Com mais de três séculos de história, Bento Rodrigues, na região central de Minas Gerais, nunca mais vai existir. Do tsunami de lama e ruínas de casas e comércios que já abrigaram quase 600 pessoas, restaram os laços afetivos e as memórias coletivas. Mas a esperança de retomar parte do que foi o distrito se reacendeu entre os moradores: o canteiro de obras do reassentamento começou a ser implementado.
A estrutura será montada na área conhecida como Lavoura, a oito quilômetros do antigo distrito e da cidade de Mariana. De acordo com a Fundação Renova, as primeiras ações na região serão a supressão vegetal e terraplenagem, com expectativa de serem concluídas em até 45 dias. Depois, escritórios e estrutura de apoio para as empresas que realizarão a intervenção vão ganhar forma.
Leia mais:
Ibirapuera ganha primeiro ponto de coleta de lixo eletrônico
Casos de conjuntivite explodem na cidade de São Paulo
Recomendados
Temporal deixa 1,2 mil desalojados no sul do Espírito Santo
Em crime bárbaro, criança de 12 anos é vítima de estupro coletivo em aldeia indígena
Motorista que atropelou Kayky Brito se emociona ao falar sobre o assunto em programa ao vivo: ‘O trauma...
A previsão é que a implantação do canteiro seja concluída em setembro deste ano. Já o início da construção da vila, que também vai contar com igrejas, praças, escola e outros equipamentos públicos, depende da aprovação do licenciamento ambiental – o processo está em curso.
A gerente do programa de reassentamento, Patrícia Lois, garantiu que a discussão da Nova Bento contou com participação da comunidade. “São os próprios atingidos pelo rompimento que definem a ordem de prioridade das ações”, afirmou.
Integrante da comissão das vítimas do derramamento de lama, a partir do rompimento de uma barragem com rejeitos da mineradora Samarco, em novembro de 2015, Mauro Marcos da Silva ainda vê com desconfiança o projeto. “As licenças para o início do reassentamento ainda não saíram. A implantação do canteiro de obras é, sim, um passo, mas não é o início, como a Renova tem anunciado.”
O comerciante, que foi criado em Bento Rodrigues, contou que pelo menos 15 famílias ainda não tiveram os seus direitos completamente reconhecidos pela Renova. “E o cadastramento dos atingidos está paralisado por falta de recursos. A cada audiência na Justiça, vemos mais pessoas não reconhecidas, tanto moradores quanto pessoas que exerciam atividades econômicas na região”, afirmou.
Em nota, a Fundação Renova alegou que desconhece “casos de pessoas moradoras de Bento Rodrigues que não recebem auxílio financeiro”.
A passos lentos
A saudade também é constante entre os antigos moradores da Paracatu de Baixo e Gesteira. Das antigas igrejas coloniais e casas que viram crescer gerações, restaram ruínas e a sensação de desdenho. “Se tivessem levado a questão do reassentamento mais a sério, teríamos avançado mais”, disse Luiza Queiroz.
De acordo com a Renova, os terrenos para construção da nova vila de Paracatu de Baixo já foram adquiridos e a próxima etapa será a discussão do projeto urbanístico com as famílias. Sobre Gesteira, a fundação afirmou que apresentou o Plano Popular de Reassentamento.