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De corte de impostos a Empire State, checamos 7 afirmações de Trump no discurso do Estado da União

A BBC verificou o que o presidente disse em seu primeiro discurso para prestação de contas ao Congresso

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez nesta terça-feira seu primeiro discurso sobre o Estado da União – tradicional prestação de contas ao Congresso – em 80 minutos recheados com dados sobre melhoras na economia do país e uma série de recordes. Nem todos eles, porém, resultam de políticas inauguradas em seu governo, como aponta o BBC Reality Check, serviço de verificação de fatos da BBC.

A checagem mostra, por exemplo, que gestões anteriores também contribuíram para que o país alcançasse resultados apresentados como os melhores da história, em um discurso que englobou desde emprego e corte de impostos até o grupo autodenominado Estado Islâmico e o Empire State Building, o arranha-céu mais famoso de Nova York.

O tom adotado por Trump, que credita a seu governo as melhorias observadas na economia, foi, em parte, mais conciliador do que o observado em discursos recentes.

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Em sua fala, Trump pediu aos americanos para deixarem de lado suas diferenças e se unirem diante dos inúmeros desafios que os Estados Unidos enfrentam. Segundo o presidente, nunca houve época melhor para se começar a viver o «sonho americano».

Ele também incitou republicanos e democratas a buscarem um consenso, particularmente no que diz respeito à imigração.

Seus planos nesse sentido, disse o presidente, melhorariam a segurança das fronteiras e também ofereceriam um caminho para a cidadania a aproximadamente dois milhões de imigrantes levados ilegalmente aos Estados Unidos pelos pais, enquanto crianças.

Política externa

Em relação à política externa, as declarações estavam mais próximas do tom usual, incluindo promessas de reorientar o comércio internacional em favor da América.

Trump apelou também por mais verbas para financiar as forças armadas, alertando que um «poder incomparável» é a melhor forma de defender os EUA de uma série de ameaças.

Aproveitou ainda o discurso para atacar o Irã e a Coréia do Norte, que descreveu como um regime imoral, e reconhecer que, apesar de os EUA e seus aliados terem feito grandes progressos contra o grupo terrorista do Estado islâmico na Síria e no Iraque, ainda há muito trabalho pela frente.

O BBC Reality Check checou 7 pontos apresentados por ele e apresenta os resultados a seguir:


1. «Desde a eleição, nós criamos 2,4 milhões de empregos, incluindo 200 mil novas ocupações somente na indústria»

Contabilizando os números de novembro de 2016 em diante (Trump venceu a eleição em 8 de novembro e tomou posse em 20 de janeiro), a economia americana criou 2,37 milhões de empregos.

De acordo com o US Bureau of Labor Statistics, a secretaria de estatísticas trabalhistas do país, apenas em 2017 foram adicionados 196 mil empregos na indústria.

O crescimento dos empregos começou, porém, antes de Trump assumir a presidência. A economia dos Estados Unidos não registra perdas nessa área desde setembro de 2010.

2. «O desemprego entre afro-americanos está no menor nível já registrado, e entre hispano-americanos também alcançou o menor patamar da história»

A secretaria de estatísticas trabalhistas dos Estados Unidos mede o desemprego entre negros desde 1972.

Em dezembro de 2017, essa taxa estava em 6,8% – a mais baixa já registrada. No auge, entre os anos de 1982 e 1983, ela superava 20%.

No caso dos hispânicos, as estatísticas de desemprego são acompanhadas desde 1973, e em 2017 também atingiram o menor patamar: 4,9%.

Contudo, as duas taxas permanecem acima das registradas entre brancos (3,7%) e asiáticos (2,5%).

E, no geral, refletem a queda do desemprego de forma global, que teve início ainda na gestão Barack Obama.

3. «Adotamos o maior corte de impostos e reformas da história americana»

Antes do Natal, o «corporation tax» – imposto sobre faturamento de empresas e entidades legais – foi reduzido de 35% para 21%.

Também houve cortes de alíquotas para pessoa física para todos os grupos de contribuintes. Mas será que esses cortes foram os maiores da história americana?

O site Politifact, de verificação de fatos, afirma que não.

Tomando por base dados do Tesouro Nacional, o site aponta que ao menos três cortes realizados em governos anteriores foram mais expressivos, na comparação em dólar – em 2010 e 2013, no governo Obama, e em 1981, com o presidente Reagan.

Em pontos percentuais do PIB, seis outras mudanças na cobrança de tributos foram estimados com maior impacto.

4. «Desde que aprovamos cortes de impostos, aproximadamente 3 milhões de trabalhadores já obtiveram gratificações em suas empresas – muitas delas de milhares de dólares por trabalhador»

Desde que a redução da «corporation tax» foi anunciada, diversas empresas anunciaram gratificações para suas equipes.

A Disney, por exemplo, anunciou o pagamento de um bônus único de US$ 1.000 (o equivalente a R$ 3.180) para 125 mil funcionários. A Fiat Chrysler Automobiles, por sua vez, disse que 60 mil funcionários receberiam um pagamento extra de US$ 2.000 (R$ 6.360,00).

O grupo Americans for Tax Reform (ATR), que pressiona por impostos mais baixos nos Estados Unidos, monitorou os números.

De acordo com o que o grupo contabilizou, 285 companhias anunciaram aumentos salariais, gratificações ou outras melhorias de benefícios – que atribuem ao corte de impostos. Segundo a ATR, ao menos 3 milhões de trabalhadores serão beneficiados.

É impossível saber como essas empresas teriam agido sem o corte de impostos – e quantas estão dando crédito aos republicanos por algo que já tinham planejado.

5. «Eliminamos mais normas regulatórias no nosso primeiro ano do que qualquer outra gestão»

De acordo com o Escritório de Informações e Regulação do governo americano, a administração Trump suspendeu ou adiou 1.579 normas regulatórias, das quais 635 foram totalmente revogadas.

Um ano atrás, Trump assinou um decreto determinando que para cada norma criada, duas deveriam ser revogadas.

Em dezembro, ele disse que, de fato, 22 haviam sido eliminadas para cada uma das que haviam sido lançadas.

Registros comparáveis só foram registrados em 1995.

Nesse período, o primeiro ano de gestão de George W Bush, foram eliminadas 181 normas. Enquanto isso, Barack Obama eliminou 156, de acordo com informações do Washington Post.

6. «Tenho orgulho de informar que a coalizão para derrotar o Estado Islâmico libertou quase 100% do território que esses assassinos ocupavam no Iraque e na Síria»

Em 1º de janeiro, o tenente-general Paul E Funk II, comandante geral da coalizão, disse que «mais de 98% da área reivindicada pelo grupo terrorista havia retornado ao povo».

Mas, como o próprio Trump admitiu, os Estados Unidos não são o único país lutando contra o grupo autodenominado Estado Islâmico. A página da coalizão na internet (http://theglobalcoalition.org/en/home/) lista 74 parceiros, da Albânia aos Emirados Árabes Unidos.

Também vale destacar que esse grupo já vinha perdendo território antes de Trump assumir a presidência.

A coalizão foi formada em setembro de 2014. Em janeiro do ano passado, o presidente Barack Obama disse que o grupo terrorista havia perdido 40% do território que detinha no Iraque e 10% na Síria.

7. «Construímos o Empire State Building em apenas um ano»

O Empire State Building é um arranha-céu de 102 andares no centro de Manhattan, Nova York, na Quinta Avenida.

De acordo com o website do prédio, a construção original começou em 17 de março de 1930.

E a inauguração oficial foi feita pelo presidente Herbert Hoover em 1º de maio de 1931.

Quatro andares e meio eram adicionados a cada semana – e ao menos cinco trabalhadores, no total, morreram.

Nos últimos anos, o prédio passou por reformas e modernização.

Repercussão

Em resposta ao discurso de Trump, os democratas destacaram falhas cuja responsabilidade afirmam ser do presidente.

O deputado de Massachussetts Joseph Kennedy – que apresentou o posicionamento oficial do partido – disse que, enquanto as ações disparavam e os lucros cresciam, os trabalhadores americanos não estavam recebendo sua parte das recompensas.

Ele disse ainda que o governo dos Estados Unidos estavam recuando em relação a direitos e que haviam ‘declarado guerra’ à proteção ambiental. Acrescentou, ainda, que «o caos do ano passado foi muito maior do que a política partidária convencional e minou a crença dos EUA em igualdade».

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