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Uso de ônibus é o menor dos últimos 5 anos no ABC

Quantidade de passageiros teve diminuição média de 10,4% na rede municipal da região entre 2013 e 2017

Tiago Silva/Arquivo Metro

Érica Martins, 29 anos, fez as contas no meio do ano passado e resolveu abandonar o transporte público. Ela mora em Santo André e se desloca diariamente até seu trabalho na região do Sumaré, na capital.

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A maratona utilizando transporte público conta com até dois ônibus, trem e metrô. “O preço pago em tarifas não valia a pena. Resolvi comprar um carro para economizar e ganhar também mais conforto”, contou.

Assim como ela, milhares de moradores do ABC resolveram abandonar o transporte público. A quantidade de passageiros na rede municipal alcançou no ano passado o menor número dos últimos cinco anos.

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A redução geral chega a 10,4% na comparação entre os anos de 2013 e 2017. Os dados foram fornecidos pelas prefeituras a pedido do Metro Jornal. Santo André amarga a maior queda: 17%.

A redução no uso acompanha também a estagnação da frota, o aumento da idade média dos veículos e tarifas mais caras nas cidades do ABC.

São Bernardo tem os ônibus mais velhos na região, apesar de ações recentes para renovar a frota. A idade média dos veículos é de 6 anos e se manteve assim desde 2013. Em São Caetano, a idade é 5,92. Santo André tem o melhor índice: 5,25 anos. O número, porém, é o maior desde 2013.

Quem também subiu no período foi a tarifa. Desde o mês passado ela custa R$ 4,40 em São Bernardo, única com reajuste neste ano. Santo André cobra R$ 4,20 e São Caetano, R$ 4.

Os dois primeiros valores ultrapassam os R$ 4 cobrados nos ônibus da capital, trem e metrô. Em 2013, ano das manifestações contra os aumentos nas tarifas, as passagens dos ônibus no ABC custavam R$ 3.

Em relação a quantidade de ônibus em circulação, as cidades registraram quedas pontuais em média de 2% no período, com exceção de São Bernardo. (veja os números completos ao lado)

Trens

Apesar da queda de passageiros nos ônibus, a linha 10-Turquesa da CPTM  (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos ), que atende as cidades do ABC, conseguiu pequeno aumento no ano passado, de 0,04%.

O índice é menor que a projeção alcançada ao se somar todas as linhas da companhia, que tiveram público alavancado em 4%.

Tarifa alta e desemprego podem ter influenciado

Especialistas em transporte público afirmam que o momento socioeconômico precisa ser levado em consideração na análise sobre a queda de passageiros no ABC.

A professora de mobilidade urbana da UFABC (Universidade Federal do ABC) Silvana Maria Zioni afirma que houve envelhecimento da população, com menos pessoas utilizando o ônibus, e aumento da renda na classe média, com mais carros nas ruas. “É um movimento que vem ocorrendo na região metropolitana na última década.”

Para a professora, momentos de crise econômica nas décadas de 1980 e 1990 também tiveram redução. “O ABC vai ser laboratório agora para as mudanças no transporte com a reforma trabalhista e menos pessoas com acesso ao vale transporte.”

O mestre em transportes do Centro Universitário da FEI Creso Peixoto aponta o desemprego e a crise econômica como determinantes para a queda de passageiros. “A cada 1% de redução no PIB (Produto Interno Bruto), há estimativas de queda igual em veículos transitando nas ruas. As tarifas altas também desanimam o trabalhador em época de crise”, explicou.

Peixoto diz que a chegado do metrô poderia dar nova importância aos ônibus. “Eles alimentariam a rede metroviária.”

A professora Silvana afirma que a rede precisa se reformular para voltar a ser atraente. “Se o ônibus ficar mais rápido com o corredor exclusivo, já é um ganho. O pior dos mundos é quando sobe a tarifa e o serviço não melhora.”

As melhorias no sistema 

O maior projeto para tornar o transporte público mais atraente é da Prefeitura de São Bernardo. A previsão é entregar neste ano três corredores exclusivos. Outros três entraram em obras neste mês e devem ser finalizados em dois anos. Santo André diz apostar na nova licitação para os ônibus da Vila Luzita, ainda sem data para ser publicada. São Caetano informou ter substituído 12 ônibus por modelos novos e com acessibilidade no último ano. 

 

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