O físico Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi escolhido pela revista Nature, uma das mais prestigiosas do mundo, como uma das dez pessoas que foram mais importantes para a ciência neste ano. Galvão protagonizou o principal embate entre a ciência e o governo Jair Bolsonaro neste ano, após sua exoneração do cargo.
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Procurado pelo jornal O Estado de S. Paulo, Galvão confirmou a homenagem e se disse «surpreso». «Fui procurado pela Nature há mais de três semanas para uma longa entrevista e fiquei surpreso com a escolha», afirmou. «Essa lista geralmente é feita com personalidades que possuem publicações com resultados científicos importantes. Eu não tenho uma publicação, mas eles consideraram importante a minha posição de defesa da ciência perante a comunidade internacional em um momento de obscurantismo», disse.
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Galvão chamou a atenção de todo o mundo depois de responder às acusações sem prova do presidente Jair Bolsonaro, que disse que dados do Inpe que apontavam para um pico de desmatamento em julho eram mentirosos e acusou o cientista de estar «a serviço de alguma ONG» em um café da manhã com a imprensa estrangeira.
Galvão decidiu no dia seguinte se manifestar. Deu sua primeira entrevista ao Estado, quando afirmou a atitude do presidente tinha sido «pusilânime e covarde».
Ricardo Galvão foi exonerado do cargo no começo de agosto. Em novembro, o sistema Prodes, que aponta a taxa oficial de desmatamento da Amazônia, confirmou que houve um aumento de quase 30% na perda da floresta entre agosto do ano passado e julho deste ano, na comparação com os 12 meses anteriores.
Ricardo Galvão estava no Inpe desde 1970. Ele, que dirigiu o órgão por três anos, desde 2016, teria um mandato à frente do órgão até 2020. Galvão fez doutorado em Física de Plasmas Aplicada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e é livre-docente em Física Experimental na USP desde 1983. Depois de sair da direção do Inpe, voltou pra USP, para o Instituto de Estudos Avançados.
Após a exoneração, Galvão começou a dar palestras e participar de eventos no Brasil e no exterior. Em meados de agosto, ao voltar para a USP, Galvão deu um depoimento emocionado. «Sempre que a ciência for atacada temos de nos levantar. As autoridades sempre se incomodam quando escutam o que não querem», disse. «Mas será que esse seria um momento de volta às trevas?», questionou em referência à ditadura. Ele mesmo sentenciou: «Não. Porque a comunidade acadêmica e científica e o povo brasileiro não se calarão.»
Galvão, porém, rejeitou a ideia de ser herói. «Não usem a palavra herói ou mito. Não existe salvador da pátria», disse. Em setembro, foi homenageado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC).