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Ensino superior privado deve ter evasão de 3,19 milhões de alunos em 2020

O ensino superior privado é mais um dos setores prejudicados pela pandemia de covid-19 – doença causada pelo coronavírus Sars-CoV-2. De acordo com o Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior), 3,19 milhões de alunos devem trancar a matrícula ou desistir do curso até o fim do ano no Brasil.

A evasão é 10% maior do que 2019, quando 2,9 milhões interromperam os estudos. Beatriz Reis, de 19 anos, cursava o terceiro semestre de Arquitetura e Urbanismo, porém foi obrigada a parar por dois motivos: falta de dinheiro e de adaptação às aulas online.

«Eu vi muita diferença da aula presencial para online. Ainda segurei uns dois meses tentando entender, mas a aula online estava muito complicada para mim. Logo que a pandemia começou, meu contrato acabou e, também por causa da pandemia, não me efetivaram», afirma Beatriz. A estudante pretende retornar somente quando as aulas forem presenciais, assim como metade dos 70 alunos da sala dela, que também trancaram o curso.

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Situação preocupante no país

Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), apenas 21% dos brasileiros de 25 a 34 anos têm ensino superior completo – entre os jovens de 18 a 24 anos o índice é pior. O diretor-executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, reforça a preocupação com os dados e acrescenta um novo, relacionado à pesquisa feita pelo sindicato com 2.500 alunos durante a pandemia.

«40% dos alunos reportaram que foram impactados pela pandemia. Seja porque foram demitidos, seja porque tiveram o contrato de trabalho suspenso. Então, o impacto para o Brasil no futuro é muito grande, porque o desenvolvimento de um país está diretamente ligado à capacidade do seu capital humano. São prejuízos incalculáveis», disse.

Problemas com aulas online

Já Luiz Felipe, estudante do 8º semestre de Jornalismo, não trancou a faculdade, mas reclama da qualidade do sistema de aulas online e da falta de interatividade com o professor diante das salas virtuais lotadas. «Eles uniram turmas de todos os campus e agora, a gente tem aula com mais de 300 alunos, sendo que a média é de 40 por turma. Além disso, não tem organização ou um sistema que possa sanar nossas dúvidas e dar um atendimento individualizado», conta.

O estudante conta que muitos funcionários e professores foram demitidos, prejudicando a avaliação e o andamento do TCC, porém, o valor da mensalidade continuou igual.

A quem recorrer?

O presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, José Pablo Cortes, explica o que pode ser feito se a faculdade quiser estender o curso por mais um semestre e cobrar por isso. «Se há necessidade de estender o curso porque a instituição de ensino aceita que não deu o curso nos moldes que ela deveria ter dado, como estava contratado, faltando prática profissional ou de laboratório, não vejo como justo cobrar esse tempo a mais porque, na verdade, está suprindo algo que já foi pago antes», explica.

O especialista ainda afirma que o mais garantido é buscar um acordo direto com a faculdade, pois ainda não há uma definição clara sobre esses casos na Justiça.

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