A Volkswagen apresentou nesta quinta-feira, na fábrica de São Bernardo, o resultado do estudo independente que realizou sobre sua participação na ditadura militar brasileira, entre 1964 e 1985.
A pesquisa, coordenada pelo professor alemão Christopher Kopper, da Universidade de Bielefeld, afirma que a montadora foi leal ao regime e obteve vantagens econômicas com medidas impostas pelos militares.
“Devido ao controle salarial e dos sindicatos pelo governo, os salários ficaram em um nível bem mais baixo do que em uma democracia pluralista com livre negociação salarial e direito à greve. A VW do Brasil e, em última instância também a VW AG, aproveitaram para si a suspensão dos direitos trabalhistas elementares. A VW do Brasil foi irrestritamente leal ao governo militar e compartilhou os seus objetivos econômicos e de política interna”, diz as conclusões do estudo.
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Kopper confirma prisões e torturas dentro da fábrica. “A segurança industrial monitorava as atividades de oposição dos empregados e facilitou com a sua denúncia a prisão de no mínimo sete empregados. (…) Segundo o depoimento do operário Lúcio Bellentani, a segurança industrial não só permitiu a sua prisão, mas a tortura da polícia política já tivera início na fábrica.”
O estudo pondera, porém, que a cooperação com o Deops (Departamento de Ordem Política e Social) entre 1969 a 1979 era realizada pelo chefe do departamento de segurança Ademar Rudge, que já havia trabalhado como oficial das forças armadas e se sentia comprometido com os militares. “Ele agia por iniciativa própria, mas com o conhecimento tácito da diretoria.” O documento isenta a montadora de participação ou financiamento do golpe em 1964.
Comissão da Verdade
O estudo foi encomendado pela montadora após acusações levantadas pela Comissão Nacional da Verdade, em 2014. Em setembro de 2015, um grupo de ex-funcionários ingressou com representação junto ao Ministério Público Federal contra a Volkswagen por ter colaborado com a violação dos direitos humanos na ditadura. Eles pedem reparação dos danos causados.
O IIEP (Intercâmbio, Informações e Estudos e Pesquisas), entidade que apoia as vítimas, divulgou nota assinada por ex-trabalhadores em que critica a montadora. “Reunido, o grupo de trabalhadores atingidos pela repressão da empresa considerou que o evento (divulgação do estudo) é mais uma peça de publicidade da Volkswagen do que efetiva mudança de postura da empresa em relação às graves acusações contra ela.”
Comissão aponta colaboração de 80 empresas
A Volkswagen não é a única empresa acusada de apoiar a ditadura militar no país. Levantamento da Comissão Nacional da Verdade aponta para cerca de 80 delas. No grupo, estão outras grandes montadoras, como Ford, General Motors e Toyota.
A Volkswagen é a primeira a esclarecer suas postura na época. No evento de ontem, onde o estudo foi apresentado, a empresa descerrou uma placa em memória das vítimas do regime militar que ficará na fábrica de São Bernardo. “A Volkswagen tem uma ligação histórica e emocional com o Brasil e os brasileiros. Um compromisso de longo prazo, com 65 anos de atuação no país. Com esta ação, a empresa reafirma seu compromisso com o Brasil e reforça seus valores a favor dos direitos humanos e a responsabilidade social”, afirmou o presidente da Volkswagen no Brasil e América do Sul, Pablo Di Si.
A montadora não falou sobre reparação financeira às vítimas, mas disse estudar “cooperações”. A primeira delas será com o Centro Cultural Afro-Brasileiro Francisco Solano Trindade, de apoio aos direitos das crianças.