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Rovaniemi, a cidade na Finlândia onde é Natal o ano todo

Para a capital da Lapônia, o verdadeiro milagre do Natal foi levar o turismo para um local longínquo e que foi quase exterminado nos anos 1940.

Rovaniemi, capital da Lapônia, ao norte da Finlândia, é oficialmente a terra do Papai Noel.

O que significa que pouco importa se você vai para lá no dia 25 de dezembro ou, por exemplo, em pleno agosto: vai ter pinheirinho enfeitado, pisca-pisca, desenho de rena por todos os lados, vai ter gente fantasiada de elfo e vai ter um bom velhinho vestido de vermelho pronto para desejar Feliz Natal.

Transformar Rovaniemi na terra do Papai Noel foi muito mais uma decisão econômica do que uma eventual preocupação em honrar uma tradição. Atualmente, cerca de 500 mil pessoas por ano visitam o município de 63 mil habitantes.

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Para a capital da Lapônia, o verdadeiro milagre do Natal foi trazer turismo para um local longínquo e que foi quase exterminado nos anos 1940.

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Durante a Segunda Guerra Mundial, 90% dos imóveis de Rovaniemi foram destruídos. Anos depois, graças a esforços governamentais e financiamento da ONU (Organização das Nações Unidas), o local foi reconstruído.

Os principais edifícios públicos foram concebidos pelo famoso arquiteto Alvar Aalto (1898-1976). E ele fez um plano urbanístico no mínimo curioso: vista de cima, a cidade parece a cabeça de uma rena.

Então o turismo passou a ser utilizado como força motriz para a recuperação da região. Em 1957, a seção de viagens do New York Times já recomendava uma visitinha ao "deserto do norte da Europa".

Mas a cereja do bolo viria apenas nos anos 1980, ano em que a Vila do Papai Noel seria construída, a 8 km da cidade.

Ideia do departamento de turismo finlandês, ela foi concretizada na gestão do então governador da Lapônia Asko Oinas, que em dezembro de 1984 decretou a cidade como "sede oficial" do Papai Noel.

O complexo foi inaugurado em 1985. A divulgação para o turismo ganharia força quatro anos mais tarde, quando as 16 maiores empresas finlandesas se uniriam e criariam a Associação da Terra do Papai Noel.

A partir de então, o país passou a enviar papais noéis treinados a eventos de turismo em todo o globo para promover a região.

História

Mas como foi que uma cidade perto do Círculo Polar Ártico, no gélido extremo norte do planeta, se tornou a terra do Papai Noel?

Trata-se de uma pitoresca história, já que o mito do bom velhinho deriva do religioso católico São Nicolau de Mira, conhecido como Taumaturgo, que nasceu, viveu e morreu na Ásia Menor, onde hoje é a Turquia, provavelmente entre os anos de 270 e 343.

Tudo começou quando, no fim dos anos 1860, a revista feminina norte-americana Harper’s Bazaar passou a publicar ilustrações do velhinho barbudo como sendo um habitante do Polo Norte, ambiente naturalmente propício para renas pastando ao ar livre, aliás.

A lenda foi tomando corpo. Entre 1927 e 1956, o jornalista e locutor de rádio Elner Markus Rautio (1891-1973) encarnou o personagem Tio Markus na rádio estatal finlandesa. Ele tinha um programa infantil no qual trazia a figura do bom velhinho, identificando-o sempre como um ilustre morador da Finlândia.

Provavelmente para dar ênfase ao caráter remoto do local em que o senhorzinho vivia, Tio Markus cravava que o Papai Noel ficava em Korvatunturi, uma erma montanha na fronteira entre a Finlândia e a Rússia, no município de Savukoski – somente o 298º maior da Finlândia, com apenas 1.009 habitantes.

Korvatunturi significa algo como "penhasco da orelha" em finlandês. O nome é por conta de seu formato. Na rádio, Tio Markus enfatizava uma característica do bom velhinho até hoje conhecida: ouvir o pedido de cada criança.

Mas e Rovaniemi?

As cartas enviadas para o Papai Noel para Korvatunturi (no CEP 99999) são direcionadas para a vila do bom velhinho em Rovaniemi, a capital da Lapônia.

De acordo com o Visit Rovaniemi, o órgão oficial de promoção turística de lá, a casa do Papai Noel segue em Korvatunturi.

"Mas como o lugar é conhecido apenas por poucas pessoas, ele decidiu estabelecer seu escritório em Rovaniemi", afirma a entidade.

"Eu vou todos os dias de Korvatunturi para Rovaniemi. Ho ho ho", diz o Papai Noel.

"Minhas renas são rápidas. Korvantunturi é minha casa. Rovaniemi é meu trabalho."

E precisam mesmo ser. Afinal, o trajeto todo é de quase 400 km.

Papai Noel

A vila em Rovaniemi é um complexo de chalés em que funcionam um hotel, dois restaurantes, lojas temáticas, o recanto do Papai Noel e, claro, o correio que recebe cartinhas do mundo todo. Como parte das atrações, é possível interagir com renas e, se houver neve, pilotar um snowmobile.

O trono do Papai Noel fica no centro de uma das casas. Chega-se até ele depois de um percurso em que a história do Natal é retratada, cômodo a cômodo, com cenas temáticas cenográficas.

O bom velhinho que dá plantão na Vila do Papai Noel não sai do papel nem quando interage com adultos – conforme a reportagem da BBC News Brasil constatou quando lá esteve. Se você perguntar a ele se conhece seu país, por exemplo, vai ouvir algo como: "É claro, eu vou para lá todos os anos".

Se você notar que é outro ator no papel porque já houve troca de turno, ele vai seguir agindo como se fosse o mesmo de horas atrás. Afinal, Papai Noel é único. E conhece bem todos nós – comporte-se!

A agência dos correios que funciona na Vila é uma agência real, operada pela Posti, o sistema de correios da Finlândia. É a única que tem um carimbo exclusivo do círculo polar ártico, o que significa que mandar uma carta dali é um souvenir único.

De acordo com dados da Posti, desde 1985, quando a agência foi criada, o bom velhinho já recebeu 15 milhões de cartas de 198 países diferentes. Tudo arquivado ali.

Círculo Polar Ártico

A linha do Círculo Polar Ártico passa pelo meio da Vila do Papai Noel. O que significa que, sim, estando ali é possível cruzá-la. Há uma marca no chão – e fila de turistas à espera de um clique perfeito para postar no Instagram.

Operadoras de turismo oferecem passeios interessantes pela região. Uma vez hospedado ali, vale a pena fazer uma imersão mais profunda. Entre o final de setembro e o início de março, por exemplo, é o período em que se tem mais chance de observar a aurora boreal.

Se for verão, é possível sair para colher frutas vermelhas pelos bosques da Lapônia. Também estão no cardápio de atrações os safáris, nos quais renas são facilmente observadas na natureza.

Uma dessas empresas de safáris da região, aliás, foi quem salvou o escritório do Papai Noel da falência, em 2015. Sim, a crise já acometeu até o bom velhinho.

A companhia que administra o complexo acumulava uma dívida de 206 mil euros com o fisco finlandês.

Na última hora do prazo de pagamento, uma das operadoras de safári injetou o valor necessário para quitar o débito e se tornou sócia da vila. A operação, diz a lenda, garantiu que o Natal seguisse existindo para milhões de crianças em todo o mundo. Ou, ao menos na realidade, garantiu que todo dia fosse dia de Natal em Rovaniemi, no extremo norte da Lapônia.

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