Brasil

Testemunha diz a Moro que Lula cobrou andamento da reforma via caseiro

O encarregado de obras Misael de Jesus Oliveira, da OAS Empreendimentos, revelou, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, nesta segunda-feira, 18, uma «cobrança» do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao lago do sítio de Atibaia (SP). Misael narrou que o caseiro «Maradona» passava recados do petista.

A propriedade é alvo de ação penal da Operação Lava Jato contra o ex-presidente. Lula é acusado de corrupção e propina nas reformas do sítio. O ex-presidente nega taxativamente ser o dono do imóvel e que tenha recebido valores ilícitos.

Misael foi ouvido como testemunha de defesa de outros dois réus no mesmo processo, o empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e o executivo Paulo Gordilho.

Recomendados

O encarregado citou a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro de 2017. Ele relatou que a ex-mulher de Lula pediu para avaliar um forno na churrasqueira.

«A primeira-dama me pediu diretamente algumas coisas. O presidente, só através de recados. Ele nunca chegou para mim para pedir nada», afirmou. «Ele (‘Maradona’) falava: o presidente tá perguntando quando vai ficar pronto o lago, quando que vai mexer no lago, o que está acontecendo no lago.»

O encarregado de obras disse ainda a Moro. «Ela (Marisa) me pediu para ver com ela para colocar o forno, me pediu para a gente olhar, dar uma opinião para ela», disse.

Misael disse que trabalha na OAS desde agosto de 2013.

«Todas as quartas ela (Marisa Letícia) ia com o segurança e nos finais de semana. O ex-presidente eu vi duas vezes lá», afirmou

Misael contou que Marisa e «Maradona» nunca perguntaram os custos da reforma, custeadas pela OAS. O encarregado de obras estimou as obras em «R$ 400 mil a R$ 500 mil» entre material e mão-de-obra.

«Quando eu saía da OAS, do escritório da Avenida Angélica, eu levava um valor em dinheiro. Junto com esses valores em dinheiro, eu fazia as compras e guardava as notas. Tudo que eu comprava lá em Atibaia, nos depósitos da região, eu prestava contas quando eu voltava para a empresa», afirmou.

Ele relatou que comprava o material com dinheiro em espécie. De acordo com o funcionário, a operação não é praxe na companhia.

«Normalmente, é comprado pela empresa. Quando eu faço algum serviço pela empresa, eu faço três cotações, orçamentos e compra do fornecedor mais barato e a gente executa. Mas isso tudo é pela compra da própria empresa, do setor de compras», disse.

O funcionário relatou que não usava o nome da OAS para as compras. «Normalmente, eu pedia no meu nome, ‘Misael’. Pedia para entregar no endereço que era no sítio.»

Ao juiz Moro, o funcionário disse que participou das obras do sítio de Atibaia em 2014. A reforma teria começado logo depois do carnaval e durado até as eleições daquele ano.

«Meu gerente Luis Alberto me chamou na área dele, com mais três pessoas que trabalhavam comigo, e falou que a gente ia fazer uma reforma num sítio em Atibaia, seria uma reforma no sítio do presidente», narrou a testemunha.

Misael disse que ia «todos os dias» à obra em Atibaia. Ele contou que havia um projeto para construção de uma capela para 12 pessoas na propriedade, que não chegou a ser realizada.

«Assim que passasse a eleição, (ia) começar o serviço da capela», afirmou. «Conversando com o pessoal da empresa, eles pediram para esticar um pouco, para deixar a eleição passar até para ver se a presidente Dilma ia ser reeleita. (…) Pelo que eu entendi, se a Dilma ganhasse, a gente fazia a obra.»

Afirmou que havia «sigilo» sobre as obras «desde o começo». Segundo ele, os funcionários que trabalhavam na obra, iam para o sítio sem o crachá da OAS, deixavam «guardado na empresa».

«Eles pediram para a gente fazer sigilo porque a gente ia trabalhar no sítio do presidente. (inaudível). Ninguém pode ficar sabendo disso, nem aqui na empresa, nem fora. (Inaudível) que a gente não usasse o uniforme da empresa. Foi feito um uniforme sem o nome da empresa», relatou.

Defesa

Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, afirmou: «A testemunha, que é funcionário da OAS esclareceu que as supostas intervenções ocorridas no sítio de Atibaia que pertence a Fernando Bittar teriam ocorrido em 2014, quando Lula não exercia qualquer cargo público. Também confirmou que jamais conversou com Lula ou recebeu qualquer valor proveniente de contratos da Petrobras, que é a base da acusação contra o ex-presidente e o argumento dos procuradores para escolher o juiz Sergio Moro para julgar a ação. Lula jamais praticou qualquer crime antes, durante ou após exercer o cargo de Presidente da República».

Tags

Últimas Notícias


Nós recomendamos