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Os israelenses que se opoem à decisão dos EUA de reconhecer Jerusalém como capital de Israel

Apesar de recebido com euforia pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, existem israelenses que acreditam que a decisão do governo americano só aumentará a tensão no Oriente Médio; Hamas convocou início da intifada para esta sexta.

Apesar de o controvertido anúncio do presidente Donald Trump ter sido recebido com euforia por muitos da comunidade judaica e comemorado pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, existem israelenses que acreditam ser uma má ideia os EUA reconhecerem Jerusalém como capital de Israel e transferir a embaixada de Tel Aviv para a cidade.

Israel afirma que Jerusalém é sua capital única e indivisível, enquanto palestinos reivindicam que Jerusalém Oriental seja a capital de seu futuro Estado. Ambos alegam razões históricas para fundamentar o pleito.

A decisão de Trump compromete décadas de diplomacia americana, que intermediava um acordo de paz entre árabes e judeus e agora passa a ser visto como um ator sem neutralidade nas negociações. Por isso, o anúncio do presidente americano foi duramente criticado pela comunidade internacional, incluído líderes aliados.

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A maioria dos países apoia a solução de dois Estados para resolver o confronto que se intensificou no início do século 20, com a disputa de judeus e palestinos pela capital Jerusalém.

Na tentativa de manter a neutralidade e não influenciar diretamente o já complicado acordo de paz na região, a comunidade internacional nunca reconheceu a soberania de Israel sobre a cidade. A maioria dos países, por exemplo, estabeleceu representações diplomáticas em Tel Aviv e arredores, mas não em Jerusalém.

À BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, Daniel Seidemann diz não ter dúvidas de que a decisão do presidente dos Estados Unidos será contraproducente por aumentar, potencialmente, a tensão na região.

"Claramente, é uma decisão desestabilizadora", disse Seidemann, que foi assessor do primeiro-ministro israelense Ehud Barak (1999-2001). Ele considera que "israelenses, palestinos e norte-americanos vão estar menos seguros".

"O que é o mais importante para o verdadeiro interesse nacional de Israel? O reconhecimento não resolverá a questão fundamental", acrescenta.

Seidemann é diretor de uma organização não-governamental chamada Terrestrial Jerusalem, que se dedica a identificar o desenvolvimento dos assentamentos em Jerusalém – assentamentos são considerados ilegais pela comunidade internacional, posição que é contestada pelo governo israelense.

Escalada do confronto entre palestinos e judeus

Ele não é o único israelense que teme a escalada do confronto como impacto da decisão de Trump para a região.

"Isso é nada mais nada menos do que o reconhecimento da realidade. Também é a coisa certa a fazer. É algo que tem que ser feito. Com o anúncio reafirmo o comprometimento da minha administração com um futuro de paz", afirmou o presidente americano.

Ayman Odeh, líder do Lista Árabe Unida – um partido de árabes israelenses -, diz não saber precisar o vai acontecer exatamente, mas tende a esperar pelo pior. "De certa forma, é apenas uma questão de tempo para as coisas explodirem. Isso alimenta a desesperança", diz.

"E quando as pessoas se sentem assim, mais delas sentem que não têm nada a perder e alguns podem recorrer à violência", completa Odeh, que descreve Trump como "piromaníaco que poderia incendiar a região com sua loucura". Odeh tem um assento no Knesset, o parlamento israelense .

‘Dia da raiva’

O grupo islâmico Hamas convocou uma nova intifada – termo usado para fazer referência à revolta palestina contra a política de expansão do governo de Israel."

Ismail Haniyeh, eleito líder geral do grupo em maio, pediu que palestinos, muçulmanos e árabes se manifestem contra a decisão dos Estados Unidos. "Deixem 8 de dezembro ser o primeiro dia da intifada contra o ocupante", disse Haniyeh, que chamou esta sexta de "dia da raiva".

Pouco mais de 300 mil palestinos vivem em Jerusalém e representam 37% da população.

A cidade é dividida entre o lado ocidental, que tem maioria judaica e onde está o Parlamento israelense, e o oriental, de maioria árabe, reivindicado pelos palestinos como capital de seu futuro Estado.

Os EUA são o primeiro país a reconhecer Jerusalém como capital de Israel desde a fundação do Estado israelense, em 1948.

"Não me importa ser una minoria"

Eran Tzidkiyahu, de 36 anos, é israelense e nasceu em Jerusalém Ocidental. Rodeado de aldeias árabes, ele se convenceu de que a cidade era uma só.

"É muito difícil entender, é estúpido", disse Tzidkiyahu ao comentar o anúncio de Trump. "Não melhora nada na região. Não vamos atingir um acordo", diz o pesquisador do The Forum for Regional Thinking (Foro para o Pensamento Regional), um centro de análises israelense.

Segundo ele, na prática, a decisão de Trump apenas aumenta a tensão na região, mas não muda em nada a definição de fronteiras nem deve amentar o número de representações diplomáticas em Jerusalém – nem mesmo a embaixada americana tem data para se mudar de Tel Aviv.

O próprio presidente americano diz pediu que a cidade fique aberta para "todas as fés" – cristãos, judeus e muçulmanos veem Jerusalém como o berço de suas respectivas religiões.

"Não vão eliminar nenhum ponto de controle, nenhum assentamento, não haverá um impacto real na vida dos palestinos", diz Tzidkiyahu, que também organiza "tours geopolíticos" por Jerusalém Oriental, onde os árabes são maioria.

Jerusalém, afirma Tzidkiyahu, é "definitivamente parte do problema e deve ser parte da solução". "Falo como israelense e em nome do interesse de Israel: não vejo lógica em que se deem passos que estimulem a violência e a desesperança".

Tzidkiyahu sabe que faz parte de um pequeno grupo de judeus que fala abertamente contra a decisão de Trump. "Não me importa ser uma minoria. Me importa minha integridade intelectual", observa.

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