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Sem anestesistas, Hospital do Paranoá restringe cirurgias

Por falta de anestesistas, o Hospital Regional do Paranoá só realiza cirurgias de emergência e casos mais graves. Outrora referência em procedimentos ortopédicos, por exemplo, a unidade conta com apenas 14 profissionais – metade do quadro necessário, de 28.

Segundo a Secretaria de Saúde, que admitiu o deficit – em toda a rede –, há uma dificuldade para resolver o problema porque “as vagas abertas em concursos, tanto para cargos efetivos quanto para temporários, não são preenchidas”.

Enquanto são priorizados os casos urgentes, as cirurgias eletivas do Paranoá – que, em tese, poderiam esperar – são feitas conforme a gravidade do caso. O governo não informou qual o tamanho da fila de pessoas que esperam pelo atendimento.

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Drama

Nos corredores do hospital, pacientes agonizam à espera de sua vez, como Josefa Silva, de 33 anos, que está no local há nove dias com uma fratura na coluna lombar e o pé quebrado, imobilizada em uma maca.

Josefa sofreu um sequestro-relâmpago na segunda-feira da semana passada, enquanto saía de casa, em Samambaia. Durante a fuga, os sequestradores capotaram o carro. Devido às lesões provocadas pelo acidente, ela foi levada ao Hospital de Taguatinga, e acabou transferida ao Paranoá.

Segundo a irmã de Josefa, Fabiana Silva, os médicos apenas repetem que não podem realizar o procedimento porque o caso não é o mais grave. “Como o caso dela não é grave? Ela está em cima de uma maca, sem conseguir se mover, está se alimentando por sonda, já está ficando com escaras”, revolta-se.

A família de Josefa recorreu à Defensoria Pública do DF para tentar obter o atendimento. A mulher está desempregada, tem um filho de 4 anos e o marido largou o emprego para acompanhá-la no hospital.

“Nós somos do Ceará, não temos nem família aqui. Ela está sentindo muita dor, nos últimos dias os remédios não faziam mais efeito e tiveram que dar morfina”, angustia-se Fabiana.

Em nota, a Secretaria esclareceu que Josefa é a “12ª paciente à espera pelo procedimento”.

Pedido de interdição

O Sindicato dos Médicos do DF acompanha a situação do Hospital do Paranoá desde o começo do ano. Um pedido de ‘interdição ética’, por falta de condições de atendimento, foi feito ao CRM (Conselho Regional de Medicina), que deve decidir sobre o assunto nas próximas semanas.

“Não é só a questão dos anestesistas. Falta material, falta antibiótico, os pacientes ficam jogados no corredor. É um retrato do que ocorre também nas outras unidades”, lamenta o presidente do sindicato, Gutemberg Fialho.

Conforme explica Fialho,  a unidade do Paranoá foi criada para ser referência em cirurgias de coluna e ortopedia. “O serviço de cirurgia de coluna foi transferido do Hospital de Base para lá. Estão destruindo o serviço em vez de melhorar. Lembrando que, no caso de uma lesão de coluna, se o paciente não for operado corre o risco de ter graves sequelas e perder os movimentos”, alerta.

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