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Programa social sobrevive à crise na Venezuela

Maestro Gustavo Dudamel reprodução / music.cua.edu

No último dia 3 de maio, o adolescente Armando Cañizales, 17 anos,  tombou morto após ser baleado na cabeça durante protestos contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Ele foi a 34ª vítima fatal dos confrontos entre apoiadores e opositores do governo, de uma lista que já conta com mais de 120 nomes de mortos.

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O assassinato do jovem chamou a atenção do mundo. Ele era um dos violinistas da Fundação Sistema Nacional de Orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela, conhecido como “El Sistema”, programa criado em 1975 para, através da educação musical, oferecer proteção social a jovens carentes e promover sua reabilitação em casos de envolvimento com drogas e práticas criminosas.

Gerido pelo governo, o programa mantém mais de 125 orquestras (sendo 30 sinfônicas) e coros juvenis e é responsável pela educação de cerca de 400 mil estudantes em 180 núcleos distribuídos pelo território.

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A Venezuela, porém, é um país em sérias dificuldades. Há uma crise econômica, provocada pela queda global do valor do petróleo. O mineral responde por cerca de 80% das exportações do país e por mais da metade do orçamento venezuelano.

Há também uma crise política. Com a deterioração da economia, a população passou a cobrar soluções do governo, que, além, de não conseguir oferecê-las, insiste em culpar “o imperialismo dos EUA” pelo sumiço de bens de consumo básicos.   

Surge, então, a pergunta: diante desse frágil quadro político-econômico, como está o programa “El Sistema”? Segundo reportagem publicada pelo jornal britânico “The Guardian”, em novembro do ano passado, mesmo com inflação de 1.000% ao ano e com alimentos e remédios faltando nas prateleiras, o governo, com a maciça ajuda de grupos privados, tem mantido ativas as orquestras espalhadas pelo país.

Em fevereiro deste ano, Maduro anunciou 19,7 bilhões de bolívares venezuelanos (cerca de US$ 196 milhões) para atividades administrativas e acadêmicas da organização até dezembro. O maestro Gustavo Dudamel, ex-aluno mais famoso do “El Sistema”, é o atual diretor da Filarmônica de Los Angeles e um fervoroso defensor do programa.

O êxito do “El Sistema” é tanto, que oito governos venezuelanos consecutivos não pouparam esforços e recursos para mantê-lo em vigor. Independentemente do matiz ideológico, os governantes entendem que os estudantes e as famílias do país realmente acreditam que “El Sistema” tem sido mais necessário do que nunca, pois, além de educar musicalmente, é um projeto social, gratuito, que oferece às crianças necessitadas a oportunidade de escapar das armadilhas da pobreza.

Não há dados oficiais sobre como o programa “El Sistema” já contribuiu para melhorar a sociedade venezuelana. Relatos à mídia internacional, contudo, mostram que as famílias do país apoiam com entusiasmo e orgulho a ideia de tê-lo e de poder fazer parte dele.  

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