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Da Grécia aos dias atuais: a trajetória das mulheres na ciência

General Photographic Agency/Stringer

“Na vida, não existe nada a temer, mas a entender”, disse Marie Curie. A cientista de origem polonesa é uma das primeiras a serem lembradas quando o assunto é mulheres na ciência. Não é à toa: ela é a única a ter recebido duas vezes o prêmio Nobel, um de física e outro de química. Mas essa relação entre ciência e mulheres existe há muito tempo.

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Desde a Grécia antiga já existiam pesquisadoras. Embora com restrições, elas contribuíram para diversas áreas do conhecimento humano, de filosofia natural a medicina. No século 17, várias delas criaram laboratórios dentro das cozinhas, mas, com o desenvolvimento da química moderna, passaram a ser mal vistas nesse meio.

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Mesmo assim, houve quem não se deixasse intimidar: Katherine Jones, conhecida como «lady dos fornos», trabalhou ao lado do irmão, o químico Robert Boyle, descobrindo diversos tipos de remédios. Um pouco mais tarde, no século 18, Marie Lavoisier desenvolveu, ao lado do marido, várias pesquisas, mas que foram sempre creditadas como obras exclusivamente dele.

Esse tipo de situação se estendeu por muito tempo. Somente no século 19 foram dados os primeiros passos para a inclusão real de mulheres no meio científico e acadêmico, com a permissão para estudar em universidades. Com os prêmios Nobel de Curie, já não foi mais possível deter o avanço e as mulheres começaram a entrar de vez nesse mundo.

«A gente só começou a ouvir falar dessas mulheres agora e isso porque estamos revendo a história da ciência», afirma o professor de História da Ciência na PUC-SP José Luiz Goldfarb. «Nós temos um passado muito negro para a presença da mulher na ciência. Se pensarmos em 15 anos atrás, não havia muita coisa».

Após o Nobel, Curie empregou várias mulheres, contribuindo para o crescimento delas no meio. Paralelamente, a astronomia também se desenvolvia. Na virada do século 20, aparecem as «computeiras», mulheres apaixonadas por cálculos, que auxiliavam nas medições cósmicas. Annie Jump Cannon, uma astrônoma americana da época, classificou mais de 300 mil corpos estelares, se tornando uma das maiores cientistas da área. «Ela também criou uma forma de medir o tamanho do céu, o que ajudou a estudar a teoria do Big Bang», diz Goldfarb.

Para o professor de História da Ciência, as questões sociais influenciaram muito na conquista desse espaço. «A questão do sufrágio motiva muito esses avanços», afirma. Já mais próximo da gente, o professor aponta como outra grande influência o movimento de contracultura, nos anos 1960. «Esse é um momento decisivo que, de um modo geral, acaba com as barreiras das mulheres no mundo científico».

As consequências foram muitas. Um exemplo é a inclusão delas nos programas de doutorado, por exemplo. O professor Goldfarb cursou o mestrado em História da Ciência em 1970, pela McGill University, no Canadá. «Minha surpresa era que a mulher do meu orientador, Marta Bunge, era a primeira doutora do departamento de matemática da universidade», conta.

«Ainda faltam oportunidades, claro. Se você limita a entrada de mulheres na ciência, elas ficam em defasagem, mas a partir do momento que você abre as compotas, elas vão entrando», argumenta Goldfarb. Hoje, as mulheres já respondem a metade da pesquisa científica no Brasil, segundo o relatório «Gender in the Global Research Landscape» da editora Elsevier.

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