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Por que a América Latina continua construindo shoppings enquanto os EUA estão abandonando o modelo

Levantamento mostra que o Brasil é o segundo país com mais centros comerciais desse tipo na região, atrás apenas do México.

Existem cerca de 1,9 mil shoppings na América Latina. E tudo indica que haverá cada vez mais.

Na última década, o setor cresceu em média cerca de 5% ao ano, o equivalente a 100 empreendimentos novos anualmente, segundo estudo realizado pela consultoria americana Lizan Retail Advisors. O levantamento inclui centros comerciais alugados com mais de 10 mil m².

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Apesar de o ritmo de crescimento ter desacelerado neste ano, é na América Latina que o setor vem apresentando seu melhor desempenho na última década.

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E, de acordo com o levantamento, o Brasil é o segundo país com mais centros comerciais desse tipo (cerca de 600, segundo o estudo), atrás apenas do México (com cerca de 650).

A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) prevê a inauguração de quase 30 centros comerciais no país até o fim do ano que vem, sendo a maioria fora dos grandes centros metropolitanos – uma tendência do setor no Brasil.

Ainda segundo a Abrasce, o setor faturou R$ 157,9 bilhões em 2016 no país.

As projeções indicam que o México manterá a liderança até pelo menos 2025, quando deve alcançar a marca de 760 shoppings construídos, segundo estimativas do Grupo de Inteligência de Mercado para a América Latina do Conselho Internacional de Centros Comerciais (ICSC, na sigla em inglês).

A expansão da classe média, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita e o aumento dos investimentos estrangeiros estão entre os fatores que influenciam a multiplicação dos shoppings – modelo comercial que, paradoxalmente, está retrocedendo nos Estados Unidos.

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No último ano, calcula-se que tenham sido construídos cerca de 50 shoppings na América Latina – número que, apesar de baixo na comparação com outros anos, não indica uma tendência de queda a longo prazo, segundo estimam analistas de mercado.

«O desenvolvimento de centros comerciais continuará crescendo na América Latina, ainda que a uma taxa menor», diz à BBC Jorge Lizan, diretor-executivo da Lizan Retail Advisors.

«O México definitivamente sai na dianteira, tanto em número de projetos como na sofisticação deles. Colômbia, Peru e Chile são outros países onde essa indústria segue crescendo. No Brasil, o setor não está crescendo neste momento por conta da recessão econômica, mas os empreendedores estão focados em estabilizar e consolidar seus portfólios», explica.

Em relação à Argentina, Lizan acredita que o país «sairá da crise nos próximos dois anos e começará a desenvolver novos projetos de centros comerciais».

Na contramão dos EUA

Segundo o Banco Mundial, a classe média latino-americana cresceu vertiginosamente na última década, o que permitiu maior segurança financeira a milhões de pessoas, assim como mais acesso a crédito, estimulando progressivamente o consumo interno. No Brasil, esse crescimento foi interrompido pela crise dos últimos anos.

«Quando a classe média dos Estados Unidos cresceu, entre 1945 e 2005, isso se refletiu na compra de carros e na construção de shoppings. A versão latino-americana segue um roteiro parecido», afirmou o pesquisador urbanístico Nolan Gary em artigo publicado recentemente no site CityLab.

«Dado que o varejo enfrenta dificuldades nos Estados Unidos ante o aumento do comércio online e o estancamento dos salários desde 2008, as redes de shopping, os empreendedores e investidores americanos têm muitos motivos para buscar oportunidades no sul (do continente)», acrescenta.

Ainda que as compras online também tenham decolado na América Latina, a modalidade cresce em velocidade bem menor do que nos Estados Unidos, e por diferentes razões – em alguns locais, por exemplo, o sistema de entrega não é fácil ou eficiente.

Para Lizan, outra diferença é que existe uma escassez de espaços públicos seguros destinados a lazer e compras na América Latina. Segundo ele, isso faz com que os shoppings sejam uma alternativa – ainda que muita gente torça o nariz para a ideia, uma vez que o lazer no shopping está instrinsicamente ligado ao consumismo.

A ‘morte do shopping’

A questão da «morte dos shoppings» nos Estados Unidos é recorrente na imprensa local. Dezenas de centros comerciais fecharam as portas na última década, e estima-se que um quarto dos 1,1 mil «malls» existentes no país podem ser extintos nos próximos anos.

A estratégia de parte dos empreendimentos locais que se mantêm abertos é ampliar a oferta de experiências aos clientes, em vez de oferecer apenas opções de compras.

E quanto ao resto do mundo? No Oriente Médio e na Ásia, registra-se um crescimento significativo dos shoppings, assim como em alguns países europeus.

«O problema é que nos Estados Unidos houve um boom de construções de shoppings entre as décadas de 1960 e 1990. Foram construídos mais metros quadrados de varejistas do que o necessário», argumenta Lizan.

«Por isso, fala-se hoje de um ajuste, que é agravado pelas vendas online, pela Amazon e pelas mudanças nos hábitos (do consumidor).»

A dúvida, agora, é se os shoppings vão conseguir se adaptar à concorrência online e como a geração atual de milennials responderá às ofertas do mercado.

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