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Bitcoin passa de US$ 13 mil e vira ‘desejo de consumo’

US$ 985 em janeiro, US$ 2,2 mil em maio, US$ 4,7 mil em agosto, US$ 6,9 mil em outubro, US$ 10 mil no fim de novembro, US$ 13 mil nesta quarta-feira, 6 de dezembro. A cotação do bitcoin não para de subir. Quem começou 2017 com US$ 75 mil investidos na principal moeda digital do mundo hoje está milionário.

Essa valorização aparentemente sem fim vem despertando o interesse de pessoas comuns para um ativo ainda complexo e de alto risco e levantando temores de que uma nova bolha possa estar próxima de estourar.

Segundo Rodrigo Batista, CEO da Mercado Bitcoin, espécie de corretora online da moeda digital, cerca de 90% das pessoas que usam a criptodivisa o fazem como investimento. Ou seja, para ganhar dinheiro. E, de fato, a valorização tem sido exponencial. «Esse foi um ano bem movimentado para o bitcoin. Um público maior passou a conhecer e se interessar por ele», diz Batista.

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A moeda quebrou barreiras em 2017. Em maio, o Japão, terceira maior economia do planeta, implantou a primeira lei no mundo que reconhece o bitcoin e as outras divisas digitais como forma de pagamento, levando a criptomoeda para o dia a dia das pessoas comuns. A Austrália também está construindo uma regulação.

Na origem do último pico do bitcoin, está a decisão da CBOE Futures Exchange, principal bolsa de mercados futuros dos Estados Unidos, de negociar contratos ligados à criptomoeda a partir de 10 de dezembro.

Mas a grande notícia para a bitcoin em 2017 foi o «cisma» na comunidade que gira em torno da moeda. A divisa virtual surgiu em 2009, e sua negociação não é intermediada por governos ou instituições financeiras. As transações são sempre feitas de usuário para usuário, e a «emissão» de bitcoin acontece por meio da resolução de problemas matemáticos pelo computador, a «mineração».

A moeda funciona com um sistema chamado «blockchain», cadeia de dados que registra todas as operações virtuais mundo afora. Essas transações são fechadas em blocos a cada 10 minutos e integradas à corrente maior, por meio de um enigma resolvido pelos mineradores.

O tamanho desses blocos é de, no máximo, um megabyte (250 mil transações por dia), cifra estabelecida deliberadamente para evitar a expansão acelerada da cadeia. No entanto, o crescimento no uso da moeda passou a congestionar o sistema com frequência, aumentando o tempo das operações.

A comunidade bitcoin passou a debater para encontrar uma solução que permitisse a expansão da divisa, até que um grupo de insatisfeitos com a limitação copiou um arquivo da blockchain e criou sua própria moeda, a «bitcoin cash», com capacidade de oito megabytes por bloco de dado.

Já os críticos dessa proposta, que permanecerem com o bitcoin original, seguiram outro caminho, ao desenvolver um software para comprimir o tamanho dos arquivos e permitir mais transações sem a necessidade de aumentar o limite operacional.

O cisma acabou impulsionando ainda mais a moeda, atraindo investidores satisfeitos com a solução do impasse sem comprometer a segurança das negociações.

«Quando se fala de bitcoin, é preciso dividi-lo em duas partes: a primeira é o blockchain, uma tremenda tecnologia, muito sólida e com um grande futuro no mercado de TI. No lado da moeda, a coisa é um pouco diferente. Acredito que o bitcoin é muito frágil, na medida em que ninguém sabe direito quem está por trás disso. Fazendo uma analogia, eu não faria um investimento lastreado em títulos emitidos pelo governo da Moldávia», explica o professor Vivaldo José Breternitz, da faculdade de computação e informática da Universidade Mackenzie.

Limite

Mas até onde o bitcoin pode chegar? Apesar de cada vez mais popular, a moeda digital ainda é usada por um pequeno número de pessoas, e seu sucesso futuro dependerá das reações de governos a sua expansão – os Estados podem se mostrar reticentes em abrir mão do monopólio sobre a emissão de divisas e a política monetária.

Recentemente, o vice-diretor do Banco da Itália (banco central do país), Fabio Panetta, alertou que as criptomoedas são «atividades vulneráveis a crises de confiança repentinas» e disse que não gostaria de «estar na pele de quem escreverá as regras» para regulamentar esse mercado. Já o Banco Central do Brasil emitiu uma nota alertando para o risco de se investir em divisas virtuais, uma vez que o setor não é regulado pela instituição.

Para Rodrigo Batista, o ideal é que o Estado se envolva o menos possível. «O Estado vai ter um papel de regulação, mas, se ela for muito rígida, é fácil mudar a empresa digital do Brasil. Pego nossa operação e monto fora em três dias», diz.

Para alguns países em crise e com inflação galopante, a moeda virtual pode até ser vista como solução. É o caso da Venezuela, que decidiu criar sua própria criptodivisa, o «petro», que também funciona no sistema blockchain e servirá para furar os bloqueios econômicos impostos pelos Estados Unidos.

Risco

Para quem está interessado em investir em bitcoins esperando que esse patamar de valorização continue, Breternitz faz um alerta: «É cedo para que pessoas comuns invistam. Tem uma volatilidade enorme, as corretoras que estão operando com bitcoin não são instituições financeiras, não seguem regulação. Pode ser gente muito séria, mas também um risco muito grande».

Segundo ele, há indivíduos «totalmente leigos em finanças confundindo tecnologia com moeda». «As pessoas se entusiasmam, e isso gera bolhas», acrescenta. Esse crescimento do interesse foi visto de perto pela Mercado Bitcoin. A empresa demorou cinco anos para chegar à marca de 100 mil clientes. Em mais 12 meses, atingiu 200 mil; em cinco, 300 mil. Com mais três meses, havia alcançado meio milhão de usuários.

«Não sei se vai ser o bitcoin, mas todo mundo vai usar moeda digital daqui a 10 anos», afirma Batista. Mas ele também alerta que a criptodivisa é um investimento de alto risco. «Tem que ter o mesmo cuidado que se tem ao investir em ações e entender como aquele investimento funciona. A pessoa não pode colocar uma parte relevante de seus ganhos em moedas digitais», diz.

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