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Mãe de Isabella lamenta soltura de Alexandre Nardoni: “Leis são muito brandas, há muitas brechas”

Condenado pela morte da filha, ele obteve progressão para regime aberto e já deixou presídio; MP recorreu

Homem foi solto no último dia 6 e segue em regime aberto
Mãe de Isabella questiona liberdade de Alexandre Nardoni sem realização do Teste de Rorschach, como fizeram outros condenados famosos (Reprodução)

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Ana Carolina de Oliveira, mãe da menina Isabella Nardoni, que foi morta aos 5 anos e jogada de um prédio, em São Paulo, lamentou a concessão de regime aberto ao pai da garota, Alexandre Nardoni, que foi condenado pelo assassinato. Após passar por um teste criminológico, ele deixou a Penitenciária de Tremembé, no interior paulista, na última segunda-feira (6). O Ministério Público recorreu da soltura.

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“Fico com a impressão de que o crime compensa em nosso país, pois as leis são muito brandas, há muitas brechas para redução de pena e liberdade antecipada. Não entra na minha cabeça um criminoso que matou a própria filha ser condenado a 30 anos e sair da cadeia tendo cumprido pouco mais da metade. Enquanto isso, eu fico presa num sentimento de saudade da minha filha”, lamentou Ana Carolina, em entrevista ao jornalista Ulisses Campbell, que assina a coluna “True Crime”, do jornal “O Globo”.

Alexandre, que foi condenado a 30 anos, 2 meses e 20 dias de prisão, cumpriu no último dia 6 de abril o “lapso temporal” necessário na prisão para a progressão para o regime aberto. Assim, a defesa dele entrou com um pedido, mas a Justiça determinou que ele passasse por um exame criminológico. O detento atendeu e passou pela análise, quando obteve parecer favorável para ser colocado em liberdade.

O MP-SP se posicionou contrário à medida, argumentando o fato de que ainda falta muito para a conclusão da pena e também o fato do homem nunca ter admitido ter matado a filha.

Apesar dos argumentos da Promotoria, a Justiça acatou o pedido da defesa e concedeu o regime aberto. O juiz levou em conta a avaliação do sistema penitenciário, que o classificou como “lúcido, cooperativo e globalmente orientado”.

Contou a favor do condenado também o fato de ter boa conduta carcerária, não ter falta disciplinares e ter cumprido mais da metade da pena, usufruindo das saídas temporárias e retornado ao presídio nas datas determinadas, “preenchendo assim os requisitos objetivos e subjetivos exigidos pela lei”.

O MP-SP recorreu da soltura, sugerindo a aplicação do Teste de Rorschach, pois assim a Justiça teria mais elementos e verificar se, de fato, ele pode voltar a conviver em sociedade. A Promotoria ressaltou no recurso “que Nardoni praticou crime hediondo bárbaro ao matar a filha de 5 anos, demonstrou frieza emocional, insensibilidade acentuada, caráter manifestamente dissimulado e ausência de arrependimento.”

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O pedido do MP-SP foi protocolado na última segunda-feira junto ao Departamento Estadual de Execução Criminal em São José dos Campos, interior paulista. Não há previsão de quando ele será analisado.

Enquanto isso, a mãe de Isabella tem que lidar com o sentimento de injustiça. “Vou continuar lutando para acabar com as saidinhas, com essas progressões de pena que só trazem dor aos familiares das vítimas, como acontece comigo (...) Na verdade, queria saber por que ele saiu da cadeia sem fazer o Teste de Rorschach, já que outros criminosos fizeram e até perderam a liberdade porque foram reprovados. De onde vem todo esse privilégio?”, disse Ana Carolina.

Nova vida após liberdade

Após deixar a penitenciária, Alexandre seguiu para São Paulo, onde deve cumprir o restante da pena morando na casa de seus pais, na Zona Norte da Capital. Ele também deverá trabalhar na empresa Maarc Empreendimentos e Participações LTDA, de propriedade do genitor, cuja atuação é na área de construção civil.

Além disso, ele deve voltar a conviver com Anna Carolina Jatobá, que também foi condenada pela morte de Isabella e cumpre pena em regime aberto desde junho de 2023. Durante o exame criminológico, Alexandre ressaltou que os dois seguem casados.

Logo após a soltura, o advogado Roberto Podval disse ao G1 que a decisão da Justiça foi “irretocável”, já que “se não pensarmos na ideia de reabilitação, a pena terá um efeito perverso”.

Morte de Isabella

Isabella Nardoni tinha cinco anos quando foi jogada pelo pai e pela madrasta da janela de um apartamento que ficava no sexto andar do Edifício London, no dia 29 de março de 2008, segundo a Justiça.

Inicialmente eles alegaram que foi uma queda acidental, mas a investigação apurou que a criança apresentava marcas de que tinha sido agredida e morta antes de ser arremessada.

O Ministério Público destacou durante o julgamento do casal que as provas periciais obtidas pela Polícia Civil não deixavam dúvidas sobre a autoria do assassinato. A acusação destacou que a madrasta esganou Isabella e, em seguida, o casal cortou a tela de proteção da janela e o pai jogou o corpo da criança.

Assim estaria Isabella Nardoni, com 19 anos, se ainda estivesse ainda
Isabella Nardoni tinha 5 anos quando foi morta e jogada de prédio, em SP Reprodução

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