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Em seca sem precedentes no Reino Unido, ambientalistas usam choques para resgatar peixes encalhados

Técnica imobiliza peixe temporariamente para que seja transferido para outros trechos do rio; segundo serviço meteorológico, é a primeira metade mais seca de um verão britânico desde 1961.

Ambientalistas britânicos vêm realizando operações de resgate de peixes encalhados em rios, em meio a um dos verões mais quentes e secos das últimas décadas no Reino Unido.

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Para o resgate, as equipes da Environment Agency (EA, órgão do governo britânico que trabalha para melhorar e proteger o meio ambiente) recorrem à eletricidade. Cabos elétricos enviam descargas de baixa voltagem pela água.

Os choques imobilizam os peixes por cerca de dez segundos, tempo suficiente para que as equipes recolham os animais em baldes e os transfiram para tanques com água contendo altos níveis de oxigênio.

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Do tanque, o peixe é transferido para trechos posteriores do rio, onde a vazão da água é suficiente para a sobrevivência.

Segundo a EA, esse método de resgate é utilizado porque permite a captura de muito mais peixes do que outros métodos, como redes, por exemplo.

Centenas de peixes podem ser resgatados em uma única operação.

O procedimento pode ser feito a partir de barcos ou por pessoas posicionadas em trechos rasos do rio e vestindo roupas de proteção.

Rio Teme

Um porta-voz do Met Office, o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido, disse que esta é a primeira metade mais seca de um verão britânico desde 1961.

«Tivemos apenas 20% da chuva que normalmente teríamos durante o verão inteiro», disse o porta-voz. «Algumas áreas no sul da Inglaterra tiveram apenas 6%.»

Uma das regiões afetadas pela seca fica na fronteira entre a Inglaterra e o País de Gales, perto da cidade de Knighton. Ali, o calor expôs o leito do rio Teme, hoje cheio de rachaduras – colocando a população de peixes em perigo.

Em entrevista à BBC News Brasil, Dave Throup, chefe do escritório regional da EA no condado de Herefordshire, no sudoeste da Inglaterra, falou sobre as operações da agência para salvar os animais.

«Temos 15 especialistas em resgates na nossa área. É um procedimento técnico que requer treinamento especializado porque você está trabalhando com eletricidade e água, o que não é uma combinação ideal.»

Embora as voltagens sejam baixas, os técnicos precisam estar em ótimas condições de saúde, pois estão sujeitos a choques eventuais, explicou Throup.

«Se você tem problemas cardíacos, por exemplo, essa não é uma atividade para você.»

Throup conta que os técnicos têm de ser ágeis.

«Os peixes maiores vão tentar nadar para longe, então, você precisa ser rápido.»

«Usamos essa técnica com frequência, não apenas em resgates. Por exemplo, para contagens de populações de peixes, ou para saber a idade do animal», disse.

«Nesse caso, imobilizamos o peixe para remover uma de suas escamas.»

Segundo o ambientalista, nos últimos dez anos, o rio Teme secou quatro vezes. Mas, dessa vez, a seca está mais grave.

«O rio secou bem mais cedo.»

Desconforto respiratório

Throup disse que a técnica de resgate por meio de eletricidade é bastante segura.

«Os peixes parecem se recuperar bem. Mas é preciso ter cuidado», disse.

«À medida que o rio seca, formam-se piscinas de água quente onde eles ficam presos, com pouco oxigênio para respirar. Então, no momento do resgate, já estão em desconforto. A grande maioria se recupera bem. É muito raro haver mortes.»

Entre as espécies resgatadas estão o salmão, a truta e a lampreia.

«São peixes importantes e valiosos. Nadam em direção à cabeceira do rio para procriar e acabam presos naquele trecho, que tende a secar.»

A temperatura da água no rio Teme alcançou 22ºC nesse verão – 4 graus acima da média para a estação.

Além da evaporação, outro problema enfrentado pelos peixes é a queda nos níveis de oxigênio na água.

«O calor torna os peixes mais ativos, o que contribui para a queda nos níveis de oxigênio», disse Throup.

Por isso, as equipes da EA também usam equipamentos para bombear oxigênio na água, evitando que os peixes se asfixiem.

Enquanto prosseguem em sua missão de resgate no rio, os ambientalistas vão encontrando peixes cada vez maiores encalhados.

«Estamos lutando contra o tempo», disse Throup. Desde abril desse ano, eles já fizeram 26 operações de resgate na região. «E é bem provável que tenhamos de fazer mais resgates rio acima», disse.

Em uma operação recente, a equipe salvou 500 peixes em dois dias.

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