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Obras do PAC param e Vila de Paranapiacaba vive dias de ruínas

Tapumes, mato alto, telhados quebrados, piso afundando e casas em ruínas. Esta é a cena que predomina na parte baixa da Vila de Paranapiacaba, principal ponto turístico de Santo André e patrimônio nacional pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

O abandono é resultado da paralisação do projeto de restauro das 242 casas de moradores e de outros três equipamentos públicos. A revitalização dos imóveis construídos em 1860 foi anunciada em 2013 por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Cidades Históricas, do governo federal. As intervenções começaram em 2015 e tinham como previsão terminar neste ano. No entanto, a Prefeitura de Santo André atualmente não dá prazo para retomada da reforma e nem a nova data de término.

Em julho do ano passado, o Metro Jornal mostrou que as obras já estavam paralisadas e que só oito casas haviam sido restauradas. Quase um ano depois, nada mudou. De acordo com a administração municipal, o motivo da suspensão foi “a necessidade de adequação do contrato firmado com o Consórcio Restauro Vila de Paranapiacaba, responsável pelas intervenções”.

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A gestão ainda explicou que está realizando laudo técnico e, só após a finalização, as obras de restauro poderão ser retomadas. Entretanto, também afirmou que oito imóveis – sem incluir casas de moradores – foram restaurados neste período, como a sede do Corpo de Bombeiros, o Antigo Mercado, entre outros.

Moradores e membros do Comdephaapasa, conselho do patrimônio histórico da cidade, criticam o rumo que as obras tomaram e afirmam que falta transparência por parte da prefeitura.

“Infelizmente, o PAC Cidades Históricas não conseguiu nenhum de seus objetivos de inserir os moradores, fomentar o turismo e recuperar os bens históricos”, afirma Eduardo Pin, morador da Vila, membro do Comdephaapasa e presidente da AMA (Associação dos Monitores Ambientais de Paranapiacaba).

Moradores relatam pressão para assumir reforma

Com o projeto de reforma das casas orçado em R$ 42 milhões paralisado, moradores disseram  à reportagem que estão sendo pressionados pela Prefeitura de Santo André a realizarem por conta própria melhorias nos imóveis.

As moradias tombadas como patrimônio na parte baixa são de propriedade da gestão municipal e estão locadas para terceiros. De acordo com a prefeitura, o contrato firmado entre ambos autoriza os inquilinos a realizarem intervenções básicas.

O membro do Comdephaapasa Eduardo Pin afirma, porém, que moradores de baixa renda são pressionados a realizar intervenções estruturais, sob pena de serem desalojados. “Tivemos relatos de ao menos 10 casos como este. O dinheiro investido no imóvel da prefeitura não é descontado do aluguel. Em dois casos, de danos na fundação do imóvel e outro de uma varanda arriada, eles pediram laudo de arquiteto. Quem aqui na Vila vai ter dinheiro para isso?”, questiona.

O pedreiro Gilmar Batista da Silva, 54 anos, está entre os que precisaram colocar a mão na massa. No total, Silva gastou cerca de R$ 8 mil. “A minha (casa) está precisando muito do restauro. Eu fiz essa manutenção para ela não cair. Dá dó ver essas casas fechadas ou caindo os pedaços.”

O autônomo Rodrigo da Silva Diniz, 34 anos, espera trocar de casa. Sua atual residência, localizada logo na entrada da parte baixa, possui diversos buracos no teto e tem paredes mofadas.

“Quando chove é goteira para todos os lados. Tenho que criar meus dois filhos pequenos nessa casa sem nenhuma condição. Sei que posso mexer no imóvel, mas não tenho dinheiro”, afirmou.

A prefeitura diz que identificou moradores que destruíam a casa por abandono e solicitavam a troca de imóvel e outros que há 20 anos não executam manutenção. “Procuramos conscientizar e valorizar o morador como agente importante na preservação do patrimônio histórico”, diz em nota.

Paranapiacaba sonhava com título da Unesco

As obras do PAC Cidades Históricas em Paranapiacaba foram apresentadas em 2013 como a última etapa para que a Vila pudesse voltar ao seu velho sonho: alcançar o título de patrimônio mundial pela Unesco. A atração chegou a participar de uma lista inicial de bens indicados pelo Brasil em 2010, mas desistiu por conta da necessidade de reformas.

O pesquisador e historiador Adalberto Almeida, presidente do Instituto do Patrimônio do ABC, afirma que uma das maiores dificuldades do restauro é a falta de mão de obra qualificada. “É muito trabalho, pouca verba e mão de obra difícil de encontrar. Existe a necessidade de um corpo técnico excelente e de olho mais apurado, que nem todo mundo tem”, disse. Para Almeida, deixar moradores realizarem a manutenção nas casas traz complicações para as características originais dos imóveis. “Podem acontecer aberrações.”

O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão federal responsável pelo PAC Cidades Históricas, diz que a prefeitura suspendeu as obras em maio do ano passado para revisar prazos e custos no contrato. “Deste modo, o prazo de retomada e, consequentemente, de conclusão depende da finalização desses serviços.” 

 

 

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