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Bolívia: ‘fake news’ alimentam violência no país

Javier Mamani/Getty

Desde a renúncia de Evo Morales no dia 9, a cidade de Yapacaní, no Departamento de Santa Cruz, tem sido alvo de confrontos entre cocaleiros apoiadores do ex-presidente e moradores locais. Um jovem de 20 anos morreu, vítima de arma de fogo, e várias casas e instalações públicas, entre elas a única rádio local e o posto da Polícia Nacional, foram incendiadas. Vinte e oito pessoas estão presas.

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Os cocaleiros vindos de Chapare, no Departamento de Cochabamba, estavam acampados no entorno da cidade e bloquearam a ponte que dá acesso a Yacapaní duas semanas atrás, mas não havia registro de incidentes violentos até que no dia 10 adversários de Evo distribuíram via WhatsApp um vídeo no qual comemoravam efusivamente a renúncia do ex-presidente. A postagem desencadeou a onda de violência que levou à morte do jovem.

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Segundo fontes da polícia, o caso de Yapacaní é um exemplo de como as redes sociais têm sido usadas para incitar a violência entre grupos políticos opositores. «Estamos com muita dificuldade para lidar com isso. As pessoas não conseguem distinguir o que é verdade do que é mentira», disse um oficial. Segundo ele, uma das condições colocadas pelos cocaleiros para desarmar o bloqueio foi um pedido de desculpas formal pelo vídeo postado.

«Nossa gente se sentiu extremamente ofendida com aquele vídeo. Aquilo é uma provocação», disse ao jornal O Estado de S. Paulo o cocaleiro Hugo Casas, que ajuda a manter o bloqueio em Yapacaní. Uma tentativa de acordo mediada ontem pela polícia fracassou e o bloqueio continua, ameaçando a cidade de desabastecimento de comida e outros itens básicos.

Ontem, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) divulgou um balanço de 23 mortos desde o início da crise boliviana, no dia 21, e classificou como «grave» um decreto assinado pela autoproclamada presidente interina da Bolívia Jeanine Añez, que autoriza as Forças Armadas a usarem «todos os recursos» para controlar distúrbios de ordem política e isenta militares de responsabilidade penal em casos de «cumprimento de suas funções Constitucionais, ataque em legítima defesa ou estado de necessidade».

O decreto foi assinado um dia antes de 9 cocaleiros serem mortos a tiros pela polícia de Cochabamba quando tentavam furar um bloqueio. Ontem, o ministro da Presidência, Jerjes Justiniano, negou que o documento seja um estímulo à violência. «De nenhuma maneira o decreto é uma licença para matar. É um elemento dissuasivo. O que o governo pretende é evitar os confrontos que podem levar a mais mortes», afirmou.

Desde o início da crise uma avalanche de notícias falsas tem invadido as redes sociais bolivianas. Uma delas dava conta da queda de um avião com um ex-ministro de Evo com dólares e armas na fronteira com o Brasil. Outras citavam uma conta falsa de Jeanine, que também foi alvo de montagens em vídeo. No início da semana passada, imagens de opositores de Evo queimando uma wiphala que representa o orgulho indígena) provocou protestos violentos em La Paz.

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