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Mesmo na quarentena, mortes de motociclistas não caem em São Paulo

Para especialista, aumento de entregadores por aplicativo e ruas mais vazias justificam estabilidade

Mesmo com a pandemia de covid-19, a cidade de São Paulo registrou, entre abril e julho deste ano, número igual de mortes de motociclistas em acidentes de trânsito comparado ao ano passado. Segundo o InfoSiga, sistema do governo estadual, foram 92 óbitos em cada período, mesmo com a redução expressiva de veículos em circulação na capital paulista desde o início da quarentena.

Dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) obtidos pelo Metro Jornal mostram que, frente a 2019, a média de trânsito no município em abril chegou a cair 97%. Desde então, a cada mês, o número de veículos aumenta – no mês de julho, a cidade já retomou um terço do congestionamento registrado no ano passado.

Sérgio Ejzenberg, mestre em Engenharia de Transportes pela USP (Universidade de São Paulo), indica fatores que podem justificar a estabilidade de mortes de motociclistas. Um deles é o aumento expressivo de entregadores de aplicativos, reflexo da crise financeira, que usam a moto como instrumento de trabalho.

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“Ainda que tenha caído o número de pessoas usando motocicletas para se locomover, houve um aumento de motociclistas fazendo entregas. Então seguiu praticamente o mesmo número.” Para o especialista, o ritmo de trabalho dessa categoria, somado às ruas mais vazias, aumenta o risco de acidentes.

“Há uma pressão por produtividade que acaba levando a abusos como excesso de velocidade, manobras perigosas e desrespeito às leis de trânsito. É preciso que empresas e o poder público procurem maneiras para diminuir essa pressão, como uma remuneração melhor aos trabalhadores e um aumento da fiscalização”, explica Ejzenberg.

Também em duas rodas, o número de mortes de ciclistas no trânsito de São Paulo foi o mesmo entre abril e julho – 9 em cada ano. “O cenário é igual, mas neste caso é importante que se façam mais ciclovias interligando as grandes avenidas.”

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Pedestres morreram menos

Considerando todas as mortes por acidentes de trânsito na capital paulista, houve queda de 20,6% – foram 220 entre abril e julho de 2020, ante 277 no mesmo período do ano passado. A redução foi mais expressiva entre pedestres, que lideravam em casos em 2019 (136 óbitos) e foram superados por motociclistas neste ano (74 mortes) – redução de 45,6%.

“Nos primeiros meses de quarentena, as ruas ficaram vazias, se comparado ao normal. Quando você tem menos pedestres, tem menos exposição e, consequentemente, menos atropelamentos”, diz Sergio Ejzenberg.

As vítimas fatais que estavam em carros no momento dos acidentes, sejam motoristas ou passageiros, caíram 28,2% – foram 28 nos quatro meses de 2020, contra 39 entre abril e julho de 2019.

Dados sobre todas os óbitos seguem similares: a cada 10 mortos, nove eram homens; a maioria perdeu a vida já no hospital e mesmo dia do acidente; o maior número de óbitos eram de pessoas entre 18 e 44 anos, com destaque para a faixa etária de 18 a 24 anos.

O que diz a prefeitura?

Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirma que trabalha no Plano de Segurança Viária, que já resultou em uma redução de 18,9% nas mortes de motociclistas em acidentes de trânsito entre 2018 e 2019. “O mais importante para um trânsito seguro é que a população tenha consciência de que a mudança de comportamento e o respeito às leis salvam vidas e reduzem acidentes.”

Entre as ações realizadas estão a restrição das motos na pista expressa da marginal Pinheiros, sentido Castello Branco; a fiscalização com o radar pistola móvel (os radares fixos são ineficazes para o flagrante de excesso de velocidade); e a realização de blitze educativas e cursos de pilotagem segura, hoje disponíveis a distância.

Sobre os dados do InfoSiga, a CET aponta que usa uma metodologia diferente, mas que os números são uma “forma de contribuição para reforçar a análise e aperfeiçoar o planejamento.” Já sobre motoristas de aplicativo, a prefeitura disse que trabalha, desde o ano passado, com as empresas responsáveis em medidas de segurança voltadas aos autônomos. “Elas assumiram o compromisso de não realizar práticas que destinem aos motociclistas valores extras por rapidez ou volume de entregas em determinado intervalo de tempo.”

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