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Mata Atlântica tem cobertura maior do que achavam os especialistas

Os remanescentes do bioma mais devastado do Brasil não são tão pequenos quanto se imaginava. Um estudo recente da ONG FBDS (Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável), do Rio de Janeiro, mostrou que há 32 milhões de hectares da Mata Atlântica no país, o que corresponde a 28% da cobertura original. Anteriormente, os especialistas achavam que só 16% da mata estava de pé.

A nova estimativa surgiu depois da análise de imagens em alta resolução feitas pelo satélite RapidEye e com a adoção de novas técnicas de detecção de fragmentos florestais. O índice anterior, de 16%, havia sido levantado pela Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

“O mapeamento da SOS Mata Atlântica e do Inpe era o melhor que a gente tinha, eles vêm fazendo isso há muito tempo e é importante ter essa sequência de dados”, diz o doutor em ecologia Jean Paul Metzger, professor titular do Departamento de Ecologia da USP (Universidade de São Paulo). Ele é um dos autores do estudo, publicado no periódico “Perspectives in Ecology and Conservation”, da Abeco (Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação), que tem apoio da Fundação Grupo Boticário.

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As novas imagens, feitas pelo RapidEye (sistema alemão que opera cinco satélites simultaneamente, com maior resolução), foram adquiridas pela FBDS. “Conseguimos olhar mais fundo e ver fragmentos pequenos, com mais precisão na delimitação do que é e do que não é mata”, explica Metzger.

Segundo o especialista, a mata remanescente descoberta com a ajuda do sistema RapidEye está dividida em pequenos fragmentos, entre áreas urbanas e de produção agrícola. “O avanço da agricultura e das áreas urbanas deixou essas florestas em pequenos fragmentos, que agora conseguimos visualizar melhor”, afirma. Pelo menos 90% da mata mapeada agora está em propriedades particulares.

Metzger relata, no entanto, que muitas das áreas identificadas estão longe de ser como as originais. “Muitas vezes os proprietários mantêm as árvores mais altas, mas cortam o bosqueamento (árvores mais baixas) ou extraem madeira. Muitas matas que ainda se parecem com florestas são degradadas. As árvores ficam mais esparsas.”

Os trechos do bioma revelados estão espalhados por toda a área original de cobertura da Mata Atlântica, em 17 estados brasileiros. “Não encontramos mais mata em uma determinada região, tem mais mata espalhada por todo o bioma. O que mudou foi a nossa capacidade de visualização”, comenta o especialista.

Metzger lembra que a Mata Atlântica é importante por uma série de fatores, entre eles o abastecimento de água. “A cobertura da mata está ligada com o fornecimento de água, o controle da erosão e uma série de benefícios, mesmo que a pessoa não perceba que está se beneficiando.”

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