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Setembro Amarelo: saiba como ajudar uma pessoa que pode estar pensando em suicídio

Embora seja um fenômeno complexo e delicado, o suicídio pode ser prevenido. Por isso, é fundamental ter noção de como detectar sinais de alerta

O girassol é o símbolo da campanha do Setembro Amarelo deste ano Pixabay/Ulrike Leone

Tudo começa com uma série de predisposições e dificuldades. Um dia após o outro, a vida vai perdendo a cor, os dias vão ficando mais longos e a esperança, desaparecendo. Se esse for o seu caso ou o de alguém próximo a você, deve ser a hora de procurar ajuda.

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Os números mostram que a discussão sobre suicídio se mostra cada vez mais necessária: a taxa de casos cometidos por jovens de 10 a 19 anos aumentou 24% entre 2006 e 2015 nas seis maiores cidades brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Recife), informa estudo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

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Entre os municípios com os maiores índices, São Paulo ficou em terceiro lugar, com 2,44 suicídios para cada 100 mil habitantes em 2015, atrás apenas de Belo Horizonte (3,13) e Porto Alegre (2,93).

A fim de conscientizar as pessoas de tal realidade, o CVV (Centro de Valorização à Vida), o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria criaram, em 2015, uma campanha de prevenção ao suicídio: o Setembro Amarelo. O mês foi escolhido diante da definição da OMS (Organização Mundial da Saúde) para o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio – celebrado nesta terça-feira (10).

O Ministério da Saúde define o suicídio como um fenômeno complexo, multifacetado e de múltiplas determinações. “Não se pode simplificar uma perda por suicídio dizendo que foi por conta de uma demissão, da morte de um parente ou algo do tipo”, afirma a voluntária e porta-voz do CVV Adriana Rizzo. “Esses fatores podem ter sido apenas a gota d’água.”

E não são só questões externas que merecem ser ressaltadas. Adriana explica que, na maioria da vezes, é preciso considerar na soma os transtornos mentais, como depressão, ansiedade, esquizofrenia ou dependência química.

O psiquiatra e coordenador de interconsultas do IPq (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo), Teng Chei Tung, analisa também o papel de uma predisposição genética. “É comum ter vários suicídios na mesma família”, comenta. “Há uma vulnerabilidade biológica, uma tendência para a depressão e o suicídio.”

Embora seja complexo, é possível prevenir o suicídio – de acordo com a OMS, nove a cada dez casos poderiam ter sido evitados. Por isso, é fundamental ter noção de como detectar os sinais de alerta em si mesmo ou em alguém próximo.

Segundo Tung, os sinais mais reconhecíveis são os da depressão. Não há, porém, uma “receita” para reconhecer seguramente pelo que a pessoa está passando. “Às vezes, ela esconde muito bem e não dá para prever”, pontua.

Os sinais não devem ser considerados isoladamente. A pessoa pode apresentar todos, múltiplos ou apenas um dos itens da tabela a seguir. “O principal é a mudança de comportamento. Queda no rendimento escolar ou profissional, mudanças nos hábitos de alimentação e sono, afastamento de amigos e abandono de atividades antes prazerosas são outros exemplos”, define Adriana.

Sinais de alerta

  1. Mudança de comportamento;
  2. Pensamentos negativos;
  3. Aspecto entristecido ou cansado;
  4. Queda no rendimento escolar ou profissional;
  5. Mudanças nos hábitos de alimentação e sono;
  6. Aumento no consumo de álcool ou drogas;
  7. Isolamento;
  8. Abandono de atividades antes consideradas prazerosas.

Há algumas recomendações para quem identificar os sinais apresentados por uma pessoa próxima. O assunto costuma ser uma questão delicada e, por isso, cada detalhe na atitude tomada pode fazer a diferença.

“A indicação é aproximar-se da pessoa e oferecer-se para conversar sem comparar o problema dela com o de outras pessoas ou dizer aquelas frases feitas como ‘isso passa’ ou ‘você é forte’. Também é importante direcioná-la a um serviço de saúde, médico ou psicológico”, afirma a voluntária do CVV.

O que fazer

  1. Aproximar-se da pessoa, sem pressioná-la;
  2. Oferecer-se para uma conversa, sem criticar;
  3. Perguntar se precisa de alguma ajuda;
  4. Respeitar e ouvir o que ela tiver a dizer com mente aberta;
  5. Incentivar e indicar um serviço de saúde, médico ou psicológico;
  6. Se o perigo parecer imediato, não a deixe sozinha.

O que não fazer

  1. Criticar, julgar e mencionar problemas como depressão;
  2. Comparar o problema da pessoa com o de outras;
  3. Dizer frases feitas como “isso passa” ou “você é forte”.

Segundo o coordenador de interconsultas do IPq, Teng Chei Tung, o suicídio pode ser algo impulsivo, com a tomada de uma atitude que nem a própria pessoa imaginava. Por outro lado, sempre é possível apostar na compaixão e na solidariedade para ajudar o próximo. “Qualquer pessoa quer se sentir respeitada, querida e acolhida”, diz.

Onde encontrar ajuda

Se você está em busca de ajuda ou conhece alguém que pode estar, é possível entrar em contato com o CVV por telefone (no número 188), e-mail e chat on-line. O centro realiza apoio emocional e de prevenção ao suicídio, atendendo de forma voluntária.

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