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Alvo de ataque que matou 5, jornal dos EUA trabalha em estacionamento para pôr edição do dia seguinte nas bancas

Impedidos de trabalhar na redação, fotógrafos e redatores tiveram de improvisar para fechar jornal após ataque a tiros; suspeito tinha perdido processo de difamação contra jornal.

Funcionários do jornal Capital Gazette trabalharam em um estacionamento para conseguir fechar sua edição desta sexta-feira, 29, um dia após um atirador ter invadido a sede do periódico em Annapolis, no Estado de Maryland, nos Estados Unidos, matando cinco pessoas e ferindo outras duas.

Na capa do jornal, sobre os dizeres «5 mortos a tiros», estamparam as fotos de seus colegas assassinados: os editores Wendi Winters, 65 anos, Rob Hiassen, 59, Gerald Fischman, 61, o repórter esportivo John McNamara, 56, e a assistente comercial Rebecca Smith, 34.

Chase Cook, um repórter da publicação de Annapolis, tinha anunciado no Twitter na noite de quinta-feira que estavam «colocando nas ruas amanhã a maldita edição do jornal».

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Horas antes, um homem armado com uma espingarda e granadas de fumaça entrara na sede do jornal e atirara contra a porta de vidro da redação, matando os quatro jornalistas e a assistente comercial.

O jornal existe desde 1884 e publica notícias locais de Annapolis, cidade de 40 mil habitantes que abriga a sede da Academia Naval Americana.

A polícia chamou o tiroteio de «ataque direcionado». O suspeito, identificado como Jarrod Ramos, 38, foi preso no prédio minutos após iniciar o tiroteio.

Segundo informações da mídia americana, Ramos teria processado – sem sucesso – o jornal em 2012 por difamação.

https://twitter.com/capgaznews/status/1012549267368693760

Como foi o ataque

Por volta de 14h40 no horário local (15h40 em Brasília), o suspeito entrou no jornal, que tinha cerca de 25 funcionários, atirando pela porta de vidro da Redação.

Uma funcionária do jornal, Selene San Felice, disse à rede americana CNN que sua primeira reação ao tiroteio foi se esconder embaixo da mesa. Depois, disse, tentou sair pela porta dos fundos, mas ela estava trancada.

O repórter de crime Phil Davis também estava no prédio e disse ao jornal The Baltimore Sun que ele e outros colegas também se esconderam debaixo das mesas.

No Twitter, Davis disse que «não há nada mais aterrador do que ouvir várias pessoas sendo baleadas enquanto você está sob sua mesa e depois ouvir o atirador recarregar (a arma)».

Uma testemunha disse à CNN que, quando a polícia chegou ao local, um minuto depois de ser chamada, encontrou o suspeito escondido debaixo de uma mesa. Não houve troca de tiros.

Ramos, de acordo com a polícia, não quis se identificar e pintou de preto suas digitais. Sua identificação foi então feita com a tecnologia de reconhecimento facial.

Outros 30 escritórios funcionavam no mesmo prédio e a polícia retirou 170 pessoas de lá.

https://twitter.com/PhilDavis_CG/status/1012422058972676097

O suspeito

Em 2011, a Capital Gazette publicou uma reportagem sobre uma ação judicial de assédio movida contra Jarrod Ramos por uma mulher que o acusava de persegui-la.

Segundo a vítima, uma antiga colega de escola de Ramos, ele solicitou sua amizade no Facebook e passou um ano a perseguindo com mensagens pedindo ajuda e depois xingando-a e falando para ela se matar. Ele foi condenado a 18 meses de prisão, em regime de liberdade condicional.

Após a publicação da reportagem, com o título «Jarrod quer ser seu amigo», Ramos entrou com a ação contra o jornal, por difamação e invasão de privacidade, mas perdeu na primeira e na segunda instâncias. O juíz disse que Ramos não conseguiu provar que havia alegações falsas na reportagem.

Segundo o artigo, Ramos havia se formado em engenharia da computação e trabalhado num laboratório de estatísticas do governo americano.

Ramos também atacava o jornal nas redes sociais.

«Jarrod Ramos tem uma longa história de estar com raiva e agir contra o jornal», disse Tom Marquardt, ex-editor-executivo do Capital Gazette ao jornal The New York Times.

«Eu disse uma vez a meus advogados que esse era um cara que iria atirar na gente. Eu estava preocupado, em meu nome e em nome de minha equipe, de que ele iria fazer algo além de uma ação legal.»

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