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Diferença salarial para mulheres na BBC dá “raiva”, diz ex-editora ao Parlamento britânico

Carrie Gracie, funcionária da BBC por mais de três décadas, se diz ‘insultada’ pela forma com que a empresa trata parte de sua equipe feminina.

Em depoimento a um comitê no Parlamento britânico, a ex-editora da BBC na China, Carrie Gracie, se disse «irritada» e «insultada» pela forma como a empresa trata parte de sua equipe feminina e pela forma como respondeu às suas queixas.

Gracie, de 55 anos, que trabalha na BBC há mais de 30 anos, renunciou ao cargo de editora no início do mês como forma de protesto pela desigualdade de seu salário em relação a homens em posições semelhantes.

Durante a audiência no comitê de questões culturais, midiáticas e digitais do Parlamento nesta quarta-feira, ela afirmou que, em resposta à sua queixa, soube que recebia salário inferior a pares do sexo masculino por ser considerada uma profissional ainda «em desenvolvimento».

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A justificativa, argumentou, «foi um insulto adicional ao dano inicial».

«É inaceitável que se fale com uma mulher (em posição) sênior dessa forma. Jamais teria ido à China sob essas prerrogativas. Pedi igualdade salarial desde o princípio», afirmou.

«Eu sinto raiva do que vi e ouvi (a respeito de diferenças salariais) e do que algumas mulheres tiveram que vivenciar.»

O diretor-geral da BBC, Tony Hall, respondeu que a empresa «cometeu alguns erros» e acrescentou «admirar a coragem» de Gracie. Mas afirmou que o sistema interno da BBC para lidar com queixas salariais «funciona» e que a igualdade está «no âmago do que defendemos».

Discrepâncias

Gracie, que havia sido nomeada editora de China em 2013, abdicou do posto quando soube que dois editores internacionais homens da BBC recebiam «ao menos 50% a mais» do que as mulheres.

O caso reforçou uma discussão interna na empresa sobre igualdade salarial, em curso desde o ano passado, quando foi divulgada uma lista de apresentadores que ganham mais de 150 mil libras por ano, revelando algumas discrepâncias entre os salários desses profissionais ou atores dos sexos feminino e masculino.

A ex-editora – que continuará trabalhando na BBC, mas em outro posto – criticou a forma como os executivos da empresa lidaram com sua situação, afirmando que seu caso «está sendo danoso à credibilidade da BBC de modo inaceitável».

«Não estamos, na BBC, no mercado de produção de pasta de dente ou pneus. Nosso ramo é a verdade. Não podemos operar sem a verdade. Se não podemos olhar para nós mesmos honestamente, como poderemos receber confiança para reportar algo com honestidade?»

Ela afirmou que todo o processo de queixa tem sido «muito doloroso».

Ao mesmo tempo, uma auditoria externa feita na empresa e divulgada nesta terça-feira concluiu que não há «discriminação de gênero» nas decisões salariais, mas que a abordagem da BBC está «longe da perfeição» no que diz respeito à definição geral de salários.

Segundo o relatório, há uma diferença salarial de 6,8% entre os gêneros masculino e feminino na equipe de TV da BBC.

Por causa do relatório, a empesa afirmou que vai fazer cortes «substanciais» nos salários de alguns homens e dar promoções tanto para homens quanto mulheres.

Salário menor

Em resposta ao caso de Carrie Gracie, a chefe do departamento noticioso da BBC, Fran Unsworth, explicou que quando ela foi nomeada editora na China, seu salário era, na verdade, maior do que o dos editores de Oriente Médio e América do Norte naquele momento.

«Quando definimos o pagamento de Carrie naquele cargo, não houve qualquer debate sobre gênero», afirmou Unsworth.

Posteriormente, disse, o jornalista Jon Sopel foi nomeado editor de América do Norte da BBC. «Sopel chegou com um histórico salarial diferente», acrescentou.

«Ele havia sido apresentador da BBC One (canal principal) e do (canal internacional) World News. É um ex-editor de política e ex-correspondente em Paris. E ele havia acumulado um salário muito maior do que o de Carrie. Não cortamos seu salário quando o convidamos para ir à América do Norte.»

Unsworth agregou que, além disso, o trabalho na América do Norte era visto como muito mais exigente em termos noticiosos.

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