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Aplicativos de exercícios ganham adeptos; especialistas alertam sobre lesões

Assim como todas as plataformas virtuais, os aplicativos de exercícios físicos evoluíram. Se antes tinham bonecos fazendo flexões e polichinelo, agora contam com profissionais que interagem com os alunos e são filmados por um conjunto de câmeras. Também têm um sistema de pontuação, como nos games, e apostam na personalização e na variedade de atividades para conquistar os usuários. Baratos, eles ganham cada vez mais adeptos, mas especialistas alertam que a falta de acompanhamento profissional pode levar a lesões.

Há três meses, a rotina de treinos da servidora pública Débora Floriano, de 33 anos, é diária e tem duração de, no mínimo, uma hora. «Optei pelos exercícios em casa por ter quatro filhos, dois deles pequenos, com 1 ano e 3 anos. Foi a única maneira que achei para me exercitar. Quando fiz academia, não conseguia ir sempre, porque sair de casa, me deslocar e ficar lá acaba atrapalhando muito a rotina com as crianças.»

Ela não frequenta uma academia tradicional há cerca de quatro anos e já teve resultados desde que aderiu à proposta virtual. «Já eliminei 13 quilos, muitos centímetros de cintura e as coxas diminuíram significativamente. (O manequim) foi de 46 e estou a caminho do 42. Hoje, o 44 fica bem folgado. Lógico que a alimentação também faz parte. Estou comendo com equilíbrio, mas sem restrição.»

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Após quatro anos de malhação online, a palestrante Ana Agostini, de 38 anos, mescla a academia virtual com a real e até já realizou o sonho de correr a Meia Maratona de Campinas. Tudo começou quando o marido baixou um aplicativo para fazer um teste «Disse que eu nunca ia fazer.» Mas ela acabou experimentando e não parou mais.

«Comecei a gostar da coisa. Fizemos amizades e começou uma competição saudável. Gosto de ter tarefas e vi que ia ganhar pontos. A gameficação foi muito determinante porque não queria ficar para trás e competia para ver quem ia entrar em cada fase »

Seus treinos duram entre 15 e 40 minutos e, mesmo quando vai para a academia, utiliza as séries do programa. Ela perdeu 40 quilos no período. Empolgada com a plataforma, Ana admite que já passou dos limites e acabou se machucando.

Boom

Presidente do BTFIT, Bruno Franco diz que houve um boom de aplicativos em 2015, mas que a adesão só foi se consolidar depois. «Nos últimos dois anos é que ficou mais explícito. O aplicativo quebra barreiras da atividade física tradicional. O usuário acorda e faz o exercício em casa. Também tem a questão do preço, que é muito democrático.»

De 2015 até 2018, a plataforma já teve mais de 2 milhões de downloads. Os usuários são, na maioria, mulheres de 18 a 30 anos A reportagem consultou aplicativos e encontrou mensalidades a partir de R$ 19,90.

Entre o fim de 2017 e o fim do ano passado, o número de usuários brasileiros do aplicativo Freeletics saltou de 1,8 milhão para 2,4 milhões. «Hoje, possui mais de 34 milhões de usuários registrados em todo o mundo, sendo o Brasil o segundo maior mercado em número de usuários», diz Christian Hauth, diretor de marketing do programa.

Mais novo no mercado, o Numi foi lançado em setembro do ano passado e já tem 42 milhões de usuários. A proposta do aplicativo é oferecer várias modalidades para diferentes níveis

Cuidado

Médico do esporte e vice-presidente da Confederação Sul-americana de Medicina do Esporte (Cosumed), Ricardo Munir Nahas alerta que toda atividade física deve ser iniciada após avaliação médica.

«A partir dos limites definidos para a prática de exercícios, a rotina de trabalho tem de ser feita por um profissional de educação física, que vai dar o aconselhamento sobre qual é a postura correta, como executar o movimento e qual é o ritmo adequado», diz o especialista.

Nahas explica que a atividade não pode ser muito leve, pois os resultados não são alcançados, nem muito pesada, por causa do risco de lesões. De acordo com ele, há sinais que indicam que a prática não está sendo feita corretamente.

«O primeiro sintoma de que algo não vai bem é a dor. Geralmente, começa vagarosamente durante o exercício e desaparece depois. Então, vai crescendo até atrapalhar. Outro sinal são as noites de sono: se não dormir bem, se acordar com dores, ficar cansado ou irritado.»

Professor de Educação Física, Silvio Alabarse diz que o atendimento online é possível, desde que exista um contato presencial. «Há vários personals que primeiro explicam presencialmente e depois passam a fazer tudo online. Nos encontros, é possível verificar a situação clínica e impedir que o aluno faça algo equivocado.»

Alabarse, que também aderiu aos treinos virtuais por meio de sua empresa BMH, diz que as pessoas querem ter a comodidade de fazer o exercício em casa, mas que a prática incorreta, além de lesões, pode frustrar os usuários dos aplicativos.

«As pessoas querem o exercício online, mas, por ser algo sem a mínima orientação presencial, a chance de se manter praticando a atividade física e de fazer corretamente, começa a ter limitações. Ao fazer de forma equivocada, a pessoa pode se lesionar ou não atingir os objetivos. Às vezes, a pessoa se cansa, porque está fazendo de forma equivocada e por não estar sendo orientada», explica.

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