A dimensão do pior surto de ebola da história foi mascarada pelas famílias que ocultaram seus parentes infectados em casa e pela existência de “zonas fantasma” onde os médicos não chegam, afirmou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta sexta-feira.
A agência da Organização das Nações Unidas (ONU) informou que o número de mortos chegou a 1.427, um aumento de 77 em relação à última atualização, e o de casos de ebola a 2.615, nos quatro países afetados: Guiné, Libéria, Nigéria e Serra Leoa.
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A OMS emitiu um comunicado detalhando por que a epidemia no oeste da África foi subestimada depois das críticas de que reagiu muito devagar para conter o vírus mortífero, que agora se espalha sem controle.
Um mês atrás, especialistas independentes fizeram questionamentos semelhantes. Segundo eles, o contágio pode ser pior que o relatado porque moradores suspeitos das áreas afetadas estão expulsando agentes de saúde e recusando tratamento.
Os relatos subestimados de casos é um problema especialmente na Libéria e em Serra Leoa. A OMS afirmou estar trabalhando agora com os MSF (Médicos Sem Fronteiras) e o Centro para o Controle e a Prevenção de Doenças dos Estados Unidos para produzir “estimativas mais realistas”.
A chefe do MSF, que exortou a OMS a se empenhar mais, disse à Reuters em entrevista na quinta-feira que a luta contra o ebola está sendo minada por uma falta de liderança internacional e de habilidades gerenciais de emergências.
O estigma do ebola coloca um sério obstáculo para deter o surto na Libéria, Guiné, Nigéria e em Serra Leoa, que tiveram mais vítimas do que qualquer episódio da doença, descoberta quase 40 anos atrás nas florestas do centro africano.
«Como o ebola não tem cura, alguns acreditam que seus entes queridos infectados ficarão mais confortáveis morrendo em casa”, informou a OMS em nota.
«Outros negam que um paciente tem ebola e creem que cuidados em uma ala isolada levará à infecção e à morte certa. A maioria teme o estigma e a rejeição social aos pacientes e familiares quando um diagnóstico de ebola é confirmado».
Muitas vezes os corpos são enterrados sem notificação, disse a OMS, e um problema adicional são as “zonas fantasma”, vilarejos rurais onde há rumores de casos e mortes que não podem ser investigados por causa da resistência da comunidade ou falta de pessoal e transporte.
Em outros casos, onde o tratamento está disponível, os centros de saúde estão ficando lotados de pacientes, sugerindo que há uma quantidade invisível de infectados fora do radar dos sistemas de vigilância oficiais.
A OMS afirmou ter elaborado o rascunho de um plano para combater o ebola no oeste da África nos próximos seis a nove meses.