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Eleições 2018: Haddad vai à igreja e Bolsonaro abraça Nordeste, as novas estratégias da reta final nas redes

Para atrair eleitores do lado oposto, militantes e siglas tentam mudar imagens de presidenciáveis nas redes sociais.

«Patriotas do Nordeste! Precisamos, mais do que nunca, do mais forte apoio de vocês», diz o post da página Jair Bolsonaro Presidente 2018, que traz uma imagem do mapa do Brasil abraçando a região. Um «Tamo Junto» está escrito logo abaixo do desenho.

Fernando Haddad e Ana Estela olham-se com carinho em frente a um padre. Na foto, que chega por WhatsApp, lê-se «30 anos de união. Por Deus, pela família e pelo amor, vote 13!».

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Para disputar os votos do segundo turno, apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) têm mudado suas estratégias nas redes sociais, principal campo de batalha das eleições presidenciais deste ano. Levando em conta o desempenho de seus candidatos, militantes decidiram concentrar esforços para atrair os eleitores que os esnobaram na primeira votação.

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Enquanto as páginas pró-Bolsonaro reforçam a união com o Nordeste, onde o capitão reformado do Exército teve menos votos, as simpáticas a Haddad desejam conquistar o eleitorado religioso ao mostrar o ex-prefeito de São Paulo na igreja. Os petistas também passaram a evitar a cor vermelha em suas mensagens. Agora, usam verde e amarelo.

A BBC News Brasil entrevistou administradores de algumas das maiores páginas do Facebook e grupos de WhatsApp em apoio aos presidenciáveis, além de militantes das siglas, sobre os pontos que pretendem atacar nos adversários e fortalecer em seus candidatos nos últimos dias da corrida eleitoral.

Foco no Nordeste

«Sou do Piauí. Conheço muitos Estados do Nordeste, sei que é uma zona muito vermelha, o berço do Bolsa Família no Brasil.»

O piauiense Gildo Bolsonaro, como se identifica, é administrador da página Somostodosbolsonaro, que tem 1,4 milhão de seguidores no Facebook. Militante que entrou na política neste ano, como candidato (não eleito) do PSL a deputado estadual no Pará, Gildo explica porque sua região de origem é um dos maiores desafios do capitão reformado.

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«Fui ao Piauí agora. Tenho uma irmã de 32 anos que estava chorando porque, se o PT perdesse, ela perderia o benefício e teria que trabalhar. O nordestino entra no comodismo, no sedentarismo.»

Para ganhar esse eleitorado, diz, é preciso garantir que programas como o Bolsa Família vão continuar, mas com modificações. Ele cita a proposta de Bolsonaro de fazer um pente fino nos beneficiários para acabar com irregularidades e usar o valor poupado para oferecer uma espécie de «13º salário» aos inscritos no programa.

Na manhã da entrevista, Gildo havia acabado de postar o vídeo no qual Bolsonaro prometia adotar a medida. Cercado pelos deputados federais recém-eleitos pelo PSC Dayane Pimentel, da Bahia, e Heitor Freire, do Ceará, o candidato apresenta a ideia.

«Falar em tirar Bolsa Família é um ato de desumanidade. Muito pelo contrário, vamos fortalecer e dar para quem necessita. Nordeste, aquele abraço, muito obrigado. Tivemos expressiva votação na região e, em cinco das nove capitais, fomos vitoriosos», diz.

Reforçar o programa é um dos pontos-chave para ganhar mais votos na região, concorda Tony Veríssimo, administrador da página Direita Paraíba, que tem 48 mil seguidores.

Veríssimo não é filiado ao PSL ainda, mas já deu entrada no processo. Ele diz esperar as orientações de Julian Lemos, coordenador da campanha do partido no Nordeste e deputado federal eleito neste ano, para saber o que postar. Há diálogo entre a militância virtual e a sigla, mas essa relação nem sempre segue uma lógica. Algumas páginas são mais independentes que outras, explicam os entrevistados.

Na Direita Paraíba, Veríssimo compartilha vídeos sobre as vantagens de um mandato de Bolsonaro para o Nordeste. Ele também tenta valorizar a quantidade de votos do capitão reformado na região, o que seria uma «reação à altura» das críticas feitas após a vitória de Haddad nessa parte do país.

«Uma de nossas artes mostra os sete milhões de votos que o Nordeste deu, quase 3 milhões acima do que o Aécio teve.»

No primeiro turno das eleições de 2014, o então candidato do PSDB obteve 4.230.137 votos na região.

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Ele diz que pessoas de outras regiões o parabenizam pela divulgação dos números, mas pondera que é impossível evitar as reações negativas.

«Tem idiotas de ambos os lados, são coisas que a gente não pode ter controle. Agora, quem está no Sudeste, que é uma área mais desenvolvida, onde o pessoal tem mais conhecimento, deu 11,3 milhões de votos a Haddad.»

Rebater os ataques que correligionários fizeram a nordestinos após o primeiro turno é outra frente de batalha dos militantes. No WhatsApp e em redes sociais, moradores da região foram chamados de «burros» e «atrasados» por apoiarem o PT.

Para tentar conter a revolta, Gildo postou orientações em sua página. Em uma das montagens, lê-se «Não vamos cair na armadilha da esquerda, não compartilhem nada de ofensivo ao Nordeste!!!».

«A gente sabe que dentro do movimento tem bolsonariano light, extremista ou que aceita qualquer coisa. Sempre tem alguns que atacam nordestino sem pena. Os ataques continuarão acontecendo, mas não podemos generalizar, são casos isolados», diz.

Ele explica que as ofensas ocorreram porque eleitores do Sul e do Sudeste se sentiram «chateados» já que os nordestinos «não queriam progresso no Brasil». Mas agora, Gildo tenta fazer a região se sentir «abraçada».

Em contrapartida, no Nordeste, o PT continua tentando ligar a imagem de Haddad à de Lula. A militância produz memes sobre os programas sociais criados quando o candidato era ministro da Educação no governo do ex-presidente, como o ProUni e o Fies.

A ação de fortalecer outras regiões fora do Sudeste foi iniciada pelo próprio Lula meses atrás. Pessoas ligadas à cúpula do PT contam que ele se reuniu com militantes de base e núcleos de comunicação em vários Estados nordestinos.

São essas pessoas as responsáveis por mobilizar a militância, divulgar correntes e fazer publicações em redes sociais locais.

Haddad e a ‘ideologia de gênero’

Nas páginas pró-Bolsonaro, um dos temas mais explorados é o mandato de Haddad como prefeito de São Paulo. O objetivo, dizem os entrevistados, seria provar que o petista teria sido «um péssimo administrador» e que, se eleito, levaria sua inaptidão para o resto do Brasil.

Em publicações em sua página Jair Bolsonaro Presidente 2018, o consultor de gestão e custos Thiago Turetti critica a redução da velocidade nas avenidas marginais da capital paulista implementada pelo petista. «Quando Haddad foi prefeito de São Paulo, o serviço dos guardas municipais era apenas multar as pessoas», ele escreveu.

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Como Gildo, Turetti começou como militante e hoje integra os quadros do PSL. Ele é presidente da sigla em Pirapora do Bom Jesus, região metropolitana de São Paulo, e explica que, em todo Brasil, o plano é fortalecer o antipetismo. Sua página tem mais de 900 mil seguidores e um alcance de quase um milhão de pessoas.

Além das mudanças no trânsito, uma das queixas mais recorrentes recai sobre o reforço da «ideologia de gênero»: a criação de bolsas para que transexuais da cidade voltassem a estudar e outras medidas em prol da comunidade LGBT.

Segundo o consultor, postagens sobre o que chama de «bolsa travesti» fazem sucesso porque revelam a falta de prioridades do ex-prefeito, que tiraria dinheiro «de áreas essenciais para trabalhar com a bandeira LGBT».

«Mostramos como se Haddad fosse dar dinheiro a criminosos, transexuais e usuários de drogas, como fez em São Paulo.»

Outro argumento que aparece com frequência é o do chamado «kit gay», apelido dado por oposicionistas a um material que fazia parte do projeto do governo federal Escola sem Homofobia, em 2004. A cartilha era voltada para a formação de educadores, e não tinha previsão de distribuição para alunos.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mandou Bolsonaro retirar vídeos da internet que associam Haddad ao termo «kit-gay».

«Um dos casos em que as pessoas têm mais medo é quando atacam sua prole. Tentamos lembrar como Haddad pode ser prejudicial às crianças», diz Turetti.

Tal estratégia tem impacto, sobretudo, sobre as eleitoras. Administradora do grupo Mulheres com Bolsonaro, que surgiu em resposta à campanha do #Elenão e hoje tem mais de 1,3 milhão de membros, a funcionária pública Elisângela Bragança diz que a família é ponto-chave para convencer as brasileiras.

«É falar do futuro dos nossos filhos, mandar mensagens como mãe, esposa e mulher, batalhando pela família, que é tudo. Vamos lutar por uma escola que ensine os valores reais e não sexo.»

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Os militantes também costumam postar vídeos de entrevistas de Haddad, que normalmente são editados. Em um deles, de uma entrevista na GloboNews, o jornalista Merval Pereira faz uma pergunta ao ex-prefeito listando as denúncias do Ministério Público de São Paulo contra ele. Haddad começa a responder, mas logo o vídeo é cortado. As imagens foram postadas na página de Gildo.

«Quando ele foi desmascarado pela mídia televisiva, pegamos as partes específicas. Se você pega o texto, tira o contexto, vira um pretexto para conseguir muitos votos», diz.

«Nós editamos para destacar algumas partes. Cortamos para as respostas mais objetivas dele [Bolsonaro]. Do opositor é fazer a mesma coisa: pegar as partes mais importantes com as falhas.»

Militantes e membros da equipe de redes sociais do PT disseram à BBC News Brasil que «é impossível competir» com os apoiadores do oponente. De acordo com eles, Bolsonaro tem uma rede orgânica consolidada e «ferramentas de compartilhamento de informações».

‘Amarelão’

Recentemente, a maior arma usada pelos militantes petistas para atacar o adversário é sua desistência de participar de debates em rádios e emissoras de TV. Desde o dia em que foi esfaqueado em um ataque em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro não foi a debates nem a coletivas de imprensa.

Suas únicas aparições aconteceram em vídeos publicados em suas redes sociais e em algumas entrevistas.

Essas desistências de Bolsonaro, justificadas pelo candidato como recomendação médica, se tornaram munição para os apoiadores de Haddad, que passaram a chamá-lo de «amarelão».

Outra tática é tentar derrubar a imagem de Bolsonaro como alguém durão e defensor de policiais. Para isso, a militância pró-Haddad usou o depoimento de um coronel da Polícia Militar que defende a candidatura do ex-ministro. O texto teve mais de 50 mil compartilhamentos e quase 150 mil reações.

Nos últimos dias, esses apoiadores passaram a bater na tecla de que o candidato do PSL é ligado a grupos extremistas, como a Ku Klux Klan. Isso aconteceu após uma reportagem da BBC News Brasil revelar que um ex-líder do grupo, conhecido por seus posicionamentos racistas, elogiou Jair Bolsonaro em seu programa de rádio.

Estratégias

Mas não basta ter uma lista de temas para atacar o concorrente. Os «exércitos virtuais» dos dois candidatos também usam diferentes formas de disseminar esse conteúdo.

Nesta semana, um grupo de voluntários criou o site Ativistas com Haddad para tentar alavancar a votação do petista. De acordo com um dos criadores da ação, João Brant, o grupo é formado por 20 pessoas entre publicitários, jornalistas e especialistas em TI que executam dez tarefas diárias para aprimorar a militância. Segundo ele, a iniciativa não faz parte da campanha oficial.

«Essa rede é uma resposta de ativistas digitais que se reuniram para dar um sentido convergente à campanha. Tinha muita gente querendo ajudar, mas não sabia como, então, juntamos esses voluntários num lugar só. A intenção é concentrar informações relevantes para serem usadas nas redes e nas ruas», disse Brant.

A atualização da plataforma é diária e traz dados para atacar Jair Bolsonaro, além de estratégias para rebater as críticas de seus eleitores. Em menos de uma semana, a rede já conta com mais de 51 mil cadastrados. Os voluntários disseram que o número é expressivo, mas assumiram que erraram ao tê-la criado tão tarde.

«A gente acha que demorou, por isso a gente fez [agora]. Percebemos que havia uma lacuna: todo mundo estava ávido por informações e iniciativas que os guiassem de alguma forma. O WhatsApp gera um volume grande de informação, que é difícil de digerir, e queremos ser uma saída para isso», disse Brant.

Segundo os criadores da plataforma, uma de suas maiores dificuldades para atrair pessoas é o medo de que a iniciativa seja falsa.

«Muita gente desconfia que é uma arapuca para captar dados pessoais. Mas podem ficar tranquilas. É completamente seguro.»

No caso de Bolsonaro, o centro da ação está no WhatsApp: boa parte do conteúdo publicado no Facebook vem de lá. O aplicativo é a central de compartilhamento de vídeos, áudios, fotos e memes. Thiago Turetti está em dezenas de grupos, separados por Estados e cidades. Com 70 membros, um deles reúne as lideranças das maiores páginas do país, segundo o consultor. Dali, ele escolhe o que vai postar em suas 24 páginas.

Duas delas – Jair Bolsonaro Presidente 2018 e Jair Bolsonaro 2.0 – foram derrubadas pelo Facebook em março. Desde então, o alcance das publicações caiu muito. O da primeira, por exemplo, ficou restrito a um milhão – ela tem 912 mil seguidores. Além disso, a plataforma impediu que Turetti inclua ou retire administradores.

Com 600 mil seguidores a menos, a página Bolsonaro Herói Nacional, que é administrada por um de seus amigos e não foi tirada do ar, tem suas postagens expostas a 20 milhões de internautas.

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Apesar do alcance impressionante do Facebook, é no WhatsApp que a distribuição das informações acontece. São incontáveis grupos de apoiadores ou simpatizantes do militar reformado, que encaminham as mensagens recebidas para grupos de famílias, amigos ou individualmente para seus contatos, criando uma corrente longa e eficaz.

O aplicativo é a chave para entender as eleições deste ano, diz o professor de comunicação política da UFBA e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital Wilson Gomes.

«São os grupos de WhatsApp que fazem Bolsonaro bater todo mundo.»

O aplicativo tem muitas vantagens em comparação às mídias sociais, o professor explica. Uma delas é sua chegada imediata. Diferentemente do Facebook, do outro lado da mensagem há um celular que nunca desliga. Quando uma pessoa está cansada, ela pode não acessar a rede social, diz Gomes, mas seu smartphone ainda apita com notificações.

«Posso não estar nos grupos pró-Bolsonaro, mas recebo esse material de amigos ou conhecidos. Não tem como se proteger, é o que chamamos de exposição inadvertida.»

Além disso, o WhatsApp ficaria fora do radar de crimes eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral por ser uma rede privada.

O professor de comunicação digital da ECA-USP Luli Radfahrer acredita que a falta de regulação nessas plataformas é danosa para a democracia. As mentiras multiplicariam-se sem controle ou punição.

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«No WhatsApp, há uma quantidade enorme de crimes. Se não permite a pedofilia, por que permite o discurso de ódio? É preciso aplicar a lei de mídia e de liberdade de informação nessas ferramentas.»

Radfaher ressalta que, apesar de serem usadas como fontes de notícia, redes como o Facebook foram concebidas para entreter seu usuários.

«É uma empresa de entretenimento que transformou as pessoas em fonte de informação. Nessa lógica, quanto mais alegórica e ridícula uma pessoa for, mais ela entretém.»

Falhas da esquerda

Para os dois professores, independentemente de como ou para que funcionem as redes, a esquerda brasileira não sabe usá-las. A campanha de Bolsonaro, dizem, está muito à frente da de Haddad nesta seara.

«Lá em 2022 (os petistas) começarão um grupo de WhatsApp. São muito lentos para entender que as eleições são decididas ali», diz Gomes.

Segundo ele, o PT ainda está acostumado com métodos que vêm do sindicalismo e desconfiam das novas tecnologias. Ele cita o fato de que Dilma não postou em sua conta no Twitter, ferramenta adotada por políticos para posicionamentos oficiais, durante quatro anos.

«A esquerda nunca soube fazer campanha digital. Estão ainda em 1917, na militância corpo a corpo. Lula falou para Haddad: ‘conquiste as ruas’. Mas as pessoas não estão nas ruas, estão no celular.»

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Thiago Turetti concorda. «Se o pessoal dos adversários fosse mais esperto, eles recorreriam a… tem muita coisa para trabalhar contra o Bolsonaro. É erro deles mesmo. É burrice.»

A atuação dos apoiadores do candidato do PSL, por sua vez, representaria o contrário: massiva, insistente, capilarizada. Mas Luli Radfharer não a vê como estratégica, e sim como «um berreiro coletivo». Ele diz que o comportamento dos eleitores do capitão reformado é «apaixonado» e tenta ganhar espaço «no grito», em vez de ter um planejamento de ações.

«Não é estratégia, é força bruta. É só bater, bater, bater que uma hora entra. Vai todo mundo berrar contra Haddad, falar do Bolsonaro o tempo todo.»

Tal modus operandi não poderia ser chamado de organização política, ele pondera, porque teria uma lógica mais próxima a da «torcida de futebol».

«É uma declaração apaixonada», afirma o professor.

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