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Sergio Moro anuncia saída do governo e acusa Bolsonaro de ‘interferência política’ na PF

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, renunciou ao cargo na manhã desta sexta-feira (24) em pronunciamento na sede da pasta, em Brasília.

Sua saída ocorre após a exoneração do diretor-geral da PF (Polícia Federal), Maurício Valeixo – publicada na última edição do Diário Oficial da União. O decreto é assinado pelo presidente Jair Bolsonaro e por Sergio Moro, e afirma que a decisão ocorreu “a pedido”. Moro negou ter assinado o documento e disse que descobriu a confirmação da exoneração ao ler o Diário Oficial.

«O presidente passou a insistir também na troca do diretor-geral. O grande problema de realizar essa troca é que haveria uma violação da promessa de carta branca e em segundo lugar não haveria causa para essa substituição e estaria ocorrendo uma interferência política na Polícia Federal», afirmou na coletiva. «O problema é por que trocar? E permitir que seja feita a interferência política no campo da Polícia Federal.»

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Moro acusou ainda o presidente Jair Bolsonaro de exonerar Valeixo por interesses pessoais. “O presidente me disse, mais de uma vez, que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, obter informações, relatórios de inteligência. E realmente não é o papel da Polícia Federal de prestar esse tipo de informação, elas devem ser preservadas.”

«Não tendo uma causa consistente e percebendo que essa interferência política pode levar à relações impróprias entre o diretor-geral e entre os superintendentes com o presidente da República é algo que eu realmente não posso concordar. Eu vou começar a empacotar as minhas coisas e vou providenciar o encaminhamento da minha carta de demissão. Eu não tenho como persistir com o compromisso que assumi sem as condições de trabalho e sem preservar a autonomia da Polícia Federal. Ou sendo forçado a sinalizar uma concordância com uma interferência política na Polícia Federal cujos resultados são imprevisíveis.», justificou Moro.

Pela rede social Twitter, Bolsonaro reafirmou que a nomeação do Diretor-Geral da Polícia Federal é de responsabilidade do presidente da República, segundo o artigo 2º da lei 9.266/96.

Na quinta-feira (23), o jornal “Folha de S.Paulo” noticiou que Moro havia pedido demissão após ser informado sobre o desligamento de Valeixo. O diretor-geral da PF havia sido escolhido pelo ministro para o cargo e era considerado seu braço direito. Eles trabalharam próximos durante a operação Lava Jato.

Nos bastidores, avaliação de aliados de Sergio Moro é de que o presidente Jair Bolsonaro atropelou o ministro ao publicar a exoneração. Durante a quinta, ministros da ala militar do governo tentaram convencer Moro a seguir no cargo, sem sucesso.

Conhecido pelo trabalho como juiz federal a frente da operação Lava Jato, Sergio Moro aceitou o convite de Bolsonaro para se tornar ministro da Justiça e Segurança Pública, chamado de «superministério» pouco depois do segundo turno das eleições, em 2018.

«O que foi conversado é que nós teríamos um compromisso com o combate à corrupção, crime organizado e a criminalidade violenta. Foi me prometido na ocasião carta branca para nomear todos os assessores, como na Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal», afirmou Moro.

No começo da coletiva, Moro revelou ainda uma condição, até então omitida, para aceitar a posição no governo federal. «Não ia revelar, mas agora manter o segredo não faz mais sentido. Eu disse que, como estava abandonando 22 anos da magistratura, contribuí 22 anos da previdência, e perdia saindo da magistratura. Pedi que a minha família não ficasse desamparada sem uma pensão. O presidente concordou com essa condição.»

Durante a gestão, porém, ele sofreu derrotas, quando seu projeto de Lei anticrime enfraquecido no Congresso. Outro episódio marcante foi a intervenção de Bolsonaro ao trocar a chefia da PF no Rio de Janeiro, em agosto do ano passado.

Com a divulgação da série de reportagens “Vaza Jato”, do portal “The Intercept Brasil”, Moro foi questionado quanto ao seu trabalho como juiz na operação Lava Jato. O veículo divulgou mensagens que o acusam de imparcialidade na condução do caso. Entre os parceiros que divulgaram reportagens da “Vaza Jato” está o jornalista Reinaldo Azevedo, da rádio BandNews FM.

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