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Iphan avalia reconstrução de casa incendiada em Paranapiacaba

O casarão destruído por um incêndio na noite de sábado (27) em Paranapiacaba, Santo André, era tombado pelas três esferas de patrimônio histórico e cultural: municipal, estadual e federal. O título dado para garantir a preservação dos bens se estende a todos os imóveis da Parte Baixa da Vila ferroviária.

O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) disse na aguardar o resultado das investigações sobre as causas do fogo realizadas pelo 6º DP de Santo André. O órgão federal promete enviar hoje para a Vila uma equipe de técnicos da superintendência de São Paulo para uma vistoria. O grupo irá avaliar as perdas ocorridas e as possibilidades de reconstrução do bem.

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O casarão fazia parte dos imóveis que receberiam revitalização pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Cidades Históricas, projeto em parceria entre União e município que está parado para análises há dois anos.

O incêndio ocorreu por volta das 5h do sábado, horas antes do início da programação do último fim de semana do Festival de Inverno de Paranapiacaba. O casarão estava vazio há pelo menos oito anos e era alvo de constante ocupação irregular e depredação, de acordo com moradores ouvidos pela reportagem. Ninguém ficou ferido no incidente.

O prefeito de Santo André, Paulinho Serra (PSDB), disse não descartar que o fogo tenha sido criminoso. “As primeiras investigações nos levam a crer que foi incêndio provocado, com viés político, para tentar apagar o brilho do festival.” Ele afirmou preferir não detalhar quais seriam os indícios de crime para não atrapalhar as investigações.

História: Casa abrigou engenheiro

Localizada próxima ao Museu Castelinho, antiga casa do engenheiro chefe construída em 1897, a casa que se perdeu no incêndio de sábado era utilizada pela alta hierarquia dos trabalhadores da ferrovia. É o que explica o historiador Adalberto Almeida, que nasceu em Paranapiacaba. “O casarão estava na periferia hierárquica, pertencia a um morador importante, provavelmente um engenheiro da ferrovia.

A casa em si era modesta em comparação a outras que compõem a Vila. Isso por ter sido uma das primeiras a serem construídas. Infelizmente, foi levada ao ostracismo por acharem que ela não tinha importância tão grande.” Almeida conta ainda que uma segunda casa vizinha, que também pertenceu a um engenheiro, foi incendiada e destruída anos atrás.

‘Estou em luto de ver o que amei destruído’

Maria Aparecida Ferreira de Almeida, 72 anos, tomou um calmante na manhã de sábado assim que foi acordada com a notícia de que a antiga pousada estava pegando fogo. “Estou em luto de ver o que amei muito destruído. Cuidava como se fosse minha casa. É como se perdesse alguém da minha família.” Ela administrou por oito anos a pousada Estrela da Manhã, que funcionava no casarão destruído pelo incêndio de sábado em Paranapiacaba.

O negócio teve de parar em 2008, quando ela também deixou o imóvel que cairia no abandono nos anos seguintes. Maria afirma que tinha permissão de uso por cinco anos e foi pressionada pela prefeitura da época, então sob gestão de Aidan Ravin, a deixar a casa. “Eles queriam aumentar o aluguel de R$ 250 para mais de R$ 1.200. Não tinha condições de tocar a pousada com esse valor e preferi sair.”

Os imóveis da Parte Baixa pertencem à prefeitura, que publica editais para ocupação e cobra uma espécie de aluguel dos moradores. Maria Aparecida continuou vivendo na casa que ocupava, próxima ao casarão. Ela afirma viver na Vila ferroviária desde a década de 1970. “Quando cheguei aqui, não era tudo destruído como acabou ficando.”

Maria diz que o casarão nunca mais voltou a ser ocupado definitivamente. “Sem moradores, as pessoas começaram a roubar a fiação, o cobre, as janelas, portas. A casa servia para quem chegava na Vila e não tinha onde dormir. Muita gente entrava para usar drogas e também para prostituição.” Ela afirma que o imóvel foi ocupado em outras ocasiões por trabalhadores que participaram do restauro da ponte da Vila e depois por funcionários do restauro das casas.

Ela lembra dos bons momentos vividos no local. “Recebíamos até 30 pessoas. Os quartos tinham lareira. Havia um fogão a lenha, por onde passava também uma serpentina que esquentava a água para os quartos. Como antigamente não havia geladeira, o imóvel contava com carretilha para defumar as carnes.” METRO abc

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