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Mobilidade: Bikes e patinetes ocupam São Paulo com modais sustentáveis e saudáveis

João Benz

Um burburinho colorido, silencioso e ligeiro de bicicletas e patinetes, que transportam pessoas dos mais variados perfis e idades. Esse é o cenário recente da cidade de São Paulo, que vem, nos últimos três anos, mostrando uma grande evolução da mobilidade ativa e sustentável, especialmente nas regiões centrais.

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A ciclovia da avenida Faria Lima é símbolo dessa nova ocupação, muito bem-vinda. O principal corredor cicloviário de São Paulo, que liga o Parque Villa-Lobos, na zona oeste, ao bairro da Vila Nova Conceição, na zona sul, chega a ter fila nos horários de pico. Mas essa fila anda… Não se compara à situação da avenida coalhada de carros, uma das mais lentas da cidade.

De acordo com dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), são cerca de 10 mil ciclistas que passam pela ciclovia por dia. O crescente movimento comprova a ideia de que basta oferecer infraestrutura que as bicicletas aparecem. Como explica a urbanista espanhola Irene Quintáns, o ideal é fazer o sistema cicloviário por oferta, não por demanda. “Você não coloca ciclovia porque ali tem muito ciclista, você coloca para que tenha muito ciclista. Isso é fundamental para formar público”, ensina.

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Alternativas

O recente advento da micromobilidade tem sido estimulado por empresas que vêm colocando bicicletas e patinetes compartilhados nas ruas da cidade.

Outras startups têm surgido com o mesmo objetivo, ajudando a mudar a cultura urbana e convidando as pessoas a adotar modais ativos ou elétricos, o que pode desatar o nó do trânsito e reduzir a poluição. Além das ciclovias, há hoje mais bicicletários nas estações de metrô, trens e shoppings, alternativas que vêm de encontro ao desejo da população.

Esses meios são ideais para as chamadas “primeira e última milha” das viagens urbanas. Elas envolvem os trajetos curtos como ir até a padaria, farmácia ou restaurante. De acordo com a mais recente pesquisa da CNT (Confederação Nacional do Transporte), esses trajetos fazem parte de um universo de 46,7% dos deslocamentos.

Metrô

Além da micromobilidade e do boom dos aplicativos de carros, que baratearam as corridas, outro ganho da capital paulista nesses últimos anos foi a malha metroviária. Segundo dados do Metrô de São Paulo, as linhas já transportam mais de 5,3 milhões de pessoas por dia.

Ônibus

Em relação ao ônibus, corredores e faixas exclusivas foram implantados com o objetivo de melhorar a fluidez desse modo de transporte, que ainda é pouco valorizado pela população de classe média alta. Um dos maiores especialistas em transporte coletivo do país, o engenheiro civil Francisco Christovam, presidente da SP Urbanuss, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo, lembra que o ônibus se transformou, injustamente, em vilão. “Parece que tudo é culpa do ônibus, e as pessoas que mais criticam são as que nunca subiram em um na cidade. Hoje há uma frota de quase 14 mil ônibus urbanos circulando na capital paulista, rodando aproximadamente 3,5 milhões de quilômetros, transportando cerca de 6 milhões de pessoas, que realizam 10 milhões de viagens. A frota melhorou, com comodidades como ar-condicionado e wi-fi, mas as pessoas ainda desconhecem.”

Nas regiões centrais, o ônibus anda vazio fora dos horários de pico, roda ligeiro pelos corredores, enquanto os carros se amontoam em congestionamentos. Realmente, é necessário mudar a cabeça e experimentar o ônibus.   

NOVOS PASSOS A SE TOMAR

A cidade de São Paulo realmente melhorou no quesito mobilidade urbana, mas ainda faltam muitos passos importantes. É vital regulamentar os novos modais, definindo claramente as regras para evitar que bicicletas e patinetes também circulem pelas calçadas e coloquem em risco a segurança de pedestres. É urgente melhorar a vida dos pedestres, que caminham em calçadas estreitas, esburacadas e cheias de obstáculos – quando elas existem. É preciso também uma campanha de educação para mostrar os riscos de usar celular ao volante, dirigir alcoolizado e não respeitar os pedestres, entre outras grandes causas de mortes no trânsito.

Enfim, ainda falta muito, mas estamos caminhando. Hoje, vemos cada vez mais paulistanos mudando sua rotina em prol de saúde e qualidade de vida.

É o caso, por exemplo, de Vinicios Costa, superintendente de Recursos Humanos do Santander Brasil, que diariamente vai ao trabalho de bicicleta, ocasião em que aproveita para levar as duas filhas à escola. “Vendi meu carro há quatro anos e só uso bicicleta ou transporte coletivo. O pedal com as minhas filhas é um momento agradável, com conversa e observação da cidade. Acho importante passar para elas valores saudáveis e de sustentabilidade. Essa mudança na minha vida só trouxe vantagens”, afirma o executivo.

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