Não é de hoje que a gente escuta «bandido bom é bandido morto» ou «direitos humanos não vai à casa das vítimas, só dos bandidos». Mas por que o brasileiro está tão descrente com os direitos humanos nos últimos tempos?
«As pessoas estão cansadas da impunidade. Prende-se muito, mas prende-se mal: a grande maioria dos presos são pobres. Só agora poderosos e ricos estão começando a prestar contas com a Justiça também. Isso faz com que o sistema estatal entre em descrédito», opina Flávio de Leão Bastos Pereira, doutor em Direito Político e Econômico pela Universidade Mackenzie.
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Embora esse tipo de pensamento já esteja presente na sociedade brasileira há muito tempo, a internet contribuiu muito para uma expansão dessa ideia contrária. Além disso, também há violação dos direitos humanos por parte dos próprios agentes do Estado.
«A liberdade de expressão é tolhida no Brasil. Outros direitos que também não são cumpridos são os direitos de liberdade de ir e vir e relacionado a segurança – você vê aí a violência descontrolada no país todo», diz Pereira.
Um agravante para isso é o distanciamento entre sociedade e política, fazendo com que a população acabe se convencendo que os direitos humanos e o próprio sistema democrático talvez não funcionem tão bem assim.
«O brasileiro não participa da política para construir um país melhor. Esse estado de coisas é resultado de centenas de anos de governos que governaram para poucos», aponta o professor da Universidade Mackenzie.
Como isso pode mudar?
Para que isso mude, é preciso que propostas levem as pessoas a voltarem a perceber os benefícios da Declaração Universal dos Direitos Humanos e como elas são boas para toda a população.
A principal delas é investir em políticas públicas nesse sentido, mas essas são medidas a longo prazo. «É preciso investir em políticas que combatam a desigualdade social. Sem diminuí-la, a violência continua», aponta Marcos César Alvarez, doutor em Sociologia pela USP (Universidade de São Paulo).
É necessário também pensar em ações de curto prazo. «Precisamos avançar em projetos de segurança. O Brasil continua sendo um país muito violento e isso tem que ser atacado», diz o professor da USP.
Além disso, a participação popular na política é outro elemento essencial para essa mudança. «Hoje, poucos estão debatendo em quem vai votar para o legislativo, por exemplo. E esse é o poder mais democrático, que realmente representa o povo», opina o professor do Mackenzie. «Mas apesar de tudo, o momento esta sendo didático. As pessoas estão mais críticas e discutindo mais política».
O professor Alvarez concorda e garante que o atraso no cumprimento dos direitos humanos é o problema mais grave do Brasil – mais até que a corrupção.
«É preciso combater essa cultura de que autoridades, políticos ou qualquer pessoa na televisão podem falar e fazer discursos contra os direitos humanos. Em nenhum país democrático essa fala faz sentido», diz. Para ele, esse tipo de fala busca tirar a legitimidade de trabalhos e ações de pessoas e instituições que buscam reduzir a violência.