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Mulheres de Coragem: Assédio no Metrô

Na França, campanhas como '#balancetonporc' (algo como 'dedure teu porco') levaram a um aumento de 31% nas queixas de crimes sexuais no último trimestre de 2017 AFP

O ano de 2017 ficará marcado como o momento em que as mulheres decidiram dar um basta ao machismo velado e enraizado em todos os âmbitos da sociedade. Com a hashtag #MeToo, criada pela ativista norte-americana Tarana Burke, elas trouxeram à tona seus relatos de assédio e abuso sexual e incentivaram muitas outras a fazerem o mesmo.

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Capa da Time, em 2017

Esses 365 dias realmente foram delas, que estamparam a capa da «Time» como Pessoa do Ano e despertaram o mundo para ouvir o que elas tinham a dizer. Pela primeira vez, a revista decidiu eleger não apenas uma pessoa para o título, mas todo um grupo.

É importante entender que um movimento não se faz apenas com uma pessoa, por mais conhecida e prestigiada que ela seja. A cada relato, a rede de apoio dessas mulheres se intensificava e, juntas, elas iam se tornando mais fortes. Toda denúncia era uma verdadeira vitória, um grito de coragem, uma realização pessoal em não mais se calar.

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Para a série de reportagens «Mulheres de Coragem», nós ouvimos três histórias de mulheres paulistanas com perfis, idades e áreas de atuação diferentes. Todas foram vítimas do machismo. E todas deram a volta por cima, cada uma a sua maneira, e deram sua contribuição para reafirmar o movimento em terras brasileiras.

Esta é apenas primeira.

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Caroline Apple, 33 anos, jornalista

Era uma quarta-feira quando Caroline voltava para casa, por volta das 20h, como era parte de sua rotina. Pegar o metrô lotado não era nenhuma novidade, ainda mais se tratando da linha 3-Vermelha, conhecida por suas aglomerações. Nesse dia, a jovem seria vítima de assédio.

«Não entendi muito bem o que tinha acontecido até perceber que minha calça estava molhada. Não era a primeira vez que eu era assediada e, realmente, senti ele encostando em mim. Só olhei para trás, com olhar de reprovação. Quando subi as escadas, percebi o feito, mas era tarde.»

Um homem havia ejaculado em sua calça. A revolta fez a jornalista procurar imediatamente um funcionário do Metrô, esperando que ele a amparasse de alguma forma. «Ele simplesmente me mandou para casa e deixou claro que [aquilo] não era algo incomum naquele horário. Eu tive nojo!»

Na época, a profissional trabalhava no portal R7 e decidiu compartilhar seu relato no portal, que ganhou grande repercussão. «Fiquei três dias sem dormir direito. Ouvi coisas horríveis sobre o como não percebi, se eu era realmente gostosa para um cara gozar em mim.»

Apesar das reações negativas, Caroline não se deixou abalar. Depois da publicação, foi procurada pelo Metrô, que gostaria de dar explicações, e também recebeu um pedido de desculpas do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Mais tarde, ela se tornaria uma das apoiadoras do movimento «Jornalistas Contra o Assédio», que buscou denunciar o crime no ambiente de trabalho e encorajar as mulheres a denunciar.

Se ela reagiria de novo? Sem pensar. «Tarado no metrô comigo nunca teve vez», como escreveu no artigo. «Certa vez vi um bêbado encoxando mulheres no metrô e o coloquei para fora do vagão pelo colarinho. Não recomendo ações extremas. Se não consegue reagir, não reaja e nem se sinta culpada. O processo é pessoal e deve ser respeitado. O que as mulheres que reagem gostariam, no fim das contas, é inspirar outras mulheres a denunciar. A vítima define como é o comportamento ‘certo’. A gente só sabe quando acontece com a gente.»

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