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Assembleia Legislativa de São Paulo começará 2019 com caras novas

O Legislativo que se apresenta em 2019 não terá mais PSDB e PT como maiores bancadas e sim o PSL, de Bolsonaro. Neste cenário inédito, o Metro Jornal traz entrevistas com quatro deputados eleitos para o primeiro mandato e que representam campos distintos do poder

1- Janaína Paschoal

Uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT), a advogada Janaína Paschoal (PSL), 44 anos, afirmou que sua expressiva votação lhe dá legitimidade para disputar a presidência da Casa e descartou assumir cargo em eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL).

A senhora entra com força na Assembleia Legislativa. O que dá para fazer?

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Recebo a votação expressiva como sinal de confiança. Fica muito claro que a votação foi algo pessoal e que tenho independência de não estar ali representando nenhum grupo, mas a população paulista. Entendo que a Assembleia também tem o papel de fiscalizar o Executivo. Olhando de fora, a sensação é que esse papel ficou um pouco para trás.

Em quem votará no segundo turno em São Paulo?

Como terei o dever fiscalizar, não é apropriado subir em palanque. Fico neutra.

Aceitaria cargo federal?

Não acho certo. Muitas vezes votei em senador que tomou posse e virou ministro. Se o Bolsonaro entender por ter-me como conselheira, pego um avião e converso com ele. Uma vez eleita para ser deputada estadual, tenho que cumprir o mandato.

A presidência da Assembleia é uma possibilidade?

Pela minha votação, acho até natural. Sei que há um trâmite, nem estou dizendo que necessariamente tenha que ser eu, mas tenho legitimidade para isso.

Deputados estaduais dizem que a Constituição dá muito poder para as câmaras, municipal e federal, sobrando pouca matéria para as Assembleias. Concorda?

Existe papel da Assembleia. É possível pensarmos em leis estaduais que potencializem leis federais. Tenho interesse em segurança e educação e entendo que é possível.


2- Arthur Mamãe Falei

Foi com o canal do YouTube “Mamãe, falei” que Arthur do Val (DEM) ganhou fama. O youtuber de 32 anos, ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre), se notabilizou pelos vídeos em que provoca militantes de esquerda. Surfando na “onda Bolsonaro”, teve a segunda maior votação para a Assembleia.

Qual é o seu primeiro projeto para o mandato?

Ainda não temos um projeto específico, mas sim um maior: tirar o excesso de estado da cabeça e das vidas dos indivíduos. A máquina do estado é inchada, ineficiente, vai ter que encolher.

Um deputado estadual em São Paulo tem direito a gastar mais de R$ 160 mil por mês com pessoal, fora o salário de R$ 25 mil e verbas de gabinete. Como vai lidar com esses privilégios?

Vamos cortar. O Fernando Holiday (DEM), vereador do MBL aqui em São Paulo, já mostrou como se faz. Ainda não sei exatamente como vai funcionar, mas pode anotar que vou cortar pelo menos metade dos meus privilégios. Não vou usar carro oficial nem auxílio-moradia, por exemplo.

O MBL também elegeu Kim Kataguiri (DEM) para a Câmara Federal. O movimento tem intenção de ocupar mais cargos eletivos nas próximas eleições?

O MBL serve para comunicar o que está errado e mobilizar o cidadão. Nós queremos desmontar o estado por dentro, defendemos uma mudança estrutural.

Ficou surpreso com a sua votação e a força do PSL?

Foi uma surpresa não só com a votação, mas com o apoio popular. A direita-liberal ganhou espaço e as coisas vão começar a mudar. Agora vão ter que levar a gente a sério.


3- Daniel José

Aos 30 anos, o economista e mestre em relações internacionais foi o deputado mais votado do Novo, partido que estreou em eleições. Ele afirmou que terá a educação como foco e que mais do que propor projetos, fiscalizar o Executivo será mais importante no início de mandato.

Como se posiciona o Novo nesta Assembleia com bancadas menores do PT e PSDB e ascensão do PSL?

A fragmentação e a bancada expressiva do PSL aumentam nossas chances de participar de comissões e de fazer trabalhos relevantes.

Qual o foco do mandato?

A educação, onde me especializei. Tenho projeto para criar um “voucher”, espécie de bolsa, para que alunos de escolas com baixo Ideb (índice de avaliação) – e que já não oferecem condições mínimas de ensino – possam estudar em escolas particulares. O custo do aluno no ensino público é maior do que muitas mensalidades. Há Orçamento para isso.

O empreendedorismo também será prioritário?

Um trabalho importante é o de revogar projetos que geram custos desnecessários ao empreendedor. Por exemplo, temos leis que obrigam estabelecimentos a oferecer café amargo e ter copos plásticos para bebidas. São inúteis. Revogar essas interferências é mais rápido do que propor reformas.

Como atuará na renovação que o Novo prega?

Chegamos com campanha diferente e sem rabo preso. Por isso, temos autonomia para fiscalizar o Executivo de forma impactante. É com isso que devemos começar. Apesar das ideias e da motivação, estamos na curva inicial de aprendizagem.

Como fará a gestão do recursos do seu mandato?

Vou usar só metade dos 32 assessores e, com isso, só metade da verba de R$ 160 mil para pessoal.


4- Isa Penna

Em trajetória ascendente, Isa Penna, 27 anos, passou de primeira suplente do Psol na Câmara dos Vereadores de São Paulo para deputada estadual eleita. Vai compor a bancada 75% feminina do partido na Assembleia. Tem no feminismo sua bandeira mais marcante.

Como será sua atuação numa Assembleia polarizada e com tantos candidatos conservadores?

O que está acontecendo no Brasil é uma falsa polarização. As pessoas ainda não entenderam que o modelo econômico do [Jair] Bolsonaro (PSL) é contra os interesses do povo. Nós vamos construir um mandato popular, feminista e de combate à desigualdade.

O Psol seria base de um eventual governo Márcio França (PSB)?

Não, não somos base e não temos compromisso com governo nenhum, temos uma postura de independência. Ao mesmo tempo, defendemos o “nenhum voto ao [João] Doria (PSDB)”, que já se aliou ao Bolsonaro. Vamos ter com todos uma relação de respeito, mas não toleraremos racismo, misoginia e homofobia.

O que significa ter um “mandato feminista”? Haverá diálogo com a Janaina Paschoal (PSL), por exemplo?

Significa que eu defendo os interesses de todas as mulheres, da senhora evangélica à adolescente feminista, o programa é para todas. A Janaína tem uma plataforma oposta a tudo que a gente acredita, mas estamos sempre abertos ao diálogo.

Ser minoria é um problema?

Quando o povo está organizado e lutando pelos seus direitos, os deputados se sentem pressionados. Vou trabalhar com a força das ruas.

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