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Tal pais, tal filhos

Vai parecer estranho começar uma crônica sobre o Dia dos Pais falando das mães, mas a linha de raciocínio justifica. E, já que estou no terreno das ressalvas, vamos a mais uma: os papéis na criação dos filhos podem – e devem – ser fluidos, um ou outro assumindo o protagonismo em circunstâncias tão diversas quanto mutáveis. Dito isso, defendo a tese de que as mães são responsáveis diretas pela educação dos filhos da porta de casa para dentro. Ali serão alicerçados valores importantíssimos, tais como afetividade, intimidade, respeito. O zelo pela higiene, a alimentação saudável, vestir-se bem, acudir e ser acudido na dor. Por fim, e principalmente, das mães brota a autoestima da pessoa.

E os pais? Deles se espera a educação dos filhos da porta de casa para fora, e pode-se entender o útero como a primeira “casa”. Ah, pois é… Desde a largada, o pai é aquele outro cara intrometido entre a criança e a mãe. Um terceiro, um externo, um concorrente. Precisando dividir a atenção da mãe com ele, surgem as primeiras lições de limites, de negociação, de sociedade. Um deverá merecer o amor do outro. Conquistá-lo. Também virá do pai a régua pela qual a criança medirá seus passos no mundo – sempre pelo exemplo, ainda que às vezes pelo avesso. O impacto da presença do pai recairá na autocrítica, um regulador necessário em boa medida.

Fato: a desordem social que experimentamos no momento é causada essencialmente por falhas diretas na referência paterna e em sua necessária construção de confiança e amor com os filhos. Aqui não me refiro apenas aos lamentáveis casos de pais ausentes ou violentos, chaga pútrida e círculo vicioso. Vou um passo adiante: o modo como o pai se relaciona com o mundo será espelho para os herdeiros. Será a escola um castigo ou uma oportunidade? O trabalho é um fardo ou uma importância? O dinheiro é um meio ou um fim? O outro existe como inimigo ou parceiro? Posso mais do que devo, ou devo mais do que posso? Como lido com questões de honra, de responsabilidade, de respeito? E de honestidade? Mostra aí, pai.

Mãe é mãe, porto seguro, colo, compreensão. Lar. Pai é lugar no mundo, conquista, relações. Rua. Para este segundo domingo de agosto, lembro ser a paternidade não apenas uma bênção, mas um legado, um molde. Indivíduos nascem de mães, cidadãos nascem dos pais. Diz o ditado: tal pai, tal filho. Digo eu, um pouco além: tal pai – e tal país –, tal filhos.

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