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Billings tem melhora na água, mas sofre com assoreamento

Jorge Araújo/Folhapress

A “caixa d’água” do ABC comemora melhora nos índices de poluição, mas acende alerta para o crescimento do assoreamento de suas margens e fundo.

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A análise é dos pesquisadores do projeto Expedição Manancial: Billings, que apresentaram ontem os resultados da navegação realizada entre março e maio.

Este é o terceiro ano de coleta de material na represa. A ação conta com o velejador Dan Robson no comando da embarcação e captação de material e a bióloga da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Marta Marcondes nas análises.

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Foram examinadas amostras de água de 162 pontos na Billings. A quantidade de análises consideradas boas teve aumento nos últimos três anos, passando de 23 em 2015 para 53 em 2017. O resultado positivo representa atualmente 32,7% das amostras. Apesar da melhora, a professora da USCS alerta para condição ainda preocupante. A qualidade da represa foi considerada ruim ou péssima em 35,4% dos casos.

A Billings é responsável pela água que chega às casas de cerca de 1,2 milhão de pessoas. A captação é realizada pela Sabesp no braço Rio Grande, próximo à barragem na via Anchieta, trecho que tem água considerada boa.

Marta afirma que a melhora na qualidade pode estar vinculada à ampliação das obras de tratamento de esgoto em cidades próximas. “Tivemos uma leve melhora, mas muito aquém do que a gente precisa do reservatório. Acho que mesmo sendo tímido, o avanço está legal. Novos equipamentos de saneamento em Diadema e São Bernardo ajudaram a reduzir a quantidade de esgoto sem tratamento lançado nas águas.”

A professora diz que foram verificados dados preocupantes quanto ao assoreamento nas margens e no fundo da Billings. “Acreditamos que, com o desmatamento das margens, a chuva arrasta muito mais material para os fundos”, afirmou.

Marta diz também que a transposição da Billings para o Alto Tietê, inaugurada no fim de 2015, contribuiu para assoreamento nas margens da represa no trecho de Ribeirão Pires. “O duto que passa pela Billings criou uma barreira para a passagem de algas. Com o fluxo interrompido, elas acabam morrendo e se sedimentando nas margens.” A obra fez parte das medidas apresentadas pelo governo do Estado para mitigar problemas causados no abastecimento pela seca durante a crise hídrica.

A Sabesp, responsável pela transposição, afirma monitorar o local e não ter observado alterações.

População será monitorada

Além de monitorar a qualidade das águas da Billings, o projeto Expedição Mananciais vai acompanhar também a saúde dos moradores que vivem às margens da represa.

A nova etapa dos trabalhos começa em agosto e envolverá 2 mil pessoas, que passarão por exames de sangue e urina. O objetivo é acompanhá-las pelos próximos 10 anos aos menos uma vez por mês e verificar se a poluição na Billings interfere na saúde delas.

Pré-análises realizadas utilizando entrevistas com 200 moradores em 2015 e 2016 indicam que 40% possuem problemas gastrointestinais e 60%, de pele.

A bióloga da USCS e coordenadora do projeto, Marta Marcondes, afirma, porém, que ainda não é possível associar as doenças à represa. “Precisamos de um período longo de acompanhamento para termos evidências científicas.”

Por enquanto, o monitoramento, que terá apoio da disciplina de medicina da USCS e da Secretaria de Saúde de São Bernardo, ficará restrito à cidade.

“Mas há interesse de outros municípios em adotar o modelo. Aldeias indígenas também nos procuraram”, disse Marta. 

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