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“Ele me pediu cocaína da melhor qualidade”: o relato do 1º encontro entre os “reis” das drogas Juan Carlos Abadía e El Chapo

Juan Carlos Ramírez Abadía apresentou-se como testemunha de acusação no julgamento de El Chapo em Nova York e descreveu como fornecia drogas ao traficante mexicano.

Bastou o primeiro envio de cocaína a Joaquín «El Chapo» Guzmán para o colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, conhecido também como «Chupeta», conhecer as habilidades do mexicano como narcotraficante.

Em poucos dias, disse Abadía, a droga que entregou no México chegou a seu destino final, em Los Angeles, nos Estados Unidos. «Foi super rápido.»

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Nesta quinta-feira, Abadía deu um depoimento como testemunha de acusação no julgamento de Guzman em Nova York.

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Em outras circunstâncias, sua fala poderia deixar um narcotraficante orgulhoso. Mas, perante um júri, os elogios parecem comprometer ainda mais Guzmán, que corre o risco de ser condenado à prisão perpétua, acusado de enviar mais de 150 toneladas de cocaína para os Estados Unidos.

O testemunho de Abadía foi frio e diferente de tudo o que foi ouvido no tribunal desde o início do julgamento, em 12 de novembro.

Pela corte, no bairro do Brooklyn, passaram de ex-sócios de El Chapo a agentes americanos, assim como especialistas em drogas ou lavagem de dinheiro.

Mas Abadía, de 55 anos e com o rosto desfigurado por cirurgias plásticas, apresentou-se como nada menos que alguém que forneceu drogas a Guzmán: o traficante de um dos traficantes mais famosos do mundo.

«Tiros na cabeça e no rosto»

Ramírez Abadía foi o líder do cartel colombiano Vale do Norte até sua prisão em São Paulo em agosto de 2007, antes de ser extraditado para os Estados Unidos.

Entre 1989 e sua prisão, a organização criminosa exportou cerca de 400 toneladas de cocaína para os Estados Unidos, a maioria deles por meio do cartel de Sinaloa de El Chapo, informou Abadía nesta quinta.

Ele também admitiu que, durante esse período, «aproximadamente 150 pessoas» morreram por ordem sua, inclusive uma que ele mesmo matou em 2004 com «tiros na cabeça e no rosto».

Ele não revelou quem era a vítima, e o promotor que o interrogou evitou perguntar detalhes do assassinato, embora haja a possibilidade de o tema ressurgir quando Abadía voltar a depor na semana que vem.

Para evitar a prisão, o narcotraficante disse que pagou suborno às autoridades mexicanas, tentou apagar seus antecedentes criminais e passou por várias cirurgias plásticas.

«Fiz mudanças no meu rosto», explicou. «Mudei meu queixo, maçãs do rosto, olhos, orelhas e nariz.» Mas nada disso foi suficiente: sua prisão no Brasil foi ordenada com base na tecnologia de reconhecimento de fala.

Agora, ele aguarda uma sentença entre 25 e 30 anos nos EUA, depois de ter se declarado culpado por liderar uma organização dedicada ao tráfico de cocaína e de ter mais de US$ 1 bilhão confiscados em ativos.

Ele fez um acordo de colaboração com a promotoria na esperança de diminuir sua pena.

No tribunal, o colombiano chamou a atenção por suas maçãs do rosto proeminentes e pelo queixo quadrado. Ele testemunhou usando luvas e jaqueta, sentado a poucos metros de Chapo, que o olhava fixamente.

A defesa de El Chapo, por sua vez, questiona a credibilidade de testemunhas que cooperam, como Abadía, considerando-as «ex-criminosos que acusam outros para buscar seu próprio benefício».

«Me teste»

Abadía, que foi descrito por testemunhas anteriores como um dos principais fornecedores do cartel de Sinaloa, disse que se encontrou uma dúzia de vezes com Guzmán entre o começo dos anos 1990 e 2007 para fazer negócios ilícitos.

A primeira reunião aconteceu em um hotel na Cidade do México.

O objetivo era decidir como enviar cocaína da Colômbia para os EUA via México. E, de acordo com Abadía, seu parceiro mostrou-se ambicioso desde o início.

«Ele me perguntou se eu poderia enviar o máximo que conseguisse», disse a testemunha. «El Chapo me pediu que lhe mandasse cocaína 100% pura, de ótima qualidade.»

Eles conversaram sobre as pistas de pouso clandestinas, sua localização, sobre enviar um piloto para conhecê-las, assim como os horários de chegada dos aviões da Colômbia e quantos quilos poderiam transportar.

As pistas estavam em quatro Estados mexicanos: Sinaloa, Durango, Nayarit e Sonora. E os aviões transportavam entre 600 e 1.300 quilos de cocaína.

Abadía disse que, em troca de seus serviços, Guzmán pediu para ficar com 40% da cocaína enviada aos EUA, mais do que os 37% que outros traficantes mexicanos costumavam cobrar.

O «veloz»

O colombiano lembrou a resposta de Guzmán quando foi questionado sobre as razões de cobrar mais do que outros.

«Ele me disse: ‘Sou muito mais rápido, me teste, você vai perceber, e sua cocaína, seus aviões, seus pilotos estarão seguros porque meus arranjos (com as autoridades) são muito bons'», disse Abadía ao júri.

Sua primeira entrega a Chapo, acrescentou, foi de cerca de 4 toneladas de cocaína em cinco aviões que chegaram a uma pista em Los Mochis, em Sinaloa, no meio da noite.

Abadía disse que essa remessa já serviu para mostrar como Guzmán trabalhava – mais tarde o mexicano ganharia o apelido de «O veloz».

Os pilotos disseram à Abadía que a pista estava bem iluminada e que os comparsas de El Chapo foram rápidos para descarregar a coca dos aviões e abastecê-los com gasolina para que pudessem retornar à Colômbia.

Havia até policiais federais, disse a testemunha, que não estavam lá para fazer cumprir a lei, mas para proteger a operação e até para colaborar com o transporte da mercadoria.

A droga foi colocada em vans, cruzou a fronteira dos EUA, e chegou em Los Angeles a tempo recorde.

«Menos de uma semana», disse a testemunha. «Foi a primeira vez que traficantes mexicanos entregaram a cocaína tão rápido.»


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