Dez dos 12 militares do Exército envolvidos na ação que deixou um morto e dois feridos em Guadalupe, na zona norte, no último domingo, foram presos em flagrante. A determinação foi dada na manhã de segunda-feira (8), após eles prestarem depoimento na Delegacia de Polícia Judiciária Militar, na Vila Militar, na zona oeste.
A tropa disparou cerca de 80 tiros contra o carro de Evaldo Rosa dos Santos, 51 anos, de acordo com a perícia da Polícia Civil. Ele seguia para um chá de bebê com a família. A vítima morreu no local. Ele era músico e também trabalhava como vigilante em uma creche.
O sogro dele, Sérgio Gonçalves de Araújo, 59 anos, também foi atingido por um tiro nas costas e outro no glúteo. Ele está internado no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na zona oeste, em estado estável. Um homem que passava pela rua e tentou socorrer a família também foi baleado, no peito. Ele foi identificado como Luciano Macedo e foi internado em estado grave.
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Na manhã de segunda, no IML (Instituto Médico Legal), a viúva de Evaldo, a técnica em enfermagem Luciana dos Santos Nogueira, estava aos prantos com a morte do companheiro, com quem viveu por 27 anos. Segundo ela, os militares “ficaram de deboche” após a ação: “Perdi meu melhor amigo. Meu filho viu tudo. Os vizinhos começaram a socorrer e eles continuaram atirando, vieram com arma em punho. Gente, por que o quartel fez isso? Ele só tinha levado um tiro, eu ia voltar, aí eu falei: ‘Moço, socorre o meu esposo’. Mas eles não fizeram nada e ficaram de deboche.”
Filho de criação de Evaldo, o entregador Daniel Rosa, 29 anos, contou que Luciana tentou socorrer a vítima. No entanto, os militares não permitiram a aproximação. Segundo ele, a família vai processar o Exército: “Agora, nossa família só quer Justiça.”
O filho do casal ainda não sabe da morte do pai. A mãe disse que ele está hospitalizado. “Ele não para de perguntar pelo pai, com quem tinha uma relação muito próxima”, disse a cabeleireira Rosa Helena dos Santos, 52 anos, cunhada de Evaldo.
Família contesta versão
A família contestou a versão de que os militares teriam trocado tiros após “uma injusta agressão” de criminosos. Segundo os parentes, eles foram confundidos. “Não teve troca de tiros, só quando o nosso carro entrou na rua. Eu me senti protegida quando vi o quartel na rua”, disse Luciana.
Em comunicado, o CML (Comando Militar do Leste) justificou a nota emitida inicialmente, na noite de domingo, em que afirmava que a tropa havia reagido a um ataque de criminosos. Segundo o Exército, o texto teve como base informações transmitidas pelos próprios militares. Porém, o CML identificou divergências entre a narrativa inicial e as informações posteriormente apuradas.
Justiça militar
De acordo com o CML, os dez presos serão julgados pela Justiça Militar da União, que deve realizar a audiência de custódia e determinar como será dado o prosseguimento.
A Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) defende que a Polícia Civil investigue a morte do músico. A presidente da comissão, deputada estadual Renata Souza (Psol), propõe que a investigação seja conduzida pela Delegacia de Homicídios e oficiará os Ministérios Públicos Militar (MPM) e Federal (MPF).