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Romeu Zema: ‘A situação é muito mais grave do que aparentava’

Em entrevista do Grupo Band Minas, governador de Minas Gerais classificou como prioridade a renegociação da dívida do estado com a União e disse que vai tentar poupar os servidores das medidas amargas exigidas como contrapartida

Há 17 dias ocupando o cargo mais importante de Minas Gerais, o governador Romeu Zema (Novo) já definiu como prioridade a renegociação da dívida do estado com o governo federal para desafogar os cofres públicos. Em entrevista exclusiva ao Grupo Band Minas, concedida à jornalista Inácia Soares na Cidade Administrativa, Zema contou como pretende aplicar as contrapartidas exigidas pelo Tesouro Nacional, como a privatização de estatais e a redução da folha de pagamento do estado, que hoje consome quase 80% da arrecadação.

Já é possível prever uma data para que Minas consiga a renegociação das dívidas com a União?

Ainda não. Eles (Tesouro Nacional) estão levantando os números e posso dizer que é uma quantidade enorme de dados. E eles devem retornar aqui mais algumas vezes, já que em Brasília ainda estão nos pedindo dados. O que eu posso adiantar é que os números preliminares que estão sendo levantados são muito piores do que a expectativa, o que é uma notícia ruim, mas é a verdade. Um fato que nós já noticiamos é que o governo anterior falava que comprometia 60% da arrecadação com a folha, mas na verdade comprometeu 80%. É  uma diferença muito grande, o que prova que a situação do estado é muito mais grave do que aparentava.

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Mesmo sendo otimista, dá para imaginar que nos primeiros seis meses se chegue à prévia de um acordo?

Com toda certeza. A nossa expectativa é que em meados do ano isso tudo já esteja costurado com o governo federal.

É sabido que a União faz muitas exigências para a renegociação dessa dívida, inclusive com reajustes salariais. Como lidar com a insatisfação crescente dos servidores, que vêm de três anos de parcelamentos de salários?

Nós vamos tentar fazer o possível e o impossível para que o servidor não seja atingido. O governo federal realmente tem uma série de exigências, mas eu quero fazer mais do que o solicitado em vários pontos para que o servidor seja atendido naquilo que for possível. Eu sei que é um público sofrido, que já está com esse parcelamento, então eu quero trazer um pouco de alento e boas notícias para esse público que está carecendo muito.

Antes de se firmar esse acordo, o que sua gestão tem feito para tentar minimizar o rombo no estado?

Nós, logo no primeiro dia de governo, exoneramos todos os cargos comissionados e estamos tendo de reconduzir alguns que ocupam cargo de chefia e assinam documentos de algumas unidades que não podem parar, mas já é um primeiro passo, e estamos diminuindo de forma muito substancial todas as autarquias e entidades governamentais. Eu ainda não tenho esse número, mas daqui a pouco tempo nós podemos com certeza chegar a 10, 15 ou 20 mil cargos eliminados dentro do nosso governo, o que vai gerar uma economia substancial e ajudar a estar pagando quem realmente trabalha.

Esses comissionados que estão voltando ao cargo no governo podem ter sIdo fruto de um erro de dimensionamento, não levando em conta a importância de cada um para o funcionamento da máquina?

Não. Eu diria que foi necessário porque nós não podíamos assumir a tarefa de irmos analisando todos os 6 mil comissionados. O que nós optamos foi o seguinte: vamos cortar todos e depois reconduzir aqueles que forem necessários. Então ao invés de estarmos analisando 6 mil casos, nós precisamos analisar apenas algumas centenas.

Como está o repasse para as prefeituras? Segundo a AMM (Associação Mineira de Municípios), o governo anterior deixou uma dívida de R$ 10 bilhões.

Nesses primeiros 15 dias nós já repassamos para as prefeituras cerca de R$ 1,6 bilhão, e é muito mais do que o antigo governo estava repassando, mas ainda temos um atraso da nossa gestão que queremos colocar em dia, tão logo seja possível. Lembrando que as prefeituras têm passado por maus momentos, muitas delas, principalmente aquelas pequenas, não estão tendo como honrar suas folhas de pagamento, especialmente as professoras.

O 13º salário do funcionalismo ainda não foi pago, e o senhor mesmo já disse que não deve ser pago tão cedo. Agora já dá para ter uma previsão mais clara para esse pagamento?

Nós estamos ainda levantando. Já demos uma previsão da folha de janeiro, que era a prioridade, e já apresentamos as datas. Quero muito que esse 13º seja pago ainda dentro desse ano, mas não quero afirmar nada sem antes termos certeza de que isso vai ser possível. Quero chegar para o funcionalismo e dar essa notícia breve: estamos levantando os números e vamos dar total transparência. Quero deixar muito claro para os servidores que nós não vamos reter recursos porque não tem motivo, queremos colocar tudo em dia e deixar quem trabalha no estado satisfeito, mas também não temos condição de criar recursos se esse recurso não existe.

Já dá para prever o fim do escalonamento, que completa três anos em fevereiro?

Também não dá para prever. O salário de dezembro que pagamos em janeiro ainda foi escalonado, muito provavelmente o de fevereiro também será, porque há essa falta crônica de recursos no estado. Mas com a renegociação junto à União e a entrada de recursos no estado, eu espero que por volta de meados deste ano essa situação venha fazer parte do passado. É uma notícia que eu gostaria muito de dar.

O tamanho da máquina pública hoje, pelo que o senhor já viu, é suficiente?

Em todo órgão federal que eu tenho visitado, o estado de Minas é sempre elogiado. Nós temos uma estrutura administrativa robusta, que funciona bem, com gente muito qualificada. Agora, a dimensão da quantidade de pessoas nós ainda não temos. Mas dá para ver que há muita gente que está ali por alguma questão política, e não exerce uma função. Eu espero que em questão de alguns meses nós tenhamos feito esse enxugamento e vamos ter condição de apresentar um número efetivo. Mas como eu disse, penso que é coisa de 10, 15 ou 20 mil pessoas que vamos enxugar na máquina. Em vista de uma população de quase 450 mil, que trabalham hoje no estado, não é muita coisa, mas vai ajudar. Vai dar para pagar um 13º a cada dois anos com essa economia que vamos fazer.

Sobre as estatais, você já disse que Cemig e Copasa estão desvalorizadas e que não teriam uma boa receptividade no mercado em caso de uma possível venda. Dá para reverter isso, caso seja exigido a privatização dessas empresas?

Eu diria que na Cemig, da qual me foi fornecido alguns dados, as ações nos últimos quatro meses já subiram algo em torno de 50% exatamente devido a essa expectativa de melhoria no desempenho da empresa, que vai ficar livre dessas influências políticas. O atual presidente da Cemig está conduzindo mudanças internas, visando colocar a empresa em outro patamar, e tudo isso vai refletir no preço das ações da empresa.

Sobre o presidente Bolsonaro, com quem o senhor se reuniu nesta semana, em relação a Minas, ele tem noção da crise pela qual passa o estado e está disposto a ajudar o estado em busca dessa renegociação da dívida?

Eu diria que essa questão está mais a cargo do ministro Paulo Guedes, com quem eu estive ontem (quarta-feira) por mais tempo, e há um total comprometimento do governo federal em equacionar essa situação de Minas, mas lembro que eles deixaram muito claro: a situação de Minas Gerais é hoje a pior entre todos os estados do Brasil. Nenhum outro estado está comprometendo 80% com a folha como Minas Gerais tem comprometido. E também deixaram claro o seguinte: o esforço do governo federal nesse momento é para levar para o Congresso as mudanças que o Brasil precisa. Num segundo momento eles estarão juntos da gente, mas já estamos conduzindo esse processo de renegociação da dívida e os processos necessários, mas há muito boa vontade, isso é inegável. O presidente Bolsonaro é uma pessoa acessível, simples como nós.

Outro assunto tratado em Brasília foi a malha viária em Minas Gerais, especialmente a BR-262 e a BR-381, que sempre apresentam muitos perigos para os motoristas. Não há orçamento previsto para investir, então como o senhor pretende melhorar essas duas estradas?

Vamos pegar principalmente o caso da BR-381. Nós queremos que o governo federal coloque, dentro do possível, mais recursos. E já estamos estruturando uma forma de agilizar a conclusão dessa duplicação, pois se ela continuar no ritmo que está, vai demorar mais 20 anos. Nós não queremos que as pessoas continuem enfrentando congestionamento, perigo, e com isso nós vamos estar analisando uma forma de parceria público-privada. Alguém que conclua essas obras com mais rapidez e que passe a cobrar um pedágio devido o investimento feito. Então a nossa prioridade é encontrar uma solução. Já temos em nossa secretaria de infraestrutura pessoas dedicadas a esse projeto.

Quais serão as suas prioridades nos projetos encaminhados à Assembleia Legislativa?

A nossa grande prioridade vai ser esse projeto que envolve a renegociação da dívida de Minas com a União. Eu diria que esse projeto é prioritário, acima de todos, pois sem ele Minas está caminhando depressa para ser um estado ingovernável do ponto de vista financeiro. O estado que não vai ter condições de pagar o seu funcionalismo e nem repassar os recursos para as prefeituras. Então essa será a prioridade da prioridade.

Sobre a reforma da previdência, o senhor disse, logo após a eleição, que aguardava o projeto nacional para poder apresentar a proposta em Minas Gerais, e o presidente Jair Bolsonaro já falou que defende uma idade mínima de 62 anos para homens e 57 para mulheres. O senhor acha que em Minas a proposta será semelhante?

O que nós estamos pensando em propor para a Assembleia vai ser um aumento de contribuição do funcionalismo, porque vai ser necessário. Com relação à idade, o que nós governadores temos conversado é que vamos aguardar as definições do Congresso para passar a seguir aquilo que for definido em Brasília, de forma que nos dispense de estar avaliando e investindo tempo em esforço que os deputados podem decidir em todo o país.

Para o senhor, que veio da iniciativa privada e gerenciou a empresa da família por tanto tempo, qual é o impacto de chegar ao serviço público?

A principal diferença é que parece que o estado trata governador meio como um semideus, e governador é só uma pessoa normal. Vejo que tem todo um aparato muito grande de segurança, que é claro, é muito necessário, além de muitos assessores, mas o antigo governador tinha uma equipe grande, e com certeza a minha vai ficar cerca de um quarto do tamanho da dele, só para dar uma noção. Eu não gosto de ser paparicado, eu gosto de ver as coisas dando certo. Então eu vejo que havia muito essa questão que estamos mudando, e vamos apresentar alguns números em breve, vai ser uma redução muito significativa. Como se saísse de 200 (funcionários) para 50.

 

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