Há quase 20 dias, Raposos, na região metropolitana de Belo Horizonte, está sem uma agência bancária. Isso depois que criminosos fortemente armados explodiram os caixas eletrônicos da única unidade da cidade – a quadrilha chegou a trocar tiros com policiais. E os números de ocorrências nos estabelecimentos do Estado assustam: de acordo com dados da Sesp (Secretaria de Estado de Segurança Pública) obtidos pela BandNews FM via Lei de Acesso à Informação, nos seis primeiros meses deste ano foram 954 casos de roubos e furtos a bancos. São pelo menos cinco por dia.
Quem sofre os impactos da onda de violência é a população. Sem banco, o técnico em eletrônica Marcondes Aguiar conta que o comércio local já contabiliza prejuízos. “Está prejudicando todo mundo, já que as pessoas que recebiam na cidade agora vão para outras sacar seu salário. Com isso, o dinheiro fica por lá e as pessoas até estão perdendo emprego por conta dessa situação”, afirmou. A auxiliar administrativa Flaviane Helen Silva disse que antes os moradores eram acostumados a dormir até com as janelas de casa abertas. “Hoje não tem mais segurança. Em menos de seis meses foram duas agências explodidas. Foi um estrondo, todo mundo ficou assustado”. O aposentado Newton Alexandre, que vive em Raposos há quase 50 anos, acredita que o assalto foi promovido por quadrilhas de fora. “Não é morador daqui. A cidade é um lugar tranquilo”, alegou.
O especialista em Segurança Pública e professor da PUC Minas, Luís Flávio Sapori, concorda com Alexandre. “São quadrilhas muito bem estruturadas, com armamento potente e que estão atuando nas pequenas e médias cidades, que contam com efetivos menores de policiais. Além disso, o governo não tomou nenhuma medida concreta para reprimir esse tipo de crime”, explicou.
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E as ocorrências dos últimos meses mostram o cenário em Minas: em dois dias, quatro cidades do interior tiveram agências destruídas por explosivos. Em julho, um policial militar chegou a ser assassinado em Santa Margarida, na Zona da Mata, durante um confronto. Em uma semana, a agência de Dores do Indaiá, no Centro-Oeste, foi atacada por duas vezes. “Neste ano, não tem um Estado no país que esteja enfrentando com tanta intensidade esse tipo de crime. A única maneira de combater as organizações é com investigação bem feita para descobrir os membros e desmontar o esquema. Para isso é fundamental uma integração entre as polícias Militar e Civil e o Ministério Público, não apenas delegados isolados em cada cidade”, defendeu.
A Fenabran (Federação Nacional dos Bancos) informou que o setor investiu R$ 9 bilhões em segurança bancária, o triplo do que era gasto dez anos atrás, e que coopera intensamente com as autoridades. Ainda conforme a entidade, “o dano das explosões força as instituições financeiras a reformar o local e a repor os equipamentos danificados, sem reaproveitamento de peças ou maquinário e essa reforma exige certo tempo”.
Outro lado
Em nota, a Sesp alegou que coordena uma força-tarefa formada por 13 instituições e que tem “forte atuação na área de inteligência, fazendo o mapeamento do modus operandi dos criminosos e a identificação de quadrilhas”. De acordo com a pasta, o foco das ações são as cidades do interior, que concentram os casos. Por fim, a secretaria afirmou que no primeiro semestre deste ano houve uma redução de 34% nos ataques a caixas eletrônicos e de 8% nas ocorrências de roubo.