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A inesperada derrota republicana no Alabama que pode ser prenúncio de problemas para Trump

Estado que é reduto conservador elegeu um democrata para o Senado, em uma campanha marcada por acusações de abuso sexual e que pode abrir espaço para uma reconfiguração no Congresso.

Uma surpreendente vitória democrata em um dos redutos mais conservadores dos Estados Unidos se tornou um grande revés ao presidente americano Donald Trump – que havia ostensivamente apoiado o candidato republicano derrotado ao Senado, Roy Moore.

Doug Jones venceu por 1,5 ponto percentual a campanha ao Senado pelo Alabama, tornando-se o primeiro democrata eleito senador nesse Estado em 25 anos. Com isso, a maioria republicana na casa cai para um único voto – 51 a 49 -, abrindo a possibilidade de que os democratas retomem o controle do Senado nas eleições legislativas do ano que vem.

Foi, nas palavras do jornal The New York Times, uma "campanha quixotesca" que resultou em uma "vitória jamais imaginada". Segundo o correspondente da BBC Anthony Zurcher, trata-se de "uma das mais improváveis campanhas ao Senado da história moderna" dos EUA.

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Isso porque o Alabama é considerado "o mais vermelho dos Estados vermelhos", em referência às regiões mais conservadoras dos EUA; na eleição presidencial, por exemplo, Trump venceu ali por quase 30 pontos de vantagem sobre a democrata Hillary Clinton.

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A eleição especial ao Senado no Alabama – para preencher um assento deixado vago pela indicação de Jeff Sessions para o cargo de procurador-geral – teve uma campanha agressiva e virou foco de atenção nacional depois que diversas mulheres acusaram o republicano Moore de as terem assediado sexualmente quando eram adolescentes. Tanto que boa parte do próprio Partido Republicano rejeitou apoiá-lo, mesmo ele negando as acusações.

É preciso colocar em perspectiva os efeitos de sua derrota. O que, então, ela significará para Trump e para a política americana? Veja em quatro pontos:

1. Impulso para democratas

Estima-se que 40% dos eleitores do Alabama tenham comparecido às urnas, excedendo as expectativas – sobretudo do lado democrata.

Um eleitor local disse à agência Reuters que muitos republicanos do Alabama votaram pela primeira vez na vida em um democrata por "não terem estômago para aguentar Moore".

Essa tendência já havia sido observada recentemente em outro Estado, a Virgínia, onde o comparecimento democrata foi decisivo para a vitória de Ralph Northam ao cargo de governador – na primeira grande derrota eleitoral dos republicanos desde a eleição de Trump.

O impulso democrata tem sido visto como uma "resistência" ao governo Trump e, pelo menos até agora, esse entusiasmo tem dado resultados eleitorais. O grande teste ocorrerá nas eleições legislativas de novembro do ano que vem, quando os democratas tentarão aproveitar esse impulso para tentar retomar o controle das duas câmaras do Congresso.

2. Dificuldade legislativa para Trump

A maioria no Congresso é vital para Trump conseguir aprovar medidas legislativas – e também para evitar que avancem pedidos para que ele sofra um impeachment.

Além de ter ficado do lado perdedor da disputa no Alabama – fato que será explorado por seus adversários -, Trump terá mais dificuldade no Senado, agora que os republicanos terão apenas dois assentos a mais que os democratas (51 a 49).

E alguns dos próprios republicanos no Senado já teceram duras críticas a Trump. Será tarefa do presidente, agora, atraí-los para seu lado, caso queira que sua pauta avance no Legislativo.

Doug Jones provavelmente só assumirá seu assento na Casa em janeiro, o que significa que os republicanos ainda têm tempo de aprovar uma lei de redução de impostos defendida pelo presidente e votar medidas orçamentárias. Mas, no ano que vem, a agenda conservadora terá mais dificuldade no Senado.

Além disso, muitos analistas veem a eleição no Alabama como um recado ao próprio Trump, que foi "fortemente desaprovado" por 41% dos eleitores que participaram de uma pesquisa de boca de urna feita após a votação do Senado.

3. Dura derrota para um importante assessor

O candidato Roy Moore foi ostensivamente defendido por Steve Bannon, ex-chefe de campanha de Trump e atualmente assessor-sênior do presidente na Casa Branca.

Uma vitória de Moore daria a Bannon mais força política, a despeito do establishment republicano – que desertou a candidatura republicana no Alabama após as acusações de abuso sexual virem à tona.

A improvável derrota de Moore em um Estado tão conservador é, dessa forma, uma grande derrota para Bannon em sua tentativa de angariar uma aliança eleitoral populista-evangélica.

E ele será responsabilizado pela cúpula do partido por ter reduzido a maioria republicana no Senado.

4. ‘Divisor de águas’ na questão sexual?

Mais além das disputas partidárias, é importante lembrar que, na última semana, três parlamentares do Congresso americano – dois democratas e um republicano – abdicaram de seus cargos por conta de acusações de conduta sexual inadequada.

Agora, veio o teste das urnas para um candidato também na berlinda: Roy Moore é acusado de – e nega – ter abusado sexualmente com adolescentes quando ainda era procurador-assistente, no início da vida adulta.

Sua derrota foi por margem pequena, o que talvez signifique que grande parte do eleitorado o absolve das acusações.

Mas, segundo o Washington Post, a eleição no Alabama está sendo vista como "um divisor de águas no movimento nacional ao redor da questão do abuso sexual", agenda que havia inicialmente "recuado no governo Trump" e ganhado força recentemente, com a queda de importantes figuras de Hollywood acusadas de assédio.

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