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Cidades do ABC se antecipam ao estado e já descartam aulas presenciais em 2020

Mesmo que o estado de São Paulo se mantenha na fase amarela por 28 dias consecutivos e as aulas presenciais recebam o sinal verde para voltar no dia 8 de setembro, ao menos seis dos sete municípios que compõem o ABC paulista não pretendem seguir o calendário.

Em Santo André, Mauá, Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires, os prefeitos já anunciaram até que a reabertura das escolas na rede pública municipal está totalmente descartada no ano letivo de 2020. Diadema e São Bernardo do Campo caminham na mesma direção.

A decisão em Santo André, segundo comunicado oficial, tem por base consulta pública que ouviu mais de 21 mil pais e responsáveis – 94% se declararam contrários à retomada. O município registra 11.743 casos e 379 óbitos pelo novo coronavírus, com taxa de letalidade de 3,23%.

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«Ainda não há por parte dos pais e mães segurança para o retorno das aulas presenciais. Estamos criando ferramentas para que as alunos possam ter acesso ao conteúdo pedagógico, sem presença em sala», explicou pelas redes o prefeito Paulo Serra (PSDB).

A Prefeitura de Rio Grande da Serra foi pelo mesmo caminho: 80% dos pais e responsáveis não querem a volta das aulas presenciais Na segunda-feira, o boletim epidemiológico da cidade apontava 341 pessoas contaminadas e apenas 17 óbitos pela covid-19.

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«O isolamento social ainda é a atitude mais eficiente para evitar o alastramento da pandemia. Quando falamos em 200 mil alunos na rede municipal, significa um universo de mais de 800 mil cidadãos, se considerarmos quatro pessoas por família. A atitude é ríspida, mas responsável», disse ao Estadão o prefeito Gabriel Maranhão (Cidadania).

A preocupação pelo risco de poderem transmitir o vírus aos familiares é um dos principais motivos citados pelos prefeitos. Em Mauá, mesmo com os «baixos índices de evolução da doença» – apenas 2.082 casos e 207 mortes -, o prefeito Átila Jacomussi (PSB) disse em nota que está «em desacordo com o Plano São Paulo» e pediu que o governo do Estado crie protocolos diferentes para as redes pública e privada.

«Se eu pudesse dar um conselho ao governador, seria o de suspender tudo», comenta Átila. Ele lembra que seu município tem um agravante: muitos servidores estão acima dos 60 anos ou têm comorbidades. «A nossa merenda é própria, não terceirizada, e cerca de 30% a 35% da rede de merendeiras estaria inapta a voltar», observa, acrescentando que 98% dos pais e responsáveis ouvidos não querem o retorno tão cedo.

Contraproducente

Mesmo as cidades do ABC ainda sem uma previsão exata de volta às aulas presenciais, como Diadema e São Bernardo do Campo, já indicaram que não devem seguir o calendário do governo. Em Ribeirão Pires, cerca de 82% dos pais já se declararam contrários ao retorno presencial.

«Entendemos que voltar no dia 8 de setembro para ter dois ou três meses de aulas é contraproducente e totalmente inviável, diante de todo o tempo que as crianças ficaram fora da sala de aula», argumenta o prefeito Kiko Teixeira (PSDB). Para ele, a maior preocupação vem da rede privada, que teme uma grande evasão para instituições de cidades vizinhas, por pais que não têm onde deixar os filhos no momento.

Para ele, o foco atual é pensar como recuperar, em 2021, o tempo e aprendizado perdidos este ano. «Não podemos deixar que as crianças sejam estigmatizadas como a ‘geração da covid’.» Ele considera adotar aulas de reforço e período integral no ano que vem.

Em São Bernardo do Campo, o prefeito Orlando Morando (PSDB) admite a possibilidade de retorno em outubro, dependendo do que disser o inquérito epidemiológico da cidade. «Mas não abriremos mão de segurança dos profissionais e da escola», declara.

Segundo ele, «não é responsável acabar com o semestre agora, sabendo que a epidemia não é estática». «Se há uma pressão à qual eu não vou ceder é a de garantir a preservação das vidas.» Em São Caetano, José Auricchio Junior (PSDB) também é categórico ao descartar o retorno em setembro.

«Não temos condições sanitárias para isso, pois precisamos criar uma série de medidas que estarão em um plano próprio» – que, segundo ele, «vai abordar de questões jurídicas a administrativas». Ele se preocupa com a ideia de tratar os alunos do ensino básico e do médio com a mesma régua, «o que não é o correto».

Apesar da queda geral nas receitas, todos os prefeitos ouvidos se comprometeram a manter o auxílio alimentar para alunos da rede pública, decisivo para quem sempre contou com a merenda escolar. «A epidemia social também é muito crítica. O impacto fiscal é gigante, mas a covid é a prioridade absoluta», afirma Auricchio. «Não se faz economia sem vida e minha decisão é pela vida», reforça Jacomussi, de Mauá.

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