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Governo Bolsonaro: Qual é o impacto da presença do premiê israelense Benjamin Netanyahu na posse?

Analistas afirmam que convite ao líder israelense – que enfrenta acusações de corrupção em seu país – busca satisfazer eleitores evangélicos de Bolsonaro, mas que aliança mais profunda com o Estado judeu deve enfrentar barreiras internas e externas.

Quando assumir a Presidência do Brasil no dia 1º de janeiro, Jair Bolsonaro estará diante do premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, que vem sendo tratado como um dos principais convidados da cerimônia de posse.

Netanyahu chega ao Brasil nesta sexta, dia 28, e ficará até a noite do primeiro dia do ano.

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«Sinaliza uma intenção de aproximação, e são os primeiros passos da criação de uma aliança de líderes de direita», diz à BBC News Brasil o professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas (FGV) Oliver Stuenkel, referindo-se também à possível presença de Viktor Orban, primeiro-ministro ultranacionalista da Hungria.

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Segundo Stuenkel, a presença de chefes de Estado em posses é a expressão de uma «espécie de sinal de confiança antes de o presidente ter assumido».

Netanyahu enfrenta uma crise política em casa, com acusações de corrupção que ele nega, e controvérsias sobre decisões em políticas de segurança. Eleições que aconteceriam em novembro do ano que vem foram adiantadas para abril, e sua presença na posse presidencial brasileira quase não se concretizou.

Stuenkel diz que desde a redemocratização o Brasil costuma ter um número relativamente pequeno de chefes de Estado nas posses principalmente porque a data do evento, 1º de janeiro, é inconveniente.

«E é a primeira vez que um premiê de Israel vem para uma posse. Isso também sinaliza que o Brasil deixará de ter um papel mais moderado no Oriente Médio», afirma.

Historicamente, o Brasil mantém uma posição neutra em relação ao conflito entre Israel e a Palestina. Mas já durante a campanha e a transição, Bolsonaro defendia um maior alinhamento a Israel, inclusive propondo mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

A mudança da embaixada para Jerusalém também era uma bandeira de Donald Trump quando ele concorria à Presidência dos EUA – e que acabou concretizada após sua posse.

Os EUA se tornaram o primeiro país a transferir a embaixada para Jerusalém. A maioria das nações mantém suas missões em Tel Aviv até que negociações de paz encerrem as disputas entre israelenses e palestinos por Jerusalém. O governo israelense reivindica a cidade como sua capital indivisível, mas os palestinos pleiteiam Jerusalém Oriental como capital de seu futuro Estado.

Países árabes demonstraram descontentamento diante da possibilidade de Bolsonaro seguir os passos de Trump. E o Brasil poderia sofrer represálias comerciais, já que é líder na exportação de carne halal no mundo, comprada e consumida por países muçulmanos.

Depois que o Egito cancelou um evento diplomático com o Brasil, Bolsonaro disse que a decisão de mudar a embaixada de local «não está decidida ainda».

Para Elaini Cristina Gonzaga da Silva, professora de Relações Internacionais da PUC-SP, empresários brasileiros que exportam a países que se opõem à mudança da embaixada devem dificultar a transferência da missão.

Ela avalia que os acenos de Bolsonaro a Israel buscam satisfazer o eleitorado evangélico, que foi decisivo em sua vitória, e apoia o Estado judeu. Em 2016, o então deputado foi a Israel e participou de um batizado simbólico como evangélico, embora Bolsonaro seja católico.

«Parte da população evangélica crê que Jesus só voltará à Terra se Israel for respeitado e se sua capital for Jerusalém», diz a professora. Ela cita a crescente conexão simbólica entre alguns grupos evangélicos brasileiros e Israel – exposta, por exemplo, na inauguração em 2014 do Templo de Salomão, nova sede mundial da Igreja Universal do Reino de Deus, em São Paulo.

«A vinda do Netanyahu me parece muito mais conectada ao desejo de (Bolsonaro) prestar satisfação à base interna do que a qualquer sinalização sobre política externa.»

A professora afirma que a simples presença de um líder estrangeiro na cerimônia de posse não indica alinhamento entre os governos. Ela lembra que, em 2015, o então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, esteve na segunda posse de Dilma Rousseff.

Na cerimônia de Bolsonaro, que tem prometido priorizar os laços com os EUA, Washington deve enviar um representante de menos peso – o secretário de Estado, Mike Pompeo.

Ela diz ainda que o convite de Bolsonaro a Netanyahu – cujo governo é acusado de violações de direitos humanos no Oriente Médio – indica uma contradição no discurso do futuro governo, que rejeitou a presença dos líderes de Cuba e da Venezuela na cerimônia citando violações cometidas nesses países.

Netanyahu chega no Brasil nesta sexta, 28, e almoça com o presidente eleito no Forte de Copacabana, no Rio, segundo a assessoria de imprensa da Embaixada de Israel no Brasil. Nos dias seguintes, participa de eventos fechados – um encontro em uma sinagoga, outro encontro com a comunidade judaica – e uma entrevista à imprensa.

No dia 1º, vai à posse de Bolsonaro. À noite, retorna a Israel.

Dessalinização

Pelo Twitter, Bolsonaro anunciou que deseja implementar projetos de dessalinização no Nordeste, buscando parcerias com Israel. O futuro presidente afirmou que a parceria com o país «beneficiará nosso Nordeste» e está «muito bem encaminhada».

Anunciou que o futuro ministro de Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes, visitará Israel no primeiro mês de governo para visitar «instalações de dessalinização, plantações e escritório de patentes».

«Pretendemos ainda em janeiro construir instalação piloto para retirar água salobra de poço, dessalinizar, armazenar e distribuir para agricultura familiar.»

Também disse que o futuro governo estuda «testar tecnologia que produz água a partir da umidade do ar em escolas e hospitais da região».

https://twitter.com/CarlosBolsonaro/status/1078086132578045952

«Livre das amarras ideológicas, o Brasil pode dar os primeiros passos para fora do buraco em que foi colocado pelos últimos governos.»

O Brasil já tem um projeto de dessalinização. Batizado de «Água Doce», foi lançado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2004, durante o governo Lula. Segundo a pasta, o programa já contratou 924 sistemas de dessanilização, dos quais 575 estão em funcionamento e 147, em obras.

O órgão diz que o projeto conta com investimentos de R$ 260 milhões e que os sistemas já implantados têm o potencial de produzir cerca de 2 milhões de litros de água potável por dia, beneficiando aproximadamente 230 mil pessoas no semiárido do país.

A Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental do MMA executa o programa em parceria com todos os Estados da região Nordeste e Minas Gerais.


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