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Eleições 2018: Tucano dá ênfase ao ‘Bolsodoria’ e França se volta ao interior de SP; veja análises

A disputa acirrada que seu viu no primeiro turno da eleição para o governo do Estado de São Paulo – quando Márcio França (PSB) ultrapassou Paulo Skaf (MDB) por margem mínima de votos e se credenciou para ir ao segundo turno contra João Doria (PSDB) – deverá se repetir domingo assim que os paulistas voltarem às urnas para a votação final.

Na reta final da campanha, o voto “Bolsodoria” (Jair Bolsonaro (PSL) para presidente e João Doria para governador) foi a tônica do penúltimo programa eleitoral do candidato tucano, exibido na noite de ontem. Enfatizando sua posição contra o PT e o “socialismo”, Doria tentou colar no adversário Márcio França (PSB) a impopularidade do partido do ex-presidente Lula.

Na propaganda, o ex-prefeito de São Paulo apresentou suas propostas para a segurança pública, área que, segundo ele, será prioridade em um eventual governo seu. Doria disse que vai acabar com as saidinhas de presidiários e que pressionará para a que a maioridade penal seja reduzida dos atuais 18 para 16 anos de idade.

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Já no programa do penúltimo dia de propaganda eleitoral gratuita na TV, que foi ao ar ontem, Márcio França privilegiou o eleitor do interior do estado – região onde aposta suas fichas para crescer nesta reta final.

França trouxe depoimentos de moradores e falou em levar para as cidades do interior serviços como Poupatempo, AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades) e restaurantes do Bom Prato.

O governador também disse que vai valorizar o pequeno produtor rural para ampliar programas como o Vivaleite. “Modernidade, tecnologia e respeito para interior”, prometeu.
No início, alfinetou Doria ao dizer que trabalha “sem destilar ódio e sem estimular conflito”.

Veja análises de cada candidato:

‘Doria se pôs à direita do próprio PSDB’

Marco Aurélio Nogueira
Professor titular de Teoria Política na Unesp (Universidade Estadual Paulista)

Desde o momento em que se lançou pré-candidato, e depois que a sua escolha foi referendada nas prévias pelo partido, João Doria procurou fazer uma campanha à direita do próprio PSDB, fazendo o possível para se mostrar como o representante do antipetismo no estado de São Paulo. Esse comportamento o levou a uma postura não social-democrática, que, em tese, seria a postura de um candidato identificado com o PSDB. Doria procurou fazer uma campanha com muitas propostas no campo do mercado e pouco concentrada na vida das pessoas.

Aquilo que sempre foi a característica básica da social-democracia, que é a de buscar o equilíbrio entre o estado e o mercado, foi dinamitada. Desde a sua campanha para a Prefeitura de São Paulo, em 2016, Doria tem procurado criar a imagem do gestor hiperativo, aquele que faz e acontece, e essa tática foi reafirmada agora. Depois do primeiro turno destas eleições, sua campanha ganhou uma alta dose de oportunismo ao ligar a sua imagem à do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), imaginando se beneficiar disso. Essa operação tem o distanciado ainda mais do PSDB.

França se mostrou como conciliador

Paulo Silvino Ribeiro
Professor de sociologia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo

Márcio França assumiu desde o início e explicitamente a sua experiência política e tentou ocupar o espaço do meio, com discurso conciliador. Sabendo que não é possível negar as forças políticas nem as influências do empresariado, mostrou um comportamento um pouco mais moderado. França sempre teve boa votação entre os eleitores mais humildes e, até por isso e estrategicamente, não desprezou o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), de quem foi vice, e buscou explorar a herança positiva dos tucanos no estado, que têm em Alckmin a sua maior representação destes últimos 24 anos de governo.

Na reta final, ultrapassou Paulo Skaf (MDB) talvez se valendo de um paradoxo: Skaf se colocou como o novo, mas tem imagem de político antigo por ser mais conhecido do que França, que é um político antigo, mas desconhecido do eleitor, portanto, com imagem de um candidato novo. A questão partidária impôs dificuldades para França, que coube na pecha de socialista criada por Doria, já que vem do PSB, um partido socialista – muito embora o entendimento do socialismo no Brasil seja bem diferente daquele dos livros e França seja um político de centro.

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