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O poder que os gestos de políticos e oradores têm sobre o público

Pesquisas sugerem que a forma como palestrantes usam as mãos muda radicalmente a percepção que se tem sobre eles.

Da próxima vez que você assistir a um discurso político, preste atenção ao movimento das mãos do orador. Os gestos são lentos ou enérgicos? Sutis ou expansivos? E como as mãos estão se movendo – na vertical ou na horizontal?

Sabe-se que sinais não verbais são mais relevantes do que fala na forma como uma mensagem é recebida. A voz mais grave aumenta, por exemplo, a percepção de autoridade que os outros têm sobre seu dono – e isso pode influenciar até o salário de CEOs e quanto tempo eles permanecem na empresa, como mostrou a BBC Capital.

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Mais recentemente, uma série de estudos realizados por Markus Koppensteiner na Universidade de Viena, na Áustria, examinou a forma como as pessoas gesticulam – e os resultados são impressionantes.

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Mesmo quando todos os outros fatores são levados em conta, os gestos manuais sinalizam elementos importantes da personalidade, como extroversão e autoridade. Os gestos podem inclusive mudar a percepção sobre a altura física das pessoas, fazendo-as parecer alguns centímetros mais altas ou mais baixas.

As descobertas de Koppensteiner lembram a famosa pesquisa sobre as «posturas de poder», de Amy Cuddy, professora da Universidade Harvard.

Ela desenvolveu a estratégia de ficar de pé, como uma supermulher, com as mãos nos quadris e os pés separados. Esses pequenos gestos de confiança parecem enviar mensagens ao cérebro para que as pessoas se sintam mais assertivas antes de falar em público. Nas palavras de Cuddy, a ideia é «fingir até aquilo se tornar verdade».

A pesquisa de Cuddy foi alvo de críticas, que colocaram em dúvida a confiabilidade dos resultados, mas trabalhos recentes mostram que o poder da postura de fato tem enorme influência sobre a autopercepção.

No entanto, há algumas diferenças importantes com relação às novas pesquisas. Isso porque as posturas de poder devem ser realizadas em ambientes privados para aumentar a confiança antes de uma reunião – e elas são posições estáticas em vez de movimentos fluidos.

A pesquisa de Koppensteiner, ao contrário, examina o movimento das mãos de oradores à medida que eles falam e a forma como isso influencia a percepção de outras pessoas.

Em um estudo típico, o pesquisador seleciona vídeos reais de discursos de políticos e em seguida os transforma em figuras animadas para evitar que outros fatores – como suas expressões faciais – sejam visíveis. Assista a um exemplo (neste link).

Os participantes do estudo tiveram de dar notas aos vídeos animados em relação a alguns traços de personalidade.

Embora algumas características tenham sido difíceis de perceber a partir dos gestos manuais, outras foram claramente visíveis. Extroversão, por exemplo, apareceu relacionada a mais movimentos das mãos, pontuados com apenas alguns momentos de imobilidade.

Percepções de autoridade, enquanto isso, surgiram com movimentos verticais – se suas mãos se movem a partir do nível da tribuna a, digamos, a altura do ombro. As pessoas que frequentemente fazem esse tipo de gesto expansivo tendem a ser vistas como menos agradáveis, porém mais dominantes. «Esse é um resultado muito consistente, que se percebe em vários de meus artigos», disse Koppensteiner.

Em um artigo particularmente surpreendente de 2015, o autor descobriu que essa avaliação da personalidade, baseadas apenas em figuras silenciosas dos indivíduos, era capaz de prever a quantidade de aplausos que os políticos representados na animação realmente receberam.

Mas essas avaliações também previram se os políticos foram vaiados ou interpelados – sugerindo que os gestos de autoridade podem ser percebidos como positivos ou negativos, dependendo do contexto. Talvez, em circunstâncias equivocadas, esses gestos possam ser vistos também como arrogantes, agressivos ou autoritários.

Histórias irreais

Além de alterar a percepção de autoridade, os movimentos verticais também influenciaram na estimativa da altura do interlocutor. «Se as figuras movem seus braços para cima e para baixo com vigor e com vários movimentos expansivos, elas são percebidas como mais altas», explicou.

O mecanismo psicológico exato por trás desse fenômeno não está claro. Como estudos anteriores mostraram que pessoas mais altas são naturalmente consideradas melhores líderes, é possível que os movimentos criem uma ilusão visual de aumento da altura, contribuindo para a percepção de autoridade. Mas isso também poderia funcionar na direção contrária: mais autoridade leva a uma percepção alterada sobre estatura.

«Sabemos que se as pessoas com posições de status mais elevadas são percebidas como mais altas», contou Koppensteiner. Ele lembra, por exemplo, que as pessoas comumente superestimam a altura do ator Tom Cruise (1,72m). Embora isso possa ocorrer por conta do truques de câmera, também pode ter relação com a forma como ele projeta sua confiança.

Os resultados de Koppensteiner parecem reforçar as conclusões de estudos menos formais. Autora e treinadora de linguagem corporal, Vanessa Van Edwards, por exemplo, analisou centenas de palestras TED Talks para compreender por que algumas apresentações viralizam enquanto outras geram pouco interesse – mesmo quando tratam de tópicos semelhantes e transmitem mensagens igualmente atraentes.

Ela descobriu que a maioria dos vídeos bem-sucedidos tinha quase o dobro de gestos manuais (465 contra 272). Em linha com a pesquisa de Koppensteiner, o número de gestos expansivos também previa a avaliação de espectadores ao carisma e à competência dos oradores.

É bom enfatizar que Koppensteiner ainda não testou se as pessoas podem imitar estes gestos expansivos para mudar a forma como são percebidas. Mas ele suspeita que muitas pessoas já empregam esse recurso em suas performances, embora isso seja mais fácil para alguns tipos de personalidade do que para outros. «Você pode produzir certos comportamentos, resultados e impressões nas pessoas, mas há limites», garante.

Como falar em público é frequentemente apontado como uma de nossas maiores fobias, qualquer dica para melhorar essa experiência certamente será bem-vinda. Deixe suas mãos falarem por você, e você perceberá que as palavras falam por si.

  1. Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site da BBC Capital
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