Para um homem que gosta de bifes bem passados com um pouco de ketchup ao lado, foi um cardápio bastante complicado.
«Kerabu – salada de manga verde com molho de mel e limão e polvo fresco»; «Oiseon – pepino recheado coreano»; «Daegu jorim – bacalhau assado à soja com rabanete e legumes asiáticos».
Esses foram alguns dos pratos servidos nesta terça-feira no encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un.
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Cingapura, que gastou US$ 15 milhões com essa cúpula, não perdeu a chance de dar aos visitantes de alto perfil uma amostra de sua própria comida. A cidade é conhecida por sua diversidade e mistura de pratos chineses, indianos e malaios (os três principais grupos étnicos locais).
O cardápio mistura pratos coreanos e típicos de Cingapura, com algumas alternativas mais ocidentalizadas para agradar a ilustres visitantes americanos – como o tradicional coquetel de camarão. Veja o menu completo:
Entradas
Tradicional coquetel de camarão servido com salada de abacate
Kerabu – salada de manga verde com molho de mel e limão e polvo fresco
Oiseon – pepino recheado coreano
Pratos principais
Costela confitada de carne, servida com batata gratinada (dauphinoise) e broccolini ao vapor, com acompanhamento de molho de vinho tinto
Combinação de carne de porco crocante agridoce e arroz frito Yangzhou com molho caseiro de pimenta XO
Daegu jorim – bacalhau à base de soja com rabanete e legumes asiáticos
Sobremesas
Uma tartelete de chocolate amargo com ganache e sorvete de baunilha Haagen-Dazs com coulis de cereja
Torta tropezienne
O cardápio virou assunto de grande interesse nas redes sociais e deu pano a manga para vários comentários irônicos.
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‘Será que chegam ao sorvete?’
Sasa Petricic, uma jornalista da rede de TV e rádio CBC, do Canadá, perguntou se os dois líderes iriam «alcançar o (sorvete)Haagen Dazs sem derreter, ou as coisas vão azedar pelo porco crocante?».
Outros ponderaram se Trump comeria algo como um polvo.
Já internautas coreanos chamaram a atenção para o que parece ter sido uma confusão feita pelos anfitriões.
O prato tadicional oiseon, feito de pepinos recheados com carne, ovo e cenoura, é dos tempos da dinastia Joseon, que governou a Coreia de 1392 a 1897.
E era o tipo de prato consumido pela família real.
É como se primeiro-ministro francês oferecesse um cisne assado – um dos pratos favoritos do rei Henrique 8º, da Inglaterra – a um ilustre convidado britânico.
Não é de se admirar que jovens coreanos estivessem coçando a cabeça. Alguns – compreensivelmente – confundiram o prato com «oisobagi», o pepino kimchi, algo que as pessoas comem diariamente.
«Eu me pergunto como seria o gosto do ‘oiseon'», tuitou um sul-coreano.
Outro prato no cardápio – o Daegu Jorim – é mais familiar. Nele, a carne, o peixe ou os vegetais cozinham em um caldo à base de soja até que a maior parte do líquido seja absorvida. É bem comum entre os diversos outros pratos pequenos que compõem uma refeição típica coreana.
Portanto, é seguro dizer que, enquanto o macarrão instantâneo de Pyongyang (que Kim serviu a seu colega sul-coreano quando cruzou a fronteira pela primeira vez em abril) não estava no cardápio, os anfitriões de Cingapura fizeram um esforço significativo para fazer o líder norte-coreano se sentir em casa.
E, claro, não poderiam deixar de dar a Trump o mesmo tratamento. O cardápio traz comidas que não estariam fora de lugar em um restaurante da Nova York dos anos 80.
Para começar, ele poderia ter escolhido o «coquetel de camarão tradicional servido com salada de abacate». Depois, teve a chance de provar um «confit de costela de carne de bovina servido com batatas gratinadas e broccolini cozido no vapor». E para sobremesa, «o sorvete de baunilha Haagen-Dazs com coulis (uma espécie de calda) de cereja».
E se havia alguma dúvida de que a costela foi preparada para Trump, é só observar que o molho de vinho foi servido como «acompanhamento» opcional.
Trump é notoriamente um abstêmio.
Além da costela confitada, o outro principal era uma «combinação de carne de porco crocante doce e azeda e Yangzhou, um arroz frito com molho de pimenta XO feito em casa» – o tipo de prato que você acharia em um restaurante chinês cingapuriano.
XO é um molho feito com conhaque envelhecido («extra-old» em inglês, daí a sigla XO), vieiras secas e camarão, alho e pimenta.
Mas, embora alguns cingapurianos o reivindiquem como seu, acredita-se que ele tenha sido criado em Hong Kong nos anos 80.
O arroz frito de Yangzhou é um aceno direto para a China – uma presença iminente, mas invisível, nessas conversas.
Vale a pena notar que esse tipo de arroz frito é o típico servido em restaurantes chineses nos EUA. Talvez essa fosse uma mensagem sutil de que os EUA e a China poderiam trabalhar juntos em um acordo sobre o futuro da Coreia do Norte. Ou talvez estejamos fazendo leituras além da conta.
O outro prato «local» no menu foi um malaio, «a salada Kerabu de manga verde com molho de mel e limão e polvo fresco».
Kerabu é um tipo de salada, geralmente feita com um molho que leva suco de limão, açúcar e pimenta.
Portanto, trata-se de um menu cuidadosamente construído para acenar a todos os principais participantes – os EUA e o Ocidente (seria um exagero dizer que o ganache da tartelete de chocolate seria uma piscadela para a União Europeia?), as Coreias, a China e Cingapura.
O Japão e a Rússia podem ter se sentido deixados de fora – mas aí já é pedir demais para a diplomacia de cardápio.