Relatório divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontou que a retomada da educação no Brasil em meio à pandemia do novo coronavírus será dificultada em função do excesso de estudantes por sala e porque as escolas do país ficaram fechadas por mais tempo do que a média.
A soma desses fatores vai impactar na aprendizagem e no desenvolvimento das habilidades dos brasileiros, de acordo com a entidade.
O relatório avaliou as consequências da paralisação das escolas de março a junho nos 38 países que formam a OCDE – a maior parte deles ricos – e outras oito nações.
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Sobre o Brasil, a OCDE pontuou que “no final de junho, o país havia experimentado 16 semanas de fechamento efetivo das escolas de alguma forma, em comparação com 14 semanas em média dos países da OCDE.”
O outro gargalo é o excesso de estudantes por sala. A média brasileira é de 23 alunos nos anos iniciais do ensino fundamental e de 27 nos anos finais. O índice é mais elevado do que a média dos países da OCDE: 21 e 23, respectivamente.
Para a entidade, “países com turmas menores podem achar mais fácil cumprir as novas restrições de distanciamento social”.
O relatório também fez considerações sobre o impacto da educação no mercado de trabalho. A entidade reafirmou que os estudantes mais vulneráveis têm dificuldades para acompanhar aulas remotas e lembrou que empregados com ensino superior recebem salários mais elevados dos que aqueles que têm até o ensino médio. No Brasil, essa diferença é de até 144%.
Secretário estadual da Educação de São Paulo, Rossieli Soares disse que em 2009, na pandemia de H1N1, as escolas fecharam por duas semanas e que a queda na aprendizagem de matemática naquele ano foi de 5,4% nos alunos do 5º ano. “A gente está estimando que nesse ano podemos perder até 60% e que a dificuldade para recuperar será ainda maior.”
Volta parcial
As escolas começaram a ser reabertas ontem para os alunos em cidades paulistas, mas apenas para reforço escolar, atividades esportivas e para o acompanhamento das aulas remotas. A participação é opcional e depende de aval das prefeituras. Das 5,5 mil escolas estaduais, 200 reabriram ontem
‘Impactos não serão resolvidos em 2021’
A pandemia do novo coronavírus está aprofundando as desigualdades de aprendizagem que já existem no país e vai exigir mais ações das autoridades para evitar a evasão escolar. A avaliação é do coordenador de projetos do Todos pela Educação, Ivan Gontijo.
Segundo o professor, a diferença na aprendizagem de um aluno de família rica na comparação com outro de família pobre é de até três vezes no Brasil. “Essa desigualdade só vai se aprofundar se não pensarmos em políticas públicas para não deixar nenhum estudante para trás.”
Sobre os impactos que associam a educação e o mercado de trabalho, observados pela OCDE, Gontijo destacou que um dos desafios será conter a evasão escolar – outro efeito esperado no pós-pandemia.
“O ensino remoto quebrou o vínculo com a escola, sobretudo com os estudantes mais pobres. Com a crise econômica, muitos poderão ter que procurar emprego para contribuir no orçamento de casa. Teremos dificuldades para garantir que todos retornem para a escola e isso pode afetar na renda dessas pessoas pela vida inteira. Os impactos da pandemia não serão resolvidos só em 2021. São de longo prazo.”