Foco

Educadora californiana mantém ONG para refugiados na Síria; leia entrevista com Puneh Ala’i

André Porto/Metro

A educadora californiana Puneh Ala’i veio a São Paulo na semana passada para contar seus desafios em educar crianças refugiadas no evento educacional Escolas Exponenciais.

ANÚNCIO

Filha de iranianos, ela comanda a ONG For the Unseen (Para os Invisíveis) e fundou a escola Birds for the Hope (Pássaros Para a Esperança), que hoje atende 3 mil crianças refugiadas sírias no Líbano, das quais 2 mil são órfãs.

Em 2013, ela abandonou sua carreira –trabalhou em bancos e em marketing– e foi para a Síria, entrando ilegalmente algumas vezes no país para ajudar pessoas atingidas pela guerra. Depois, batalhou para fundar a escola. A instituição usa um método chamado de “arte terapia”. para tentar atenuar os efeitos da guerra sobre as crianças. Abaixo, a entrevista que ela deu por escrito para o Metro Jornal.

Recomendados

Por que você resolveu deixar sua vida em Los Angeles para se envolver em trabalho humanitário?
Eu não me sentia realizada no meu trabalho. Eu sempre me perguntei se havia outro caminho que eu pudesse seguir e sentia como se estivesse faltando algo.

O que a levou a escolher a Síria inicialmente?
Eu estava numa cafeteria com um amigo e ele me contou uma história que tocou meu coração de um jeito muito peculiar [o assassinato do primo dele lá]. Até então, eu nem sabia onde era a Síria.

Por que resolveu fundar escolas para crianças em áreas de conflito?
Depois de fazer viagens para socorros imediatos e básicos, eu senti outra vez que estava faltando algo. Eu queria fazer algo mais duradouro. Alguma coisa que, quando eu fosse embora, não acabasse.

Há um preparo especial para os profissionais que atuam ali?
Nós damos treinamento de “arte terapia” no primeiro ano e pedimos que os professores tenham um diploma na área em que estão lecionando. Também não poderíamos exigir muito, porque não podemos pagar salários altos. E foi importante para nós empregarmos os refugiados sírios adultos que conhecíamos e que estavam sem trabalho num país estrangeiro.

Quais os principais desafios ao lidar com e ensinar para crianças nessas condições?
Nossa, são tantos desafios… Primeiro, a discriminação, no sentido de elas não pertencerem ao lugar onde estão. Eu acredito que isso acontece com qualquer grupo de pessoas que foge para um lugar estrangeiro. É difícil se adaptar e ser aceito. Além disso, o dinheiro é um problema. No começo, financiamos a escola inteira porque sabíamos que os pais não podiam pagar as mensalidades. Além disso, tivemos que alugar imóveis de escolas libanesas depois do expediente. Apenas como alguns exemplos…

O que mais vocês proporcionam, além do conteúdo em si?
É um porto seguro, um refúgio, um lugar para ser VISTO [enfatiza a palavra] em um mundo que se recusa a ver. Para muitos dos alunos, é a primeira vez que eles estão em um ambiente educacional e que eles têm a opção de pensar livremente, completamente por si mesmos.

Que aprendizados vocês tiveram que podem ser aplicados em outros modelos de escola, até tradicionais?
O aprendizado que causou o maior impacto foi a personalização dos sistemas e ambientes educacionais, reconhecendo que a necessidade de uma criança é diferente de outra. Uma das ferramentas mais úteis na “Birds of the Hope” foi a “arte terapia”, para ajudar a resolver o trauma depois de testemunhar a guerra.

Que mensagens você quer passar aos brasileiros?
Sei que parece clichê, mas quero pedir para serem atentos, conscientes e gentis com os menos afortunados, especialmente os que estão fugindo de suas casas para se refugiar em lugares desconhecidos. É muito mais terrível do que se pode ver pelos olhos deles.

Tags

Últimas Notícias