, resignação e de uma resistência fantástica!

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Todos já tivemos momentos duros na vida. Uns mais, outros menos. Mas ninguém passa incólume por esta surpreendente estrada. Eu mesmo já vivi momentos em que, tenho certeza, fui resgatado. Caminhei na beira do penhasco, tropecei, estive prestes a cair, mas ele não deixou. A mão divina estava lá e me puxou. Sei disso. Senti isso. Acredito que tudo é passageiro: dinheiro, prestígio, a própria vida. E o que realmente importa é ter fé. Como disse meu parceiro de pesca: “Quem tem Deus nunca está só”.

Diego Casagrande é jornalista profissional diplomado desde 1993. Apresenta os programas BandNews Porto Alegre 1a Edição, às 9h, e Ciranda da Cidade, na Band AM 640, às 14h. Escreve no Metro Jornal de Porto Alegre

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